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Luiz Caversan
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  20 de janeiro de 2001
 

Carlinhos Brown, o mico
e a globalização

 

Uma prova triste de que respeito não se ganha no grito

O percussionista baiano Carlinhos Brown é um excelente músico e um péssimo artista.

Que é um grande músico ele já provou em diversas oportunidades: shows aqui e no exterior, dois discos solos, vários outros com sua Timbalada, que anima e enlouquece o Carnaval da Bahia.

Que é um artista equivocado demostrou em sua participação no Rock in Rio.

Afinal, o artista, além de ir aonde o povo está, como diz a letra do não por acaso mineiro Milton Nascimento, ele também deve conseguir se comunicar com seus interlocutores, transmitir sua mensagem, seja ela qual for, ser aceito ou não, mas necessariamente ouvido, apreciado.

Brown não conseguiu nada disso em seu show e pagou o mico: foi vaiado, agredido e provocou a ira da platéia com um discurso moralista e careta, coisa de pai antigo para filho rebelde. Confundiu empatia com nacionalismo (cantou trechos do Hino Nacional enquanto era vaiado, como se ele fosse o único brasileiro ali, e o resto, um bando de zumbis dominados pelo imperialismo) e se deu mal.

Brown pisou na bola não apenas no palco. Falou besteira depois de sua tentativa de show. Disse que aquilo não aconteceria na Bahia e que aquela garotada não quis ouvi-lo porque era mal-educada, "criada com toddy". Uma mentira e um grande preconceito.

A mentira: quando lançou seu primeiro disco, anos atrás, em um show ao ar livre em Salvador, Carlinhos Brown cantou sob vaias e protestos porque o povão não queria saber de canções "cabeça", como são algumas do CD "Alfagamabetizado". Eu vi e ouvi: os baianos, muito na deles, exigiam a animação da Timbalada, seus tambores, seu Carnaval. Brown, muito convenientemente, esqueceu isso.

O preconceito: creditar a não aceitação de seu trabalho à condição social dos ouvintes é uma vergonha para um artista negro e de origem humilde.

Comportou-se como os racistas e/ou preconceituosos que torcem o nariz para seu trabalho e sua figura original.

Justo ele, que poderia ser um símbolo da capacidade da cultura autóctone, original, criativa e universal se impor diante da hegemonia da globalização. Aliás, Brown deu um ótimo exemplo negativo. Mostrou que não se impõe nada no grito, ao contrário do que pensam alguns detratores do processo inevitável de globalização, aqueles que acham que tudo que é original e autêntico vai desaparecer, pisoteado pela inexorável marcha das culturas dominantes.

Mesmo que isso fosse possível, a melhor maneira de se contrapor a essa força seria ocupando adequadamente todos os espaços que pudessem servir a uma causa preservacionista e que garantam o respeito das culturas predominantes (norte-americana, européia e branca) ao que se produz na periferia do mundo. Como? Fazendo parte da globalização, utilizando seus meios e instrumentos, jogando, ainda que em desvantagem, o jogo político que está em curso e do qual não se pode escapar, principalmente quando se pensa em arte e cultura. Cantar, tocar e conquistar a platéia do Rock in Rio, por exemplo, teria sido uma excelente demonstração de força cultural.

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