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  2 de agosto
  Pistolas sexuais e corações despedaçados
 
Embora minha vida seja movida a música (entre outras coisas), nunca tive a pretensão e disposição de aprender a tocar qualquer instrumento. Para o bem e para o mal, admiro quem tenha tal vocação.
Só há uma ocasião em que me arrependo de fugir de aulas iniciais de violão para jogar futebol. É quando escuto uma bela canção cover.
Se resolvesse aprender a tocar guitarra, por exemplo, seria para me trancar no quarto e (tentar) pagar tributo às minhas canções e bandas favoritas. Poderia passar horas, dias fazendo isso.
Toda essa balela retrospectiva é para chegar ao seguinte: a gravadora Virgin está editando no Brasil a trilha sonora "The Filth and the Fury", o documentário sobre a revolução punk chamada Sex Pistols.
O filme, retrato sensacional de quando três acordes (mal-)tocados por moleques jogaram um mundo de teclados e guitarras virtuosas para dentro do museu, vem ao Brasil em outubro para concorridíssimas seções na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, com a possibilidade de semanas antes ser o destaque do Festival do Rio.
Na trilha do filme, além de ter os Sex Pistols de sempre (o que já vale o disco) e um monte de grupos punk bacanas do movimento (The Who, Roxy Music, New York Dolls, Bowie), o disco escala três das melhores covers de todos os tempos.
Uma é da seminal banda underground bostoniana Modern Lovers, dos anos 70. O nome da música é "Road Runner". Johnny Rotten esquece a letra, pára tudo...
Outra versão impagável é a de "No Fun", hino demolidor dos lendários Stooges. Perto do possuído Rotten, Iggy Pop parece comportado o suficiente para acompanhar o Capital Inicial em shows acústicos.
E, por fim, "Substitute", da banda britânica explosiva The Who.
Todas as três canções vão estar tocando sem parar na rádio desta coluna (playlist completo abaixo). E (oba, oba) a promoção da semana vai dar CINCO cópias da trilha dupla "The Filth and The Fury" (detalhes abaixo).

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Então

Quando eu falo que me arrependo de não saber tocar nada, é nessas horas em que ouço covers do tipo dessas dos Pistols, feitas com vontade, amor, para se divertir, para "pagar um pau para bandas prediletas".
Enquanto isso, ouvimos sem parar nas rádios e na MTV as mercadológicas e oportunistas como "Pelados em Santos", com Titãs, Rita Lee jogando seu passado fora com "Erva Venenosa", das Frenéticas, e o Barão Vermelho fazendo covers bem pioradas deles mesmos. Sem falar em "Rádio Pirata"...

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Amor (ou a falta de)

Alguém viu a capa do "Folhateen" de segunda passada, a do tema "Por que as rádios nacionais são tão ruins", baseado em pesquisa?
Pois é. Perca a esperança de ouvir, via FM, pérolas pop contemporâneas como "I Don’t Want to Get Over You", da banda Magnetic Fields, na verdade um projeto tocado pelo multiinstrumentista, produtor e compositor Stephin Merritt.
Merrit lançou recentemente, sob o nome da Magnetic Fields, o álbum "69 Love Songs", volume 1 (serão três), só com canções de amor, como o nome já entrega.
Está alocada na sexta faixa a mais devastadora canção dor-de-cotovelo deste final do século, "I Don’t Want to Get Over You", que em um inglês aproximado indica que um sujeito se recusa a esquecer seu amor logo após um fora histórico e dolorido.
Segue a letra, para quem arranha no inglês. O som? Está na rádio da coluna, depois das covers.
Atenção: letra e música NÃO recomendadas para quem vive situação parecida com a da canção.

I don’t want to get over you
I guess I could take a sleeping pill
and sleep at will
and not have to go through
what I go through
I guess I should take Prosac, right,
and just smile all night
at somebody new
somebody not too bright
but sweet and kind
who would try to get you off my mind
I could leave this agony behind
which is just what’s I’d do
if I wanted to
but I dont want to get over you
cause I dont want to get over love
I could listen to my therapist
pretend you don’t exist
and not have to dream of
what I dream of
I could listen to all my friends
and go out again
and pretend its enough
or I could make a career of being blue
I could dress in black and read Camus
smoke clove cigarettes and drink vermouth
like I was 17
that would be a scream
but I dont want to get over you

Comentários?!

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Napster

Ia falar sobre o Napster nesta coluna, mas como o carinha de 19 anos, dono da cooperativa de MP3, anda dando surra atrás de surra nos executivos da indústria musica, vou deixar para lá.

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Fala aí

Inaugurando a seção que abre espaço a e-mails bacanas...

justificativa para os imperdíveis shows perdidos.

"Fala, Lúcio
Os shows que eu perdi:
- Cure (87) - minha mãe não deixou porque show é coisa de maconheiro (Eu tinha 12 anos)
- Echo (87) - mesmo motivo anterior (não entendi como ela me deixou ver o New Order no ano seguinte...)
- Hollywood Rock (93) - Nirvana, Chili Peppers, L7 - Viajei na terça, o festival começou na sexta"
Dagoberto Romero Donato, São Paulo (acho)

cover é legal

"Aqui é o Eduardo Palandi, ouvindo uma cover estranhíssima que o Radiohead fez de ‘Nobody Does It Better’, aquela música do espião que me amava... Se você achá-la para colocar na rádio, coloque sem susto. Me amarrei demais. Até me disseram que o Travis tinha feito uma versão pra essa mesma música, mas eu não achei no Napster. Acho que ultimamente o que eu mais tenho
ouvido são essas versões, como a do mesmo Travis pra ‘Baby One More Time’ (rapaz, eu decorei a letra de tanto rir dessa versão da Britney Spears), a do Manic Street Preachers pra ‘Can’t Take My Eyes Off You’ (acho que é isso) e o Oasis tocando ‘Helter Skelter’..."
Eduardo Palandi, São Paulo (acho)

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RESULTADOS DA PROMOÇÃO

Veja a relação dos shows perdidos mais doídos da história nacional recente

Hollywood Rock 1993 em geral (Nirvana, Red Hot Chili Peppers, Alice in Chains, L7...) 42 votos
A trinca Echo/Cure/Siouxsie & the Banshees (86/87) 20
Kraftwerk/Massive Attack (Free Jazz 98) 14
New Order (89) 12
Atari Teenage Riot (98), Jesus & Mary Chain (90) 10
Ramones (87) 9
Man or Astro-Man? (00), Morrissey (00), Oasis (98) 5
Beastie Boys (95)
4

OS GANHADORES

Otávio Cooki Suinaga
(Jesus and Mary Chain - não tinha idade para ir; Nirvana - falta de grana; Kraftwerk - falta de grana e de companhia também)
Paulo Truelove
(Nirvana - tinha 13 anos e papai não deixou; Atari Teenage Riot - prova de recuperação no dia; Echo and the Bunnymen (87) - tinha 7 anos)
Viviana (???)
(Nirvana, Smashing Pumpkins e The Cure: questões escolares)
Para os felizardos, um CD "And Then Nothing Turned Itself Inside-Out", do heróis indies Yo La Tengo, e um livro "Barulho", revolução grunge testemunhada in loco por André Barcinski.

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PROMOÇÃO DA SEMANA

Semana retrasada ("Abaixo a cabecice"), na rádio da coluna, toquei "Temptation", do New Order, comentando que na minha opinião era uma das músicas mais sensacionais de todos os tempos. Alguns e-mails chegaram comentando, criticando ou discordando.
Agora é para valer. Concorrendo a CINCO cópias da trilha do documentário punk "The Filth and the Fury", sobre os Sex Pistols, álbum duplo maravilhoso, quais são as três melhores músicas desde sempre (eu sei, é difícil...)

As minhas estão aqui:
"Temptation", New Order
"Teenage Riot", Sonic Youth
"The One I Love", REM

Doeu. Principalmente para escolher a terceira. Agora é sua vez.
A próxima seleção da rádio vai (tentar) colocar as oito mais votadas como canções inesquecíveis.
Vai nessa.

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RÁDIO 10

Covers sensacionais, Magnetic Fields e bandas indie nacionais. Confira o playlist da semana:

Magnetic Fields - "I Don’t Want to Get Over You"
Sex Pistols - "Road Runner" (live)
Radiohead - "Nobody Does It Better" (live)
Sex Pistols - "No Fun" (live, TV session)
Travis - "Baby One More Time" (live)
Sex Pistols - "Substitute" (live, TV session)
New Order - "Anarchy in the UK" (live)
Built to Spill - "Cortez the Killer" (live)
The Gasolines - "Casbak"
Momento 68 - "1-3-4 o’Clock"

Considerações:
A rádio estréia a semana com a desolação amorosa em forma de rock, Magnetic Fields. Aí vem cover que não acaba mais. Tirando as já citadas versões de bandas maravilhosas capitaneadas pelos Pistols, já tratadas em texto acima, tem Radiohead interpretando a maravilhosa "Nobody Does It Better", belezura melosa imortalizada na voz de Carly Simon, já que é para estraçalhar coração. Tem também Travis fazendo a Britney Spears virar britpop. Tem o New Order reconstruindo os Pistols ao vivo. Tem ainda a soberba banda Built to Spill (falei na semana passada) pagando um tributo dos melhores ao cavaleiro guitar Neil Young. E tem o vivo e saltante rock nacional com duas bandas das boas: Gasolines e seu ótimo guitarrista fazendo trilha para Quentin Tarantino; e o excelente Momento 68, banda paulistana contrariando a estatística e mostrando que dá para fazer rock bacana cantando em português.

Just do it. Até a próxima.


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