Converse com um adulto e peça ajuda, sugere escritora às crianças que estão sofrendo bullying

Italiana Giusi Parisi escreveu livro 'Eu, Valentão' com base em histórias de violência física e emocional que presenciou em escolas; solução está na prevenção constante, diz

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São Paulo

Alessandro é adolescente e, na escola em que estuda, inventa apelidos grosseiros, agride colegas com palavras e gestos, e acaba sendo respeitado por ser agressivo —afinal, todo mundo tem um pouco de medo de Alessandro. Ele parece alguém da sua escola?

Lá também estuda o Danilo, que sofre com o comportamento de Alessandro, e que um dia precisou até de atendimento médico por causa disso. Ele também se parece com um conhecido seu?

Ilustração de Minna Miná para o livro 'Eu, Valentão', da autora italiana Giusi Parisi - Divulgação

"Existem muitos Alessandros e Danilos em todo o mundo", acredita a escritora italiana Giusi Parisi, autora do livro "Eu, Valentão" (editora FTD, R$ 61, 112 páginas), que criou uma história de ficção a partir do bullying que presenciou como professora na periferia de Palermo, na Itália.

Ela acredita que a solução para o bullying é universal, independentemente do país em que acontece: "Prevenção", diz. "E a prevenção é feita quando se aborda o tema, mas não uma única vez, ou em uma única série escolar. É preciso um trabalho constante."

Leia a entrevista de Giusi à Folhinha na semana em que se celebra o Dia Nacional do Combate ao Bullying na Escola, na próxima sexta (7).

Por que você acha que o bullying é tão frequente nas escolas?

Existem inúmeros motivos, mas acredito que o principal seja devido à idade. As crianças, principalmente na fase pré-adolescente e adolescente, têm sede de relacionamentos, de amizade, mas também de aceitação no grupo. Eles têm sede de grupo.

Há os que conseguem estabelecer e manter relacionamentos saudáveis e os que, por outro lado, não conseguem e reagem de duas formas: ou se isolam, ou se impõem pela força. Há também outra coisa que notei andando pelas escolas: raramente os meninos conseguem, nessa idade, distinguir o que é ou não brincadeira, distinguir uma piada de uma ofensa.

Para que isso aconteça, é necessário uma grande e contínua colaboração entre escolas e famílias, para o bem comum.

Existe uma solução para este problema?

A solução para o bullying é a prevenção. E a prevenção é feita quando se aborda o tema, mas não uma única vez, ou em uma única série escolar. É preciso um trabalho constante, feito todos os dias e ao longo do ciclo escolar, para que as crianças interiorizem as principais características deste fenômeno tão enorme quanto feio.

Para que possam evitá-lo ou reconhecê-lo, eles devem se encontrar nele como protagonistas ou como espectadores. Se as famílias estiverem envolvidas e a batalha se tornar comum, então se pode vencer.

Você acha que, não importa onde, sempre haverá crianças como o valentão Alessandro e a vítima Danilo?

Existem muitos Alessandros e Danilos em todo o mundo. São crianças atormentadas por uma história pessoal cheia de dor e responsabilidade, às vezes até vergonha. Também estou falando de crianças inseguras, que têm dificuldade em aceitar alguns aspectos de si mesmas.

Aspectos que não refletem as taxas padronizadas que as redes sociais nos impõem, influenciando nosso imaginário, nossas relações, nosso cotidiano. Não há limites geográficos para a dor ou para o fogo que arde dentro de nós quando sofremos.

O mesmo vale para as origens socioeconômicas e culturais. O bullying não está sujeito a restrições de qualquer tipo, pois nasce com o sofrimento e desconforto das crianças, elementos que, infelizmente, não cabem em nenhuma caixa.

O protagonista do seu livro usa apelidos para se referir aos colegas. O que você acha desse costume?

Apelidos nunca são um bom hábito, pois corre-se o risco de minimizar a personalidade de alguém, reduzindo-a apenas àquele aspecto para o qual o apelido nasceu. Uma pessoa é um ser infinito, a meu ver.

É como mágica, um mistério que deve ser revelado de tempos em tempos com doçura, empatia, sensibilidade; nunca com abuso, violência, escárnio. E um apelido, se não for aceito pela pessoa a quem é dado, é sempre um escárnio e, por isso, uma violência psicológica.

O que você diria para quem está sendo vítima de bullying na escola atualmente?

Eu diria para conversar com um adulto sobre isso. Eu diria a ele para pedir ajuda, porque, como disse acima, o bullying é um fenômeno muito grande com consequências importantes e não pode ser derrotado sozinho. Todos nós precisamos da ajuda de alguém que está de fora e que certamente é mais "lúcido" do que quem está dentro e envolvido com a situação.

E o que você diria para quem está praticando o bullying?

Eu diria a ele para contar a seus companheiros sobre sua experiência, se debruçar sobre seus pesadelos, seus sentimentos de culpa, os olhos de sua vítima. Fale sobre isso, conte para os outros para que eles possam entender o quanto o bullying incinera a alma.

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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