São Paulo, Sexta-feira, 2 de Julho de 1999




A INDÚSTRIA

Para Monsanto, faltam sensatez
e mais pesquisa


especial para a Folha

Robert Bruce Horsch, 46, é um dos pioneiros da engenharia genética na Monsanto, alvo preferencial dos inimigos dos alimentos transgênicos.
Reprodução
Com um colega da Monsanto, o engenheiro genético Robert Horsch (à esq.) recebe de Bill Clinton a Medalha Nacional de Tecnologia dos EUA

Ele entrou para a empresa em 1981 e hoje dirige o setor de desenvolvimento sustentável da corporação.
Suas pesquisas já renderam três patentes de plantas transgênicas nos Estados Unidos e outras 38 pelo mundo. Com sua equipe, recebeu este ano a Medalha Nacional de Tecnologia dos EUA.
Para o biólogo, a razão de estar na berlinda é simples: “Nós somos os líderes”. Nenhuma outra empresa, afirma, apresentou mais produtos ou os comercializou para uma área maior. “Também tivemos um programa de educação muito pró-ativo, há mais de 15 anos, falando com as pessoas sobre a tecnologia.”
Ele nega, porém, que a exposição tenha resultado num tiro pela culatra. Disse que, se tivesse de fazer tudo de novo, trabalharia para dar ainda mais, e não menos, informação sobre os transgênicos.
Para Rob Horsch, como é conhecido na Monsanto, falta ainda estudo sobre a relação entre agricultura, produção de comida e ambiente. “Acredito que à medida que se aprofunda nosso entendimento, como sociedade global, vamos ver que são muito inter-relacionados e que podemos usar novas ferramentas, de modo sensato, para beneficiar a produção de comida, o bem-estar humano e a proteção do ambiente.”
Horsch admite apenas teoricamente a hipótese de efeitos nocivos dos transgênicos sobre a saúde humana ou do ambiente.
“A capacidade de introduzir um novo gene e uma nova proteína no alimento carrega a possibilidade de introduzir algo que não seja bom”, diz. “Mas, porque essa área de tecnologia é intensa e cuidadosamente regulamentada e fiscalizada, não acredito que estejamos sujeitos ao risco de consequências indesejáveis.”
A aceitação dos transgênicos, na sua opinião, é questão de tempo. Dependeria sobretudo de um aprofundamento do debate e de que se façam “escolhas inteligentes”. As pessoas vão começar a ver os benefícios, acredita, com as novas gerações de produtos, ainda em fase embrionária de pesquisa, como plantas resistentes a secas.

DESENVOLVIMENTO
Segundo Horsch, não foi uma escolha a apresentação da tecnologia ao público na forma de culturas resistentes a herbicida da própria Monsanto (Roundup). Ele faz uma analogia com a microeletrônica, que começou com transistores individuais conectados em circuitos impressos.
“Os transistores foram ficando cada vez menores e mais baratos, até que se fez um circuito integrado. Agora isso permite a produção de microprocessadores, os chips. Começou com o transistor porque era mais fácil de inventar.”
“O mesmo vale para plantas tolerantes a secas. Biologicamente, elas são muito mais complicadas. Dez anos atrás não tínhamos a menor idéia sobre como estudar esses problemas, mas sim como aperfeiçoar o uso de herbicidas. Começou com o que era mais simples de trabalhar”, afirma Horsch.(ML)



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