|
AGRICULTURA
Irrigação pressiona as reservas
da Reportagem Local
Os cerca de 500 mil habitantes de Ribeirão Preto (319 km ao norte
de São Paulo) são abastecidos com água de um dos principais
mananciais da América do Sul, o aquífero Botucatu, mas um
de seus pontos de afloramento, na cidade, corre o risco de contaminação
por herbicidas, devido à cultura da cana.
O aquífero (reservatório de água subterrânea)
se espalha por 1,2 milhão de km2 em sete Estados brasileiros e abrange
ainda a Argentina, o Uruguai e o Paraguai.
Desde 1994, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)
Meio Ambiente, de Jaguariúna (SP), analisa sua contaminação.
Desde então, foi encontrado, em média, 0,03 ppb (partes por
bilhão, ou seja, concentração de 1 litro por bilhão
de litros) de herbicidas, índice considerado baixo, mas preocupante
(o limite recomendado é de 0,1 ppb).
Se continuar assim, em cinco anos será possível chegar
a níveis críticos, colocando em risco o abastecimento,
diz o geólogo da Embrapa Marco Antonio Ferreira Gomes. Preocupada
com o resultado, desde janeiro a empresa estuda os locais de recarga do
aquífero Botucatu numa área de 100 mil km2 para analisar a
contaminação causada pela agricultura em sete Estados (SP,
PR, SC, RS, MT, MS e GO).
Os fertilizantes e agrotóxicos podem modificar drasticamente as características
dos corpos dágua. No Brasil, praticamente todas as regiões
agrícolas geram impactos em aquíferos, rios e mananciais.
Já se sabe, por exemplo, que sistemas de irrigação,
como o por inundação, usado no cultivo de arroz no Rio Grande
do Sul, pode provocar contaminações por herbicidas. Sua forma
de aplicação, às vezes por pulverização
aérea, pode levar o veneno para outras áreas.
Com a expansão da agricultura, o problema é compatibilizar
os diferentes usos da água. Hoje, 70% da água retirada vai
para a irrigação. E essa parcela tende a crescer. Estima-se
que mais da metade dos alimentos do mundo são produzidos com irrigação,
que, em média, dobra a produtividade das lavouras.
A agricultura não apenas prejudica a qualidade da água, mas
consome mais desse recurso do que qualquer outro segmento em quase todos
os países. Alguns exemplos: Índia (93%), Espanha (62%) e México
(86%). No Brasil, responde por 59% de todo o consumo.
Em algumas regiões do Nordeste, onde a escassez é crônica,
essa demanda afeta o consumo doméstico. E a população
poderá sofrer ainda mais com a falta de água nos próximos
cinco anos, devido à expansão agrícola. Não
se sabe ao certo quanto tempo irá durar a água retirada de
poços para abastecer a agricultura, diz Aderaldo de Souza Silva,
especialista em irrigação da Embrapa.
Uma medida para enfrentar a escassez é a reutilização
de águas com resíduos para a agricultura. Em países
do Oriente Médio e da Europa, a água é separada do
esgoto, tratada e reaplicada no campo e na indústria, medida que
também está sendo adotada em São Paulo. Em média,
essa água custa até 25% menos que a tratada para uso doméstico.
(RO) |