São Paulo, Sexta-feira, 2 de Julho de 1999




Vai faltar água, comida e energia?

A ONU calcula que no próximo dia 12 de outubro a Terra terá 6 bilhões de habitantes, três vezes mais do que os pessimistas acreditam prudente para evitar que os recursos naturais entrem em colapso. Mesmo os mais otimistas indicam que tamanha população já se encontra no limiar de risco.
Apesar da cifra impressionante, o alarmismo malthusiano está em baixa. Das guerras e fomes previstas por Thomas Malthus em 1798 aos cenários catastróficos dos anos 60 e 70 e à calmaria do presente, a humanidade tem enfrentado com sucesso o desafio de produzir comida suficiente para todos _ao menos quando se considera a produção per capita. Mas não estão afastadas todas as dúvidas sobre a capacidade de o planeta de sustentar tanta gente.
Se há três décadas o temor maior com o crescimento da população ainda era a projetada escassez de alimentos, a fonte principal de preocupação, hoje, passou a ser a água. Do Oriente Médio à bacia do rio Verde Grande (MG), a redução na qualidade ou na quantidade do recurso já afeta a sobrevivência de 1,4 bilhão de pessoas: a cada oito segundos morre uma criança por doença relacionada com a água.
Explosiva, acima de tudo, parece ser a combinação entre água e agricultura. O uso intensivo de defensivos agrícolas contamina as jazidas subterrâneas do líquido, que se torna imprestável para consumo. Da Índia aos EUA, a produção agrícola consome mais água bombeada desses aquíferos do que a chuva é capaz de repor. A água gratuita que irriga plantações é subtraída de populações urbanas.
A produção per capita de grãos vem crescendo nos últimos 50 anos (mas há indícios de uma tendência para estagnação). Nas três últimas safras, a produção cresceu mais que o consumo, fazendo os preços caírem (mas há quem atribua isso à crise na Ásia).
As projeções indicam que não deverá faltar comida no futuro, mesmo que a população chegue a 8,9 bilhões em 2050, mas o mundo já convive com 800 milhões de subnutridos. A fome é um flagelo do presente e nem todo o otimismo da engenharia genética pode resolver esse problema de distribuição, que é econômico e político. Persiste e aumenta a desigualdade entre ricos e famintos.
No que se refere às fontes de energia, outro fantasma dos anos 70, a escassez temida não chegou. Um dia, contudo, as reservas de combustíveis fósseis (carvão e petróleo) vão acabar. O mais provável é que cedam terreno a formas renováveis de energia , como a solar, sob pressão de outro tipo de temor _o efeito estufa. Antes, o mundo deverá passar por uma transição baseada no gás natural, mais limpo.
Não existem respostas simples para o que vai acontecer com uma Terra habitada por 6 bilhões ou 9 bilhões de pessoas. Há apenas uma certeza: tudo vai depender das instituições e tecnologias que o homem for capaz de criar.



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