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Gustavo Ioschpe
desembucha@uol.com.br"
  15 de outubro
A culpa é de quem ?
 
   
Depois de sete anos de processo de paz no Oriente Médio, é isso que resultou ? Chacinas, linchamentos, bombardeios, apedrejamentos, pedradas, mortes de dezenas de civis ? É difícil entender como um processo de paz pôde desaguar em algo tão próximo da guerra, mas trata-se de exercício interessante.

Diria que dessa vez a culpa foi dos dois lados. De Israel porque, em primeiro plano, reagiu com demasiada força física a uma manifestação que, afinal, não foi muito diferente da Intifada de 1987-93. Um exército desse gabarito já deveria ter aprendido a lidar melhor com multidões de jovens atirando pedra.

E, num plano mais profundo, por ter achado que dava pra levar em banho-maria, por tempo indeterminado, o que na verdade era uma panela de pressão pronta pra explodir. Israel acostumou-se a ver o declínio continuado da OLP e, depois, AP, e não abandonou o método de esperar o desespero alheio para conseguir mais imposições nas mesas de negociação.

Falharam também os palestinos – aliás, Arafat, já que ainda não se pode dar o vestal do institucionalismo a um incipiente Estado que, por enquanto, é show de um homem só – porque, em primeiro plano, deixou a violência continuar por lhe trazer ganhos políticos. Depois de estar, pela primeira vez desde 1993, no papel de bandido ao não aceitar as propostas de Barak em Camp David, essa exposição continuada na mídia voltou a fazer de Arafat o defensor de um povo oprimido, assassinado ao jogar pedras no inimigo invasor.

Há que se lembrar que Arafat construiu a sua vida como terrorista, fazendo a todo o momento cálculos de que ganho político gerariam as mortes de civis (no caso, judeus).

Hoje, mudou de lado, mas não parece ter se livrado do calculismo frio que entende que as imagens de uma criança de doze anos sendo morta frente às câmeras de TV do mundo valem mais do que muitas súplicas e viagens.

E falhou Arafat num plano mais profundo ao não conseguir firmar a paz, mesmo tendo recebido uma proposta relativamente generosa de Barak em Camp David, porque acabou virando vítima de sua própria retórica e agora dificilmente conseguirá fundar um Estado Palestino com capital em lugar que não seja Jerusalém sem receber de sua população tratamento semelhante ao dispensado aos pobres reservistas que perderam o rumo e depois todo o resto ao entrar em Ramallah.


E então, como ficamos ? Acabou-se o processo de paz ? Não acho. Ainda que tentar prever os destinos do Oriente Médio seja tarefa inglória, parece que, não havendo nenhum incidente sério no domingo, se realizará a reunião de cúpula da segunda, e de lá sairá, senão um acordo, pelo menos um sinal a ambas as partes que chegou a hora de voltar a negociar.

O caminho da liberdade, como dizia Mandela, é irreversível. O Estado Palestino virá. Resta saber como e quando. Essas escaramuças acabam apressando o processo, por convencer a todas as partes de que se precisa de uma solução. O problema é que a animosidade gerada nesses banhos de sangue geram uma paz de separação, não de convivência. Ruim para palestinos, que precisarão por ainda muito tempo de Israel para sobrevier economicamente, e ruim para Israel, que não dará segurança a sua população enquanto tiver um vizinho desesperado e belicoso às suas portas.

Como já se sabia, o caminho da paz é difícil. Guerra é que é fácil. Guerra, até o Ariel Sharon consegue.

* * *

Uma das áreas interessantes desse conflito em eras internáuticas é de observar a tendenciosidade da imprensa. Dentro de Israel, vale a pena conferir a diferença entre o esquerdista Haaretz e o direitista Jerusalem Post . Na mídia internacional, as nuances são mais suaves, mas mesmo assim há um belo contraste entre a moderação pró-Israelense de uma CNN e os ingleses do Guardian , sempre favorecendo o lado mais fraco. Isso sem falar da mídia árabe, não muito livre.

Coisa boa pra quem acredita nesse conto da carochinha de jornalistas isentos e imparciais.

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1º/10/2000 - Pra inglês ver
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Aos derrotistas... Oh! O Fracasso

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