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Se
vamos aceitar o esporte como a versão moderna da guerra entre países,
há que se lamentar o pífio desempenho brasileiro nessas últimas Olimpíadas
e tentar entendê-lo.
Pode-se dizer que o Brasil foi mal porque é um país pobre, sem dinheiro
para a prática do esporte de ponta. Há aí um pouco de verdade, já
que, grosso modo, os quadros de medalhas das Olimpíadas costumam refletir
a ordem de riqueza dos países no cenário internacional.
Mas a simplificação também gera problemas: somos uma das dez maiores
economias do mundo, mas terminamos em 52o lugar no quadro de medalhas.
E, ao mesmo tempo, países miserentos, tanto em termos relativos (riqueza
per capita) quanto absolutos, foram muito melhores que nós (Etiópia
e suas quatro medalhas de ouro, Irã em 26a posição, etc.)
Pode-se então recorrer ao imponderável e dizer que faltou sorte, mistificação
que qualquer estudante de Estatística levaria menos de cinco minutos
para derrubar, ou que, sei lá, o mau resultado olímpico foi punição
divina por termos colocado Maluf no segundo turno (ou vice-versa ?),
um argumento não muito útil para quem quer fazer melhor na próxima.
Restou para mim a conclusão de que perdemos, e perdemos feio, porque
o Brasil não tem uma mente de vitorioso. Tem uma filosofia derrotista.
E os derrotistas, tanto nas Olimpíadas como na vida, não raro acabam
perdendo, no que alguém em Psicologia já rotulou com o bonito "self-fulfilling
prophecy".
Sempre que um brasileiro passa a uma final, não se comemora a possibilidade
do ouro, mas a garantia da prata. Quando um brasileiro é favorito,
a mídia se esforça em dizer como será difícil a conquista, como são
melhores treinados os opositores, etc. E o próprio atleta, cioso da
recepção que manifestações de vitória garantida terão por parte do
público, se coloca quase como um turista, alguém que foi a Sidney
observar as coxas dos atletas nortistas.
Basta contrastar essa atitude com o posicionamento de, por exemplo,
americanos, para notar a diferença. Tão certos estão estes de sua
superioridade que convencem os próprios competidores de sua impossibilidade
de bate-los. Caso emblemático é o da velocista Marion Jones, que chegou
a Austrália anunciando que estava ali para ganhar cinco medalhas de
ouro. Arrogante ? Talvez. Eficaz ? Sem dúvida. Marion fazia ali aquilo
que alguém já havia pregado há muito tempo: "O homem prudente é como
o bom arqueiro.
Sempre mira um pouco acima do alvo".
No dia em que atletas brasileiros forem capazes desse espírito, dessa
empáfia, dessa certeza de vitória; quando abandonarmos esse receio
de sermos melhores, quando tivermos conforto em bater superpotências,
aí levaremos para as Olimpíadas malas para carregar medalhas, e não
os motivadores, neurolinguistas e auto-ajudantes da vida.
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1º/10/2000 - Pra inglês ver |