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6 de setembro
  Inveja da Argentina?
 

Cleusa Turra, a secretária-assistente de Redação da Folha de S. Paulo, não esconde a inveja pelo que está acontecendo na Argentina.

Cleusa passou os últimos meses ajudando a coordenar a cobertura do chamado caso Eduardo Jorge. Para que houvesse uma apuração realmente consequente, seria necessário quebrar sigilos bancários e telefônicos, coisa que ainda depende de uma decisão do presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães.

Na Argentina, ao contrário, já foi determinada a quebra do sigilo bancário de 67 senadores, para que se possa apurar a denúncia de que alguns deles foram subornados (supostamente com US$ 10 milhões) para aprovar uma legislação trabalhista que facilita a vida das empresas (e dificulta a dos trabalhadores).

Mais: o juiz encarregado do caso, Carlos Liporaci, pediu a retirada da imunidade parlamentar de oito senadores. Outros quatro já renunciaram a seus mandatos, decisão ainda pendente de aprovação pelas respectivas assembléias provinciais, responsáveis, até agora, pela eleição dos senadores (o sistema muda para a próxima eleição e passa a ser direto, como no Brasil).

Parece realmente o início de uma limpeza em regra, bem ao contrário das operações-abafa que ocorrem sistematicamente do lado de cá da fronteira Sul. Mas eu seria bem mais cauteloso que a Cleusa na inveja dos argentinos, por mais que me sinta um pouco portenho de alma.

Primeiro, porque, se o campeonato de corrupção fosse disputado apenas por Brasil e Argentina, daria empate no primeiro lugar.

Segundo, porque o governo anterior, de Carlos Menem, foi bem mais eficiente que o governo brasileiro em abafar escândalos, alguns dos quais chegaram não perto do gabinete presidencial mas dentro da própria primeira-família.

Terceiro, porque não está claro se o juiz do caso está agindo movido pela sede de justiça ou por motivações políticas. Afinal, ele próprio está sob investigação por supostamente ter comprado um imóvel de 1.200 m2 e US$ 1 milhão de valor, características incompatíveis com seus US$ 8 mil de salário mensal.

Não é curioso que, no caso Eduardo Jorge, haja um detalhe semelhante, ou seja, a compra de um imóvel de luxo por um valor que, supostamente, estaria acima das posses previsíveis para quem foi, quase a vida toda, um funcionário público?

Confesso que até gostaria de invejar a Argentina, nesse capítulo. Mas, ao contrário do que diz a canção, ao Sul do Equador há pecado, sim, mais pecados que qualquer outra coisa.


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