São Paulo, Sexta-feira, 2 de Julho de 1999




Gás natural vai dominar
próximas décadas


Primeira metade do século 21 será transição para novas energias, como a solar e a eólica, que ainda buscam viabilidade econômica

MARCIO AITH
de Washington

O gás natural deverá superar o petróleo como a maior fonte de energia do mundo durante os próximos 50 anos e servirá como etapa intermediária na transição da matriz energética global para fontes renováveis.

O futuro das fontes energéticas


Se o mundo consumisse como os EUA...

Consumo de combustível per capita

Produção de energia por tipo de combustível

Os campeões em emissão

Essas são as previsões das principais entidades de estudo do meio ambiente no mundo e a conclusão de projeções recentes feitas pelo governo dos Estados Unidos.
“Até a metade do século 21, o gás irá se transformar na fonte número um de energia. Depois disso, fontes renováveis, como a energia solar e a eólica (ventos), começarão a predominar”, afirma Christopher Flavin, pesquisador responsável pelos estudos de energia do Worldwatch Institute, um dos grandes centros mundiais de estudos ambientais, localizado em Washington (EUA).
Embora não seja tão taxativo quanto o instituto, o governo norte-americano reconhece que o papel do gás natural será fundamental no próximo século.
O secretário de energia, Bill Richardson, afirma ter tirado essa conclusão observando a procura pelo gás durante a crise econômica que derrubou os preços do petróleo no ano passado para seus patamares mais baixos desde o embargo árabe de 1973 _quando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) elevou o preço do barril de US$ 1,5 para US$ 12, deflagrando recessão de alcance mundial.

AUMENTO DE DEMANDA
"Apesar da crise econômica mundial, o uso de gás natural cresceu. O mercado está experimentando uma demanda surpreendente pelo produto", afirmou Richardson num recente debate sobre novas fontes de energia.
O consumo de gás natural aumentou 1,6% no ano passado. O de petróleo ficou praticamente estagnado, com um aumento considerado marginal de 0,8%.
É verdade que um motivo pelo qual houve um aumento no uso de gás natural em 1998 foi a descoberta de uma nova reserva do produto em Tarim Basin, na China.
“Mas a principal razão é que o gás natural se mantém como um combustível popular para a geração de energia nas indústrias e nos lares. E é o menos poluente dos combustíveis fósseis”, disse Flavin.
Esse consenso em direção ao consumo do produto, no entanto, parece não indicar o fim da era do petróleo nem o fracasso da viabilidade econômica das energias alternativas.
As razões são simples. O secretário Richardson prevê que a demanda global por energia vá dobrar até o ano 2010. Além disso, calcula-se que dois bilhões de pessoas ainda vivam sem eletricidade no mundo (100 milhões somente na China).
“Isso significa uma só coisa: fontes renováveis terão um papel muito maior, mas o mundo vai continuar a usar quantidades maciças de todos os combustíveis fósseis”, disse Richardson.
“O carvão, o petróleo e o gás natural hoje suprem 85% da energia comercial disponível no mundo. Se não houver mudanças na política dos governos, essa parcela irá aumentar ainda mais, para 90% nos próximos dez anos.”
Flavin acredita que, em 100 anos, essa porcentagem possa ser reduzida para 20% a 40%. Mas a forma de transição para as energias alternativas parece ser ainda incerta.

CUSTO ELEVADO

Números divulgados recentemente indicam que, apesar do avanço da tecnologia, que tem permitido o barateamento do uso das energias solar e eólica (ventos), ainda há muito esforço para ser feito, e não há quem imagine a viabilidade econômica dessas fontes num prazo curto.
O custo de converter raios solares em eletricidade por meio de materiais semicondutores baixou de US$ 1 o quilowatt/hora em 1980 para US$ 0,25 no ano passado.
No entanto, esse valor ainda é muito alto. O preço da eletricidade no varejo, para se ter uma medida de comparação, é de US$ 0,08.
Apesar do custo ainda elevado, existem alguns sinais positivos para o aproveitamento do sol e dos ventos como fonte de energia.
Depois que o governo norte-americano abriu à competição o mercado de distribuição de energia, diversas companhias em quatro Estados do país passaram a atrair consumidores por meio de um “apelo ambiental”.

REPASSE DE VERBA
Limitações técnicas impedem que um gerador de energia solar distribua eletricidade para uma cidade. Mas vários distribuidores prometem repassar parte do dinheiro dos consumidores para instituições que estudam formas de baratear o uso de energia vinda de fontes renováveis.
A produção de energia eólica aumentou 35% no ano passado. A solar, 21%. Apesar do resultado amplamente superior ao registrado pelo petróleo (0,8%) e pelo gás natural (1,6%), essas fontes alternativas não chegam a representar 1% da energia consumida em todo o mundo.
O aumento na produção de energia eólica se concentrou na Alemanha. Apenas em uma região do país, em Schleswig-Holstein, a eletricidade tirada dos ventos é responsável por 11% do total produzido. No Estado de Navarra, na Espanha, 20% da energia produzida vem das turbinas de ventos.



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