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Depois
de sete anos de processo de paz no Oriente Médio, é
isso que resultou ? Chacinas, linchamentos, bombardeios, apedrejamentos,
pedradas, mortes de dezenas de civis ? É difícil entender
como um processo de paz pôde desaguar em algo tão próximo
da guerra, mas trata-se de exercício interessante.
Diria
que dessa vez a culpa foi dos dois lados. De Israel porque, em primeiro
plano, reagiu com demasiada força física a uma manifestação
que, afinal, não foi muito diferente da Intifada de 1987-93.
Um exército desse gabarito já deveria ter aprendido
a lidar melhor com multidões de jovens atirando pedra.
E, num plano mais profundo, por ter achado que dava pra levar em banho-maria,
por tempo indeterminado, o que na verdade era uma panela de pressão
pronta pra explodir. Israel acostumou-se a ver o declínio continuado
da OLP e, depois, AP, e não abandonou o método de esperar
o desespero alheio para conseguir mais imposições nas
mesas de negociação.
Falharam
também os palestinos aliás, Arafat, já
que ainda não se pode dar o vestal do institucionalismo a um
incipiente Estado que, por enquanto, é show de um homem só
porque, em primeiro plano, deixou a violência continuar
por lhe trazer ganhos políticos. Depois de estar, pela primeira
vez desde 1993, no papel de bandido ao não aceitar as propostas
de Barak em Camp David, essa exposição continuada na
mídia voltou a fazer de Arafat o defensor de um povo oprimido,
assassinado ao jogar pedras no inimigo invasor.
Há que se lembrar que Arafat construiu a sua vida como terrorista,
fazendo a todo o momento cálculos de que ganho político
gerariam as mortes de civis (no caso, judeus).
Hoje, mudou de lado, mas não parece ter se livrado do calculismo
frio que entende que as imagens de uma criança de doze anos
sendo morta frente às câmeras de TV do mundo valem mais
do que muitas súplicas e viagens.
E falhou Arafat num plano mais profundo ao não conseguir firmar
a paz, mesmo tendo recebido uma proposta relativamente generosa de
Barak em Camp David, porque acabou virando vítima de sua própria
retórica e agora dificilmente conseguirá fundar um Estado
Palestino com capital em lugar que não seja Jerusalém
sem receber de sua população tratamento semelhante ao
dispensado aos pobres reservistas que perderam o rumo e depois todo
o resto ao entrar em Ramallah.
E então,
como ficamos ? Acabou-se o processo de paz ? Não acho. Ainda
que tentar prever os destinos do Oriente Médio seja tarefa
inglória, parece que, não havendo nenhum incidente sério
no domingo, se realizará a reunião de cúpula
da segunda, e de lá sairá, senão um acordo, pelo
menos um sinal a ambas as partes que chegou a hora de voltar a negociar.
O caminho da liberdade, como dizia Mandela, é irreversível. O Estado Palestino virá. Resta saber como e quando. Essas escaramuças
acabam apressando o processo, por convencer a todas as partes de que
se precisa de uma solução. O problema é que a
animosidade gerada nesses banhos de sangue geram uma paz de separação,
não de convivência. Ruim para palestinos, que precisarão
por ainda muito tempo de Israel para sobrevier economicamente, e ruim
para Israel, que não dará segurança a sua população
enquanto tiver um vizinho desesperado e belicoso às suas portas.
Como
já se sabia, o caminho da paz é difícil. Guerra
é que é fácil. Guerra, até o Ariel Sharon
consegue.
*
* *
Uma
das áreas interessantes desse conflito em eras internáuticas
é de observar a tendenciosidade da imprensa. Dentro de Israel,
vale a pena conferir a diferença entre o esquerdista Haaretz
e o direitista Jerusalem
Post . Na mídia internacional, as nuances são
mais suaves, mas mesmo assim há um belo contraste entre a
moderação pró-Israelense de uma CNN
e os ingleses do Guardian
, sempre favorecendo o lado mais fraco. Isso sem falar da mídia
árabe, não muito livre.
Coisa
boa pra quem acredita nesse conto da carochinha de jornalistas isentos
e imparciais.
Leia colunas anteriores
1º/10/2000 - Pra inglês ver
08/10/2000 - Aos
derrotistas... Oh! O Fracasso |