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Você sabe como são as escolas nas comunidades indígenas? Especialista responde

Lei assegura que elas sejam bilíngues e ensinem a língua materna e o português às crianças

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São Paulo

Estimulada pela volta às aulas na maioria dos colégios brasileiros, e pelo noticiário que mostrou ao mundo a situação atual dos yanomami, a leitora Olivia M. F., de 6 anos, se interessou em saber mais sobre a educação nas comunidades indígenas.

Para ajudar com esta dúvida, a educadora, pesquisadora e especialista em infâncias indígenas Paula Mendonça participa da seção Um Adulto Responde, da Folhinha.

Se você ou uma criança da sua família tem alguma pergunta sobre qualquer tema, mande-a no email folhinha@grupofolha.com.br e acharemos um especialista para responder.

Como é a escola nas comunidades indígenas?

Olivia M. F., 6 anos

Olá, Olivia. Que ótima pergunta!

A primeira coisa que temos que pensar quando falamos sobre povos indígenas e suas comunidades é que não existe uma resposta única. Isso porque vivem hoje no Brasil cerca de 300 povos indígenas com línguas e culturas diferentes.

Crianças da aldeia Krukutu, em Parelheiros, São Paulo, leem livros em sala de aula - 24.mar.2014-Danilo Verpa/Folhapress

Então, a situação de vida pode variar muito entre um povo que vive em São Paulo (sim, temos povos indígenas em São Paulo), por exemplo no Pico do Jaraguá, ou um povo que vive no meio da floresta na região amazônica.

Em relação às escolas, as situações podem variar bastante também. Tem escolas onde trabalham apenas professores indígenas, escolas que têm professores indígenas e não indígenas, escola onde missionários ligados ao cristianismo estão bem próximos.

Mas, mesmo diante desse desafio e diversidade, podemos pensar em alguns aspectos que são comuns entre as escolas indígenas.

O principal deles é uma grande conquista histórica. Em 1988, quando foi promulgada a Constituição Federal, nossa lei maior, que garante direitos fundamentais para todos que vivem no nosso país, o movimento indígena —que luta pelos direitos dos povos existirem em suas diferenças— conseguiu que as escolas indígenas atendessem os interesses de suas comunidades e funcionassem de modo diferenciado.

Escolas diferenciadas são aquelas que podem ter um currículo e um calendário diferenciado. A lei assegura que as escolas indígenas sejam bilíngues, ou seja, que os professores possam ensinar em sua língua materna (você sabia que existem cerca de 250 línguas indígenas sendo faladas atualmente no Brasil?) e que ensinem o português como segunda língua.

Além disso, garante que as escolas possam ser interculturais, ou seja, que o conteúdo que é ensinado tenha tanto elementos da própria cultura deles quanto da ciência ocidental, presente nas escolas da sociedade não indígena.

Mas nem sempre foi assim. Antes dessa lei, muitas escolas indígenas proibiam que os estudantes falassem na própria língua, praticassem sua cultura e estudassem o conhecimento de seu povo. Essa foi uma das razões pelas quais muitos povos perderam ao longo da história suas línguas maternas e hoje só falam em português. Então, em 1988, essa foi uma baita conquista!

Atualmente, muitas escolas indígenas podem fortalecer a cultura do seu povo, ensinar a escrever e ler na própria língua, estudar os conhecimentos de seus povos sobre a matemática, a natureza, as histórias de origem, sobre agricultura, geografia, arquitetura, entre outras áreas do conhecimento.

Além disso, também ensinam como os não indígenas explicam o mundo e outras versões da história. Assim, os estudantes indígenas podem conhecer e se relacionar melhor com a sociedade que os engloba.

Você já pensou que existem muitas formas de explicar tudo que existe no mundo, e que há muitas e muitas versões sobre a história? Acho que nossas escolas iriam se enriquecer muito também se estudassem os conhecimentos que são transmitidos e praticados, dentro e fora das escolas, há milênios, pelos nossos povos originários.

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