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Gilberto Dimenstein
gdimen@uol.com.br
  6 de fevereiro de 2001
  As lições da BMW, de Ronaldinho,
e da fortuna, de Jader Barbalho
 
Quando ainda registrava queixa de roubo de sua BMW, domingo à noite, no Rio, o atacante Ronaldinho recebeu a notícia de que o automóvel fora localizado e rapidamente lhe seria entregue.

A inusitada rapidez se deve à notoriedade da vítima, reconhecida pelos assaltantes. "Eles sentiram uma sensação de espanto e surpresa, mas não iam perder a viagem e aí me roubaram", contou o jogador.

De posse da BMW, equipada com sistema de localização por satélite, eles avaliaram, corretamente, que tinham feito um mau negócio. A polícia iria tentar transformar esse roubo num show para provar eficiência, acompanhado pela mídia.

A BMW, de Ronaldinho, ilustra por que a criminalidade é tão alta no Brasil: os criminosos sentem-se estimulados porque apostam na impunidade.

Quando dirigiam o automóvel de Ronaldinho, os marginais fizeram cálculos e avaliaram a relação custo-benefício daquele "investimento". Viram que era uma fria e trataram logo de sair de fininho.

Pode-se explicar a delinqüência pela combinação de miséria, desemprego, baixa escolaridade, desestrutura familiar, e assim por diante. Sem mexer nessas causas, certamente pouco se conseguirá para pacificar a sociedade.

Existem, porém, sociedades pobres _ muitas pobres que a brasileira_ sem índices tão agudos de criminalidade. Uma das explicações está justamente naquela conta feita pelos assaltantes de Ronaldinho.

Os dados sistematizados na mais recente edição da revista Veja são eloqüentes: de cada 100 crimes violentos registrados nas delegacias, um único criminoso vai cumprir pena atrás das grades.

Se os crimes violentos, os mais graves, geram tanta impunidade, imagine então os atentados contra o patrimônio, transformados quase num investimento de risco calculado.

Mesmo que tivéssemos, por um passe de mágica, a polícia mais eficiente do planeta, não haveria onde trancafiar os criminosos. Nem sistema Judiciário para administrar tantos processos.

A lógica da impunidade é, em essência, a lógica nacional. Difícil entender como educar os brasileiros para o respeito às leis se não se prendem delinqüentes, e os mais altos escalões do poder não transmitem uma mensagem clara, direta, contra as mazelas.

É o caso notável da articulação para colocar na Presidência do Senado Jader Barbalho, alguém que não conseguiu explicar como ganhou tanto dinheiro em tão pouco tempo, apesar de se dedicar quase que exclusivamente à vida pública.

A anormalidade da BMW, de Ronaldinho, e a normalidade da candidatura de Barbalho são a consequência de uma sociedade que não aprendeu ainda a ver como normal a obediências às regras da cidadania.


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