São Paulo, Sexta-feira, 2 de Julho de 1999




ALTERNATIVAS

Fusão nuclear desafia cientistas


especial para a Folha


O futuro desenvolvimento econômico-tecnológico da humanidade está, direta e indiretamente, vinculado à fonte de energia que está na sua própria origem: o Sol.
11.jun.99/Associated Press
Câmara de laser montada na Califórnia para teste de fusão nuclear

Sem o calor proporcionado por essa estrela em torno da qual a Terra gira, a existência de vida no planeta não teria sido possível.
A curto e médio prazos, deverá aumentar a exploração direta dessa energia. À medida que fica mais caro, mais raro e politicamente mais inviável queimar combustíveis como petróleo e carvão, usar a “limpa’’ radiação solar tende a ser uma opção mais sensata e prática _e a tecnologia futura de armazenamento de energia poderá resolver o problema dos países que têm menos dias ensolarados.
Mas um desenvolvimento realmente “sustentável’’, isto é, sem que exista a ameaça de esgotamento da fonte de energia, só poderá ser feito a longo prazo por intermédio da energia nuclear, mais especificamente e principalmente da “fusão’’ nuclear.
É preciso deixar claro a diferença entre as duas energias nucleares. Hoje, a energia nuclear depende da “fissão’’, da quebra do núcleo de átomos de elementos químicos pesados como o urânio. O processo gera muita energia, como se pôde perceber nas duas bombas atômicas explodidas sobre o Japão em 1945, na Segunda Guerra.
A energia nuclear via fissão tem a vantagem de não produzir os gases que geram o efeito estufa. Mas ela tem desvantagens sérias, como o risco de acidentes graves, como o famoso em Chernobyl, Ucrânia, e a produção de lixo radiativo.
Essa forma de energia fica no meio caminho entre as não-renováveis, como os combustíveis fósseis, e as renováveis, como a solar. O urânio usado nos reatores também é finito; mas reatores ditos “reprodutores” podem reaproveitá-lo, transformando-o em plutônio. Com outro inconveniente: esse plutônio é um excelente material para se fazer bombas atômicas.
Mas muito mais energia pode ser gerada pelo processo oposto: fundir átomos de elementos leves, o mesmo processo que é o motor da energia das estrelas.
Uma matéria-prima da fusão nuclear poderia ser o elemento químico lítio. Calcula-se que bastaria 1,8 kg de lítio para produzir um megawatt de energia por ano. E o mundo tem cerca de dez milhões de toneladas desse elemento.
A economia e a produção de energia serão melhoradas graças a tecnologias futuras com base no fenômeno da supercondutividade, a propriedade de certos materiais, como cerâmicas especiais, de oferecer uma grande diminuição da resistência elétrica.
Com isso a corrente elétrica pode fluir pelo material sem perda de energia (pelo calor, por exemplo) pelo caminho. Teoricamente, a supercondutividade permitiria uma transmissão mais eficiente da energia elétrica, mas ela hoje só é possível em compostos resfriados a temperaturas muito baixas. Supercondutores deverão ter aplicações fundamentais também nos reatores de fusão nuclear.
Enquanto não surgem reatores de fusão nuclear eficientes e baratos, a humanidade tenderá a aproveitar formas renováveis e não-poluidoras de produção de energia.
Algumas delas ainda são economicamente inviáveis, em parte pela inexistência de usinas de grandes dimensões. Mas como o custo político e ambiental do uso de combustíveis fósseis vem aumentando, a viabilidade econômica das energias “alternativas” também crescerá.
É o caso da energia das marés, da solar, da eólica (dos ventos), da geotérmica (calor do solo) e da mais difundida hidrelétrica. Com o impacto ambiental crescente de grandes hidrelétricas, também tendem a se tornar viáveis as usinas de menor tamanho.
Assim como nem todos os países têm reservas de combustíveis fósseis, também não são todos que podem usar essas alternativas, por exemplo por falta de ventos fortes ou de dias de sol. Criar uma mistura de fontes de energia ambiental, política e economicamente seguras é o desafio dos planejadores do século 21. (RBN)



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