Proibido para menores em SP, piercing é objeto de desejo; saiba como fazer e cuidar

Antes dos 18 anos dá para furar o lóbulo, e depois tudo é permitido, mas com cicatrização que pode levar meses

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São Paulo

Aos 13 anos, Sofia N. decidiu que queria fazer um piercing no nariz, do tipo ponto de luz. "Superdelicado", ela define. Daí Sofia foi falar com seus responsáveis: o pai aprovou de cara, talvez por ele próprio ter um piercing na sobrancelha. A mãe ficou em dúvida, mas acabou topando. Recentemente, Sofia, que agora tem 15 anos, colocou outro piercing, dessa vez na sobrancelha.

"Meu pai de novo foi fácil de convencer. Pra minha mãe foi difícil, já que pra ela eu teria mais um furo no rosto", lembra. "Muitos pais vão contra essa vontade dos filhos por medo de eles se arrependerem no futuro. Mas qualquer escolha pode virar um arrependimento. Se no momento você acha que está certo fazer, não tem por que não fazer."

Pessoa com a boca aberta, de batom vermelho, rabo de cavalo e regata cinza. Na língua se vê um piercing
Jovem com piercing na língua - annebel146 - stock.adobe.com

Na verdade, até tem um porquê quando se é morador do estado de São Paulo e se tem menos de 18 anos. Por aqui, a lei não permite que menores façam perfurações além dos lóbulos (parte macia da orelha onde normalmente se penduram os brincos), mesmo que tenham autorização do pais e que eles estejam presentes no estúdio.

A regra varia em outros lugares. Em Santa Catarina, por exemplo, é preciso ter 16 anos e uma autorização dos responsáveis. Em Minas Gerais, uma autorização expressa dos representantes legais resolve o problema antes da maioridade.

"Eu acredito que poderia ser permitido um pouco mais cedo. Até porque, a grande verdade é que os jovens encontram quem coloque", diz Carol Tannure, perfuradora corporal com estúdio em Moema, na zona sul de São Paulo. Ela própria não burla a lei, mas costuma receber no seu estúdio adultos chateados com uma experiência malsucedida dos filhos em outros lugares que toparam abrir essa exceção.

"O grande problema para a maioria dos jovens são os cuidados que temos que ter depois da perfuração, e a gente tem que ter amparo pra esses cuidados serem bem conduzidos", explica Carol, que oferece alternativas a quem está ansioso para fazer seu piercing mas ainda não chegou à maioridade.

"Dá pra fazer coisas diferentes. Como o lóbulo é espaçoso, a gente consegue colocar minipiercings entre os furos, por exemplo. A cicatrização ali é mais rápida e tranquila, e dá menos problema que a cartilagem", sugere Carol.

Dicas para o primeiro piercing

  1. O diálogo é a melhor forma de resolver o impasse quando os responsáveis relutam em autorizar que os filhos façam um piercing, diz Elisabeth Fernandes, pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e doutora pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo). "E os pais devem evitar dizer ‘não’ simplesmente. Devem mostrar os possíveis riscos e perguntar por que querem fazer."

  2. Perfurações na boca são polêmicas, diz Carol Tannure, perfuradora corporal com estúdio em Moema, na zona sul de São Paulo. "Só que nem toda anatomia comporta essas perfurações, e algumas são condenadas pelos dentistas porque podem causar retração gengival. É uma região muito suscetível a infecções, dependendo do tipo de perfuração. E se não for usada uma joia de tamanho correto ela pode até quebrar um dente."

  3. "É importante verificar o calendário vacinal do adolescente e verificar se ele possui três doses de vacina contra a hepatite B. É preciso ter o calendário vacinal completo antes do procedimento. O risco é pequeno de transmissão no procedimento, mas existe", afirma a pediatra Elisabeth Fernandes.

  4. De acordo com o pediatra Paulo Telles, a Sociedade Brasileira de Pediatria define que um local seguro para perfuração deve possuir alvará de funcionamento e controle de vigilância sanitária; ser limpo e bem iluminado; ter equipamentos esterilizados em autoclave; e usar luvas e agulhas descartáveis.

  5. No dia marcado para a colocação do piercing, Carol Tannure afirma que é proibido por lei que seja feito o uso de qualquer tipo de anestésico. "E nunca recomendo que a pessoa tome analgésico antes. A dor é muito subjetiva, tem gente que sente pouca, tem quem sente muita, mas a dor é muito rápida", diz ela, que usa aromaterapia para ajudar os clientes a relaxar.

  6. Para perfurações nos mamilos, os cuidados devem ser redobrados, diz Carol. "Busque um estúdio altamente reconhecido. O profissional tem que ter um conhecimento muito bom da região, porque não pode perfurar a aréola, e a anatomia ali é complexa. Uma perfuração errada pode trazer muitos problemas de saúde."

  7. Depois da perfuração, evite comer camarão, frutos do mar e carne de porco, para diminuir as chances de inflamação. "A pessoa tem que manter seus hábitos regulares de alimentação, sem exageros", diz Carol Tannure. "Tem alimentos indicados para cicatrização tipo a ‘família dos roxos’, como o chá de hibisco."

  8. É proibido entrar no mar ou na piscina depois de fazer o piercing. "Você está com uma abertura no seu corpo, vai ficar suscetível, é uma sopa de bactérias. E muita gente briga com isso. Muita gente vai e me liga desesperada com a orelha inchada depois", conta Carol.

  9. Fez o piercing e deu ruim? Se for um inchaço leve, a recomendação é aplicar compressas e tomar um analgésico. Se o inchaço for grande e já durar mais de 24 horas, ou se for acompanhado de secreção, procure um pronto-atendimento.

Mãos cobertas com luvas azuis aplicam um piercing em sobrancelha de pessoa com olhos claros e cílios longos
Mulher coloca piercing na sobrancelha - Microgen - stock.adobe.com

"Pessoas largadas"

"Eu acho que eles acham que a gente é muito jovem para decidir o que quer fazer do nosso corpo", diz Yami M. B., 15 anos, que há uns dois anos tenta convencer a mãe a deixá-la por um piercing no umbigo. Sua irmã gêmea, Kimi, acha que os adultos veem piercings como coisa de "pessoas largadas", e também podem se preocupar com a marca que fica no corpo. Ela quer pôr um piercing no nariz.

As irmãs se preocupam com a dor que o procedimento pode causar, mas isso não tira delas a vontade de fazer a perfuração, e ambas torcem pela liberação da mãe, com quem moram na França. "Quando eu furei meu nariz pela primeira vez eu morri de medo da dor, mas foi rapidinho e não doeu tanto. Mas cuidar desse piercing foi complicadinho, deu alguns problemas", lembra Sofia N.

A perfuradora Carol sempre entrega aos clientes uma cartilha com cuidados pós-procedimento que envolvem algumas restrições. "É preciso evitar comer camarão e frutos do mar, além de carne de porco, porque algumas pessoas podem ter uma reação inflamatória", afirma.

Também se deve aumentar a ingestão de água e de alimentos que ajudam na cicatrização, e fugir dos mergulhos no mar e na piscina, já que o furo na pele é uma porta aberta para infecções. Se houver secreção no local, Carol recomenda que se passe em um pronto-atendimento.

"Os locais de maior chance de infecção são região umbilical, orelha e nariz e podem se manifestar com inchaço no local, dor e vermelhidão. Também há risco de transmissão de doenças como hepatite B, C, HIV e até mesmo tétano. Mas o risco de complicações infecciosas é bastante reduzido com precauções de assepsia na colocação e na manutenção do piercing", afirma Elisabeth Fernandes, pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e doutora pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).

"O piercing precisa ser higienizado duas vezes ao dia por dois a três meses. Cartilagens não cicatrizam antes de quatro meses, e podem levar até 12", diz Carol Tannure. " E com todos os piercings é preciso retornar 45 dias depois para fazer a redução da joia. A gente sempre perfura com uma joia que tem uma haste de comprimento maior para o caso de haver inchaço."

"Todo o material usado deve ser descartável e estéril. E o local deve ter autorização da vigilância sanitária para o funcionamento", recomenda Viviane Scarpa, dermatologista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Carol diz conhecer vale escolher o estúdio pela indicação de alguém que já se perfurou lá, e também ver a conta do Instagram do profissional. "Mas não para contar o número de seguidores, e sim o portfólio de trabalhos. E converse com o profissional, veja as informações que ele te passa e a segurança que você sente."

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