Descrição de chapéu Todo mundo lê junto

Uniforme escolar impõe restrições, mas facilita vida das famílias

Vestimenta surgiu no século 18 e mudou na década de 1990; 'gosto, mas não pode usar chinelo', lamenta criança

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Os uniformes dos trigêmeos Lorena, Lucas e Olivia, enviados pela prefeitura Zanone Fraissat/Folhapress

São Paulo

Na casa dos trigêmeos Lorena, Lucas e Olivia, de 4 anos, as coisas costumam vir em grandes quantidades. Com o uniforme da escola nova não seria diferente —quando o pacote da prefeitura chegou ao endereço deles na Vila Madalena, em São Paulo, os números eram impressionantes.

"Eles abriram tudo. Vieram umas 16 camisetas, sete calças, e eles experimentaram tudo, fizeram meio que um desfile", lembra a psicóloga Marina Bragante, mãe das crianças.

Os trigêmeos Lucas, Lorena e Olivia, com o cachorro da família, em São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

"A gente aproveitou para contar sobre por que estudam numa escola municipal, por que eles agora têm uniforme, o que está escrito no uniforme etc. Acho que gostaram."

"Um hum", responde Olivia B. S., sobre se curtiu ou não seu uniforme novo. "Tem casaco, cachecol, camiseta", lista Lucas B. S.

"Eu gostei do short, da camiseta. Gostei de tudo. A gente usa uniforme porque é o negócio da escola, mas pode ser que a gente use no mercado, pra ir comprar coisas. No hospital usam uniforme de médico, que é muito legal, mas eu nunca usei", completa Lorena.

Na escola anterior, um centro de educação infantil, os trigêmeos não precisavam de uniformes, e agora que migraram para uma EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) vão usar as peças padronizadas pela primeira vez.

"Eu nunca usei uniforme em nenhuma das minhas escolas, e nunca imaginei colocar meus filhos numa escola com uniforme. Mas tem algumas coisas que vão facilitar a minha vida, como a agilidade de manhã. O Lucas, que é superligado a estética, às vezes trocava três vezes de roupa antes de ficar pronto, e agora deve demorar menos", torce Marina.

Os trigêmeos sempre estudaram em instituições públicas de ensino, ou seja, que não são pagas pelas famílias porque são mantidas pelo estado. Em escolas como estas, na educação básica os uniformes são em sua maioria obrigatórios. Nas escolas particulares, que cobram mensalidades, essa obrigação varia.

Para a consultora e pesquisadora de moda Alessandra Ponce, quando uma escola faz a opção de exigir que seus alunos vistam uniformes, ela está priorizando a necessidade de nivelar seus alunos e de proporcionar igualdade na comunidade.

"Visto pelo lado humano, o uniforme cria uma sensação de igualdade, independente de classe social. Quando a escola uniformiza seus alunos, ela modela todos em um único padrão", analisa.

"Por isso imagino que há escolas que optem por não uniformizar os alunos. Porque cada ser humano tem o direito de se apresentar como um ser único, composto por particularidades diversas."

Para ela, o ideal seria que as escolas misturassem dias com uniforme e dias sem. "Como empresas adotam a ‘casual friday’. Em um dia, o aluno iria vestido do jeito que ele gostaria de se representar", opina.

Davi H. B. tem 12 anos, e em 2023 vai para o seu segundo ano em um colégio particular da zona oeste de São Paulo. Na escola anterior, o uniforme não era obrigatório. "Meu uniforme é uma camisa branca, com o logo da escola no peito, tipo camisa de futebol. E um shorts ou calça azul neutro", descreve.

"Só que não pode chinelo. E na minha escola antiga eu ia de chinelo e ficava descalço lá, então essa é uma coisa chata."

Ele acha que uniformes são coisas boas e ruins ao mesmo tempo. "Eu gosto porque é mais fácil. Tipo, acordei de manhã e não preciso ficar escolhendo a roupa que eu vou, porque já tenho a roupa escolhida. Só que a parte chata é que eu tenho que usar a roupa que a escola escolheu, então não posso escolher a roupa que eu gosto", diz.

"Eu até pergunto às vezes para os professores por que tem que usar uniforme dentro da escola. Porque, tipo, em um passeio eu até entendo. Para eles terem a noção de quem é quem, e não perder criança, mas ninguém vai se perder dentro da escola, então acho que uniforme na escola não faz muito sentido."

Alessandra Ponce conta que os uniformes surgiram no final do século 18. Foi quando, finalmente, as necessidades das crianças começaram a ser consideradas, e apareceram roupas adaptadas às coisas típicas da infância.

"Nessa época, o design do uniforme era muito influenciado pela vestimenta dos marinheiros, já que, entre a sociedade inglesa, os pais desejavam que seus filhos fizessem parte da marinha", completa.

Uniformes em geral existem desde o século 15. Começaram sendo usados pelos militares. "Tinham um objetivo muito claro: evitar que soldados matassem companheiros por engano. É o que acontece nos esportes coletivos hoje, quando a gente tem que diferenciar times. Já imaginou um jogador de futebol passando a bola para um jogador do time oponente por causa das camisas da mesma cor? Não dá."

No Brasil, os uniformes escolares começaram a ser usados por volta de 1890, nas antigas escolas normais, que formavam professoras. Depois, foram se espalhando. Alessandra conta que, na década de 1990, eles sofreram uma grande mudança, ficando mais confortáveis —é como os conhecemos hoje.

"Chegaram as camisetas, calças de moletom, bermudas. Antes, a roupa era muito séria, feita de peças clássicas. Tinha saias pregueadas, por exemplo, que não davam liberdade para as meninas brincarem", diz.

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.