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Saiba o que são pensamentos intrusivos, que viralizaram nas redes sociais

Dados do Google Trends mostram que o interesse pelo tema está em curva ascendente e atingiu o pico de buscas em maio

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São Paulo

"E se meus pensamentos intrusivos falassem mais alto?". Rolando o feed do TikTok ou Instagram pode ser que essa frase esteja em diversos vídeos que brincam sobre como seria se determinadas ideias esquisitas que surgem do nada acontecessem —por exemplo, jogar o celular na parede, literalmente.

"A pessoa muitas vezes fica extremamente preocupada com o pensamento porque fica com medo: 'Nossa, mas por que eu estou pensando isso?'. Em geral, são pensamentos negativos. Vem um receio na pessoa de que ela possa cometer aquilo, mas isso é muito raro de acontecer, a pessoa nunca faria [isso]", afirma Luiz Scocca, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da USP, membro da Associação Americana de Psiquiatria (APA).

A imagem mostra uma mulher sentada de lado em um sofá, com o rosto parcialmente virado. Ela apoia o queixo na mão e abraça as pernas dobradas, que estão cobertas por uma calça jeans. A mulher tem cabelos loiros presos em um rabo de cavalo e veste uma camiseta de manga longa branca. O ambiente é claro e parece ser uma sala de estar com cortinas brancas ao fundo.
O interesse por pensamentos intrusivos no Google Trends segue em crescimento e atingiu pico de buscas em maio deste ano. Os dados compreendem os últimos dez anos, desde 2014 - fizkes/Adobe Stock

A viralização nas redes é comprovada pela curiosidade dos brasileiros. Dados do Google Trends mostram que o interesse por pensamentos intrusivos está em curva ascendente e atingiu o pico de buscas em maio deste ano, além de recorde de pesquisas pelo termo no ano passado. Os dados compreendem os últimos dez anos, desde 2014.

Com 146 mil seguidores, o estudante de publicidade Pedro Siqueira, 18 anos, publicou seis vídeos no TikTok nessa pegada. Juntos, eles somam quase quatro milhões de visualizações. Um dos mais vistos encena alguns pensamentos intrusivos, como jogar um bebê no chão ou apertar o botão do alarme de incêndio, de fato acontecendo.

"Minhas ideias vieram a partir de muitas coisas que já me peguei pensando no meu cotidiano. E, conversando com meus amigos, vi que não era o único que tinha esses pensamentos específicos", afirma Pedro.

O estudante diz que a repercussão do vídeos foi positiva e até gerou identificação com seus seguidores. "As pessoas comentam e marcam seus amigos relatando experiências semelhantes que já passaram com os pensamentos intrusivos. Riem e comentam coisas como 'nunca me identifiquei tanto com um vídeo como nesse'", diz Pedro.

Apesar de proporcionarem alívio cômico nas redes sociais, os pensamentos intrusivos que ocorrem com frequência a ponto de causar danos à saúde mental são considerados um transtorno associado aos sintomas de condições como ansiedade, depressão e TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo).

"A pessoa com TOC tem as compulsões por limpeza, então vem o pensamento de que está sujo ou cheio de micróbios. Esse é o pensamento intrusivo que incomoda, porque toda vez que ele vem à mente, a pessoa se lembra disso e sente aquele incômodo", explica Scocca.

A ocorrência frequente dessas ideias, diz Scocca, acaba sendo um fator extremamente limitante para a pessoa com esses sintomas. Isso porque ela começa a viver como se estivesse ao som de uma música de fundo —no caso, o pensamento intrusivo. "Isso é muito angustiante, pois não sai da cabeça", afirma o médico.

A psicologa Valeska Bassan diz que esse transtorno também pode ser comum em pessoas com distúrbio alimentar. "Um paciente com anorexia tem um pensamento intrusivo de que a comida vai fazer com que ele engorde. Então, ele [imagina que] não pode comer porque, se comer um pedaço de chocolate, a barriga dele automaticamente vai crescer", afirma.

Esses seriam pensamentos intrusivos patológicos, que são mais graves, já que atrapalham a qualidade de vida da pessoa. O tratamento indicado nesses casos é a psicoterapia, a fim de se entender a origem desses pensamentos. Se for algo obsessivo, é recomendado procurar ajuda médica, como um psiquiatra, por exemplo.

No entanto, há também os pensamentos apenas intrusivos, em que a pessoa imagina como seria se ela pulasse de uma janela, por exemplo –tipo de ideia comum nos vídeos virais nas redes sociais.

"Ela chega perto da janela, com muita frequência ela olha para fora e, de repente, vem o pensamento de que pode se jogar, mas ela não quer fazer isso. Não é que ela quer se suicidar, mas simplesmente vem o pensamento", afirma Scocca.

Segundo o médico, a pessoa jamais será comandada por esse pensamento. Para Scocca, esses pensamentos são contrários aos valores éticos e morais e a pessoa, por isso, não se pode "perdê-los", deixando de repente de agir como se age normalmente.

Pensamentos intrusivos viralizaram nas redes, mas isso é bom?

A misofonia, condição que gera aversão a alguns sons, levantou debate sobre a banalização da síndrome –há publicações no TikTok explicando a condição que somam 6 milhões de visualizações. O mesmo ocorre com os pensamentos intrusivos.

Para Scocca, a popularização do transtorno nas redes pode confundir as pessoas, fazendo-as achar que pensamentos intrusivos são uma piada ou algo inventado.

Por outro lado, afirma o médico, há também uma disseminação positiva, que ajuda, por meio do humor, a fazer com que as pessoas divulguem esses pensamentos e entendam que eles podem significar um transtorno.

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