Quando
ainda registrava queixa de roubo de sua BMW, domingo à
noite, no Rio, o atacante Ronaldinho recebeu a notícia
de que o automóvel fora localizado e rapidamente lhe
seria entregue.
A
inusitada rapidez se deve à notoriedade da vítima,
reconhecida pelos assaltantes. "Eles sentiram uma sensação
de espanto e surpresa, mas não iam perder a viagem
e aí me roubaram", contou o jogador.
De
posse da BMW, equipada com sistema de localização
por satélite, eles avaliaram, corretamente, que tinham
feito um mau negócio. A polícia iria tentar
transformar esse roubo num show para provar eficiência,
acompanhado pela mídia.
A
BMW, de Ronaldinho, ilustra por que a criminalidade é
tão alta no Brasil: os criminosos sentem-se estimulados
porque apostam na impunidade.
Quando
dirigiam o automóvel de Ronaldinho, os marginais
fizeram cálculos e avaliaram a relação
custo-benefício daquele "investimento".
Viram que era uma fria e trataram logo de sair de fininho.
Pode-se
explicar a delinqüência pela combinação
de miséria, desemprego, baixa escolaridade, desestrutura
familiar, e assim por diante. Sem mexer nessas causas, certamente
pouco se conseguirá para pacificar a sociedade.
Existem,
porém, sociedades pobres _ muitas pobres que a brasileira_
sem índices tão agudos de criminalidade. Uma
das explicações está justamente naquela
conta feita pelos assaltantes de Ronaldinho.
Os
dados sistematizados na mais recente edição
da revista Veja são eloqüentes: de cada 100
crimes violentos registrados nas delegacias, um único
criminoso vai cumprir pena atrás das grades.
Se
os crimes violentos, os mais graves, geram tanta impunidade,
imagine então os atentados contra o patrimônio,
transformados quase num investimento de risco calculado.
Mesmo
que tivéssemos, por um passe de mágica, a
polícia mais eficiente do planeta, não haveria
onde trancafiar os criminosos. Nem sistema Judiciário
para administrar tantos processos.
A
lógica da impunidade é, em essência,
a lógica nacional. Difícil entender como educar
os brasileiros para o respeito às leis se não
se prendem delinqüentes, e os mais altos escalões
do poder não transmitem uma mensagem clara, direta,
contra as mazelas.
É
o caso notável da articulação para
colocar na Presidência do Senado Jader Barbalho, alguém
que não conseguiu explicar como ganhou tanto dinheiro
em tão pouco tempo, apesar de se dedicar quase que
exclusivamente à vida pública.
A
anormalidade da BMW, de Ronaldinho, e a normalidade da candidatura
de Barbalho são a consequência de uma sociedade
que não aprendeu ainda a ver como normal a obediências
às regras da cidadania.
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