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ALTERNATIVAS
Fusão nuclear desafia cientistas
especial para a Folha
O futuro desenvolvimento econômico-tecnológico da humanidade
está, direta e indiretamente, vinculado à fonte de energia
que está na sua própria origem: o Sol.
11.jun.99/Associated
Press |
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Câmara
de laser montada na Califórnia para teste de fusão nuclear
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Sem o calor proporcionado por essa estrela em torno da qual a Terra gira,
a existência de vida no planeta não teria sido possível.
A curto e médio prazos, deverá aumentar a exploração
direta dessa energia. À medida que fica mais caro, mais raro e politicamente
mais inviável queimar combustíveis como petróleo e
carvão, usar a limpa radiação solar
tende a ser uma opção mais sensata e prática _e a tecnologia
futura de armazenamento de energia poderá resolver o problema dos
países que têm menos dias ensolarados.
Mas um desenvolvimento realmente sustentável, isto
é, sem que exista a ameaça de esgotamento da fonte de energia,
só poderá ser feito a longo prazo por intermédio da
energia nuclear, mais especificamente e principalmente da fusão
nuclear.
É preciso deixar claro a diferença entre as duas energias
nucleares. Hoje, a energia nuclear depende da fissão,
da quebra do núcleo de átomos de elementos químicos
pesados como o urânio. O processo gera muita energia, como se pôde
perceber nas duas bombas atômicas explodidas sobre o Japão
em 1945, na Segunda Guerra.
A energia nuclear via fissão tem a vantagem de não produzir
os gases que geram o efeito estufa. Mas ela tem desvantagens sérias,
como o risco de acidentes graves, como o famoso em Chernobyl, Ucrânia,
e a produção de lixo radiativo.
Essa forma de energia fica no meio caminho entre as não-renováveis,
como os combustíveis fósseis, e as renováveis, como
a solar. O urânio usado nos reatores também é finito;
mas reatores ditos reprodutores podem reaproveitá-lo,
transformando-o em plutônio. Com outro inconveniente: esse plutônio
é um excelente material para se fazer bombas atômicas.
Mas muito mais energia pode ser gerada pelo processo oposto: fundir átomos
de elementos leves, o mesmo processo que é o motor da energia das
estrelas.
Uma matéria-prima da fusão nuclear poderia ser o elemento
químico lítio. Calcula-se que bastaria 1,8 kg de lítio
para produzir um megawatt de energia por ano. E o mundo tem cerca de dez
milhões de toneladas desse elemento.
A economia e a produção de energia serão melhoradas
graças a tecnologias futuras com base no fenômeno da supercondutividade,
a propriedade de certos materiais, como cerâmicas especiais, de oferecer
uma grande diminuição da resistência elétrica.
Com isso a corrente elétrica pode fluir pelo material sem perda de
energia (pelo calor, por exemplo) pelo caminho. Teoricamente, a supercondutividade
permitiria uma transmissão mais eficiente da energia elétrica,
mas ela hoje só é possível em compostos resfriados
a temperaturas muito baixas. Supercondutores deverão ter aplicações
fundamentais também nos reatores de fusão nuclear.
Enquanto não surgem reatores de fusão nuclear eficientes e
baratos, a humanidade tenderá a aproveitar formas renováveis
e não-poluidoras de produção de energia.
Algumas delas ainda são economicamente inviáveis, em parte
pela inexistência de usinas de grandes dimensões. Mas como
o custo político e ambiental do uso de combustíveis fósseis
vem aumentando, a viabilidade econômica das energias alternativas
também crescerá.
É o caso da energia das marés, da solar, da eólica
(dos ventos), da geotérmica (calor do solo) e da mais difundida hidrelétrica.
Com o impacto ambiental crescente de grandes hidrelétricas, também
tendem a se tornar viáveis as usinas de menor tamanho.
Assim como nem todos os países têm reservas de combustíveis
fósseis, também não são todos que podem usar
essas alternativas, por exemplo por falta de ventos fortes ou de dias de
sol. Criar uma mistura de fontes de energia ambiental, política e
economicamente seguras é o desafio dos planejadores do século
21. (RBN) |