|
É
com satisfação que faço a primeira coluna de
Pensata do novo milênio. Olhando pela janela de meu apartamento
alugado em Washington, enquanto imaginava o que escrever e o que
desejar de bom aos leitores, recebi de um grande amigo, promotor
de Justiça em São Paulo, a cópia de uma matéria
sobre a Argentina veiculada na versão digital do diário
espanhol "El Pais".
Segundo o texto da matéria, dezenas de milhares de argentinos,
descendentes de estrangeiros ou não, fizeram filas em Buenos
Aires nos últimos dias, em frente aos consulados da Espanha,
da Itália e até do México, solicitando passaportes
e vistos para abandonar o país.
Segundo pesquisas, mais de 30% dos argentinos mudariam de país,
se pudessem, por causa da crise econômica que corrói
o orgulho nacional.
O fato é preocupante. Uma espécie de diáspora
também afeta há algum tempo outros países da
América Latina, como a Colômbia, Venezuela e Equador,
mas nunca imaginei que algo semelhante pudesse ocorrer na Argentina.
A surpresa não deve ser só minha. Saibam vocês
que a imigração norte-americana, por razão
que desconheço mas que já dura anos, não exige
visto de entrada de cidadãos argentinos visitando os EUA.
Talvez a crise argentina faça a imigração norte-americana
mudar de opinião e aproximar os argentinos dos brasileiros
neste quesito.
O que mais me aflige é saber que a Argentina chegou a essa
situação depois de fazer, na última década,
tudo o que a comunidade financeira internacional e o FMI (Fundo
Monetário Internacional) queriam. Os argentinos só
não privatizaram suas famílias por falta de tempo.
No entanto, a Argentina continua tão vulnerável hoje
a crises externas como estava há duas décadas.
O Brasil, apesar de ter estruturas cambial e populacional distintas
das argentinas, poderia usar o exemplo de seu vizinho para repensar
alguns aspectos de nosso regime econômico - como a real vantagem
da privatização e da desregulamentação.
Com a situação argentina em mente, desejo aos leitores
que chegaram ao fim deste artigo um milênio no qual projetos
possam ser realizados com dinheiro barato. Desejo também,
aos amigos argentinos, uma saída digna para a crise.
Leia
colunas anteriores
25/12/2000
-
O peru de Natal de Armínio Fraga
18/12/2000 - Bush,
Letelier e a perspectiva histórica
11/12/2000
- Brasil,
isolado e humilhado
04/12/2000
- Onde
está o dinheiro das dot.com?
27/11/2000
- Os ventos nos empurram para uma
nova crise financeira
|