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crossi@uol.com.br
 
13 de setembro
  Igreja, culpa e prepotência
  Coincidiram, na semana passada, dois fatos envolvendo a Igreja Católica. Um desmente o outro.

Primeiro, foi lançado pelo cardeal Joseph Ratzinger, da Congregação para a Doutrina da Fé (novo nome da velha Inquisição), o documento "Dominus Iesus", no qual a Igreja reafirma a superioridade do catolicismo sobre outras denominações cristãs e mais ainda sobre outros credos.

Depois, o episcopado da Argentina emitiu também o seu documento, para confessar que havia sido omissa durante a selvagem ditadura militar do período 1976/1983. Mais que omissa, foi conivente, a ponto de padres terem participado de sessões de tortura, nas quais alentavam os torturados a confessarem (mesmo que não tivessem o que confessar).

Quem, como é o meu caso, acompanhou de perto o que foi o terror implantado pela ditadura militar argentina sabe perfeitamente que foram violados todos os princípios de respeito à vida e à dignidade humana. Talvez tenha sido a mais selvagem de todas as inúmeras ditaduras que, nos anos 70 principalmente, mancharam de sangue quase toda a geografia latino-americana.

Como é, então, possível que a Igreja Católica se diga superior a todos os demais ramos do cristianismo e aos demais credos se um de seus braços é capaz de se colocar ao lado dos assassinos e, por extensão, contra o respeito à vida? Não é justamente o respeito à vida um princípio sagrado para quem acredita que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus?

Seria mais coerente admitir a falibilidade humana também da hierarquia católica e do próprio papa, única forma de explicar porquê uma parte importante das igrejas chilena e brasileira, por exemplo, estendeu seu guarda-chuva protetor para abrigar as vítimas da repressão nos dois países, ao passo que, na Argentina, só um ou outro sacerdote assim o fez.

Como aceitar pacificamente a teoria da superioridade da Igreja Católica se seus pastores têm conduta divergente em um assunto que não admitiria divergência, posto que trata do respeito à vida?

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