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21 de setembro
Instabilidade no Peru é mais um alerta para a América Latina
 
   
 

Depois de acabar com a hiperinflação (7.500% ao ano), derrotar com estardalhaço grupos terroristas e adotar com afinco as chamadas reformas liberais, o até então invencível Alberto Fujimori capotou no final de semana. O presidente peruano foi enredado nas disputas internas do poder em Lima.

A crise política foi detonada a partir de uma denúncia de compra de votos. Vladimiro Montesinos, o pivô do escândalo, é apontado como ex-agente da CIA e acusado de tramar um golpe de Estado nos anos 70. Naquela época, o Peru era governado por militares de inclinação nacionalista e estatizante.

Expulso do Exército, Montesinos ressuscitou com Fujimori e comandava o SNI local. Nos últimos tempos, o governo dos Estados Unidos o acusava de estar envolvido com o narcotráfico e o comércio ilegal de armas.

A participação norte-americana nessa crise não está clara. As eleições de maio, crivadas de denúncias de fraudes, foram consideradas inválidas por Clinton, que acabou acatando o resultado que deu o terceiro mandato a Fujimori. Depois da Colômbia, o Peru é o país na América do Sul que mais recebe ajuda direta de Washington (US$ 128 milhões).

O fato é que os EUA abandonaram o presidente peruano que tão bem aplicou a doutrina do Consenso de Washington ao Sul do Equador. Sem perder seu jeito populista, Fujimori promoveu uma forte privatização, abriu mercados e recebeu elogios nas rodas em Wall Street mesmo depois do golpe de 92.

Seus trunfos principais eram a derrubada da inflação e o desmantelamento dos grupos terroristas. Após dez anos, esse discurso perdeu força também entre os peruanos.

Não que os indicadores econômicos nacionais estejam em frangalhos. Eles são, apenas, medíocres. O país segue crescendo lentamente (perto de 4% no ano passado), e o déficit nas contas externas é de 2,7% do PIB (dado de 99) _menor do que o do Brasil (3,5%).

Acontece que lá, como em muitos outros países latino-americanos, a população é que não vai bem. O desemprego oficial continua alto (perto dos 8%, próximo da percentagem no Brasil) e 60% dos peruanos vivem de subemprego nas cidades.

A política assistencialista (distribuição de leite e lotes) dá sinas de esgotamento e foi incapaz de modificar o quadro estrutural de pobreza. Sem o apoio vital dos Estados Unidos e envolvido nas conspirações entre militares e arapongas, Fujimori aparece ora como vítima de um golpe, ora armando o seu próprio bote.

O Peru é um país pequeno se comparado ao Brasil. Seu PIB está em torno de US$ 100 bilhões _cifra equivalente ao que os EUA, por exemplo, gastaram para enfrentar o bug do milênio. Para muitos brasileiros, o vizinho é visto assim, como um bug, algo menor.

Afinal, fomos educados a prestar atenção apenas nos países ricos do Norte. Nossa relação com os herdeiros dos incas só ocorreu para valer durante a escravidão, quando traficávamos prata e africanos. Agora talvez seja a hora de aprendermos também com as experiências do lado de cá.

Choque liberal, denúncias de corrupção, crescimento pífio, desemprego, pobreza. Temos mais em comum com o Peru do que um remoto passado indígena.


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