Diretor Atom Egoyan se surpreende com título de seu novo filme no Brasil
O cineasta Atom Egoyan, 49, ficou surpreso --para não dizer chocado-- com o nome de seu mais recente filme no Brasil, que estreia hoje. "Chloe", uma das personagens do longa e título original, chega ao espectador por aqui como "O Poder da Traição".
"É curioso... [pausa e suspiro] É complexo, eu não sabia que essa seria a tradução", afirmou Egoyan à Folha, em entrevista por telefone, de Toronto, no Canadá. "Eu não sei por que não usaram somente Chloe. Eu não estou muito certo se é sobre traição o filme, para mim é muito mais sobre o poder da imaginação."
No nova produção do diretor de "Exótica" (1994) e "Adoração" (2008), Juliane Moore é Catherine, uma ginecologista bem-sucedida que começa a suspeitar da traição do marido, o professor David (Liam Neeson).
Diante da perda do desejo sexual do parceiro e de algumas suspeitas --uma mensagem no celular de David e um voo perdido sem explicações convincentes--, Catherine contrata Chloe (Amanda Seyfried), uma prostituta de luxo, para que ela seduza o marido.
"Catherine usa Chloe para reconectar-se ao seu marido, e Chloe usa Catherine como algo em sua vida que ela nunca teve, talvez como uma figura materna", explica o diretor.
Divulgação | ||
O diretor Atom Egoyan, com Juliane Moore e Amanda Seyfried (esq.), no set de filmagens de 'O Poder da Traição' |
Escrita inicialmente para ser filmada em San Francisco, nos Estados Unidos, a história foi rodada em Toronto. "Eu fui a San Francisco, e me dei conta de que há tantos filmes lá, já é quase um clichê. Eu queria criar algo novo, um lugar onde eu soubesse como essas pessoas se comportariam, os lugares que frequentariam", explica o cineasta.
"Toronto muitas vezes finge ser Nova York, Chicago, e agora está 'atuando' como ela mesma, como se fosse um território virgem."
Egoyan, egípcio de origem armênia, se mudou do Cairo para o Canadá quando ainda era bebê, aos dois anos, e cresceu na cidade de Victoria, na costa oeste. Aos 18 anos, deslocou-se para Toronto para estudar relações internacionais e violão clássico. Os dotes musicais do cineasta podem ser conferidos no filme. Na cena em que o filho de Catherine toca para Chloe, a execução da música é do cineasta.
Diferente de outros diretores, que atrelam sua produção ao país de origem, caso do alemão de família turca Fatih Akin, que tem o imigrante como tema central de sua produção, Egoyan busca a diversidade em seus filmes, nos quais se destacam histórias eróticas inusitadas.
Mas suas raízes estão presentes em "Ararat" (2002), sobre o genocídio dos armênios no começo do século 20. Presidente de um festival de cinema na Armênia, o diretor procura ir ao menos uma vez por ano ao país.
"É muito importante ajudar a Armênia, tento estar envolvido culturalmente. O grande assunto é a questão da negação da história e como isso afetou diferentes gerações", conta o diretor. "Mas eu sou canadense também, então, como você lida com todos estes assuntos em um lugar multicultural?"
Egoyan começou sua carreira como cineasta com seus 20 e poucos anos, quando estava envolvido com teatro e escrevia roteiros de peças.
Foram de diretores que deram seus primeiros passos nos palcos, como o sueco Ingmar Bergman e o alemão Rainer Fassbinder, as primeiras influências do egípcio. Depois, vieram os italianos Federico Fellini, Michelangelo Antonioni e Marco Bellocchio, o espanhol Luis Buñuel, o francês Robert Bresson e outros cineastas europeus.
Convidado várias vezes para participar da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo pelo diretor do festival, Leon Cakoff, também descendente de armênios, Egoyan ainda não deu as caras por aqui. Mas é dele o pôster da 27ª Mostra, de 2003.
Marketing
O departamento de marketing da Playarte, distribuidora de "O Poder da Traição", é o responsável por dar os títulos dos filmes que chegam ao espectador nos cinemas.
Segundo Eliete Morais, gerente de marketing, para se chegar ao nome de um filme são levados em consideração alguns critérios, como "coerência com o enredo". "Tem que ser 'palatável' e de fácil pronúncia", explica ela. Segundo Eliete, é feita uma pesquisa para checar se não há outros títulos iguais já lançados.
Além disso, outra característica importante é ser "comercial". "É um produto que se lança no mercado para vender." No caso do novo longa de Atom Egoyan, não foi usado o original, "Chloe", porque "o nome da personagem não fala do que se trata o filme".
Aqui, não foi utilizado o critério de originalidade, já que "O Poder da Traição" foi título no Brasil do filme "Keep Your Distance", de 2005, do diretor Stu Pollard.
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