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Cleusa
Turra, a secretária-assistente de Redação da
Folha de S. Paulo, não esconde a inveja pelo que está
acontecendo na Argentina.
Cleusa passou os últimos meses ajudando a coordenar a cobertura
do chamado caso Eduardo Jorge. Para que houvesse uma apuração
realmente consequente, seria necessário quebrar sigilos bancários
e telefônicos, coisa que ainda depende de uma decisão
do presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães.
Na Argentina, ao contrário, já foi determinada a quebra
do sigilo bancário de 67 senadores, para que se possa apurar
a denúncia de que alguns deles foram subornados (supostamente
com US$ 10 milhões) para aprovar uma legislação
trabalhista que facilita a vida das empresas (e dificulta a dos
trabalhadores).
Mais: o juiz encarregado do caso, Carlos Liporaci, pediu a retirada
da imunidade parlamentar de oito senadores. Outros quatro já
renunciaram a seus mandatos, decisão ainda pendente de aprovação
pelas respectivas assembléias provinciais, responsáveis,
até agora, pela eleição dos senadores (o sistema
muda para a próxima eleição e passa a ser direto,
como no Brasil).
Parece realmente o início de uma limpeza em regra, bem ao
contrário das operações-abafa que ocorrem sistematicamente
do lado de cá da fronteira Sul. Mas eu seria bem mais cauteloso
que a Cleusa na inveja dos argentinos, por mais que me sinta um
pouco portenho de alma.
Primeiro, porque, se o campeonato de corrupção fosse
disputado apenas por Brasil e Argentina, daria empate no primeiro
lugar.
Segundo, porque o governo anterior, de Carlos Menem, foi bem mais
eficiente que o governo brasileiro em abafar escândalos, alguns
dos quais chegaram não perto do gabinete presidencial mas
dentro da própria primeira-família.
Terceiro, porque não está claro se o juiz do caso
está agindo movido pela sede de justiça ou por motivações
políticas. Afinal, ele próprio está sob investigação
por supostamente ter comprado um imóvel de 1.200 m2 e US$
1 milhão de valor, características incompatíveis
com seus US$ 8 mil de salário mensal.
Não é curioso que, no caso Eduardo Jorge, haja um
detalhe semelhante, ou seja, a compra de um imóvel de luxo
por um valor que, supostamente, estaria acima das posses previsíveis
para quem foi, quase a vida toda, um funcionário público?
Confesso que até gostaria de invejar a Argentina, nesse capítulo.
Mas, ao contrário do que diz a canção, ao Sul
do Equador há pecado, sim, mais pecados que qualquer outra
coisa.
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