Virada Cultural recupera público e vai bem em segurança e limpeza, mas ainda tem vazios nos bairros

Com centro vitaminado, evento atrai 3 milhões, diz a Prefeitura, mas polos regionais devem ser revistos

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São Paulo

Encerrada no domingo (20) aos sons de Balão Mágico, Falamansa e Gabriel o Pensador, a 14ª Virada Cultural equilibrou saldo positivo de público no centro de São Paulo e uma reincidente baixa atratividade nos bairros.

A prefeitura estima que 3 milhões de pessoas participaram do evento em 2018 --2 milhões em atrações na região central, cuja relativa retomada chama a atenção.

O esvaziamento do centro acabou sendo a marca da edição de 2017, a primeira sob a batuta do então prefeito João Doria (PSDB) e de André Sturm, secretário municipal de Cultura. Neste ano, Sturm optou por reforçar a programação na região.

O público não alcançou os patamares pré-2016, quando o centro concentrava a Virada e atraía de 3 milhões a 4 milhões de pessoas, mas foi superior ao de 2017, quando o evento todo atraiu 1,6 milhão de pessoas.

Nomes como Rouge, Nação Zumbi, Caetano Veloso, Valeska Popozuda e Gretchen atraíram grande público.

Marcelo D2 destacou-se ao juntar cerca de 50 mil pessoas na avenida São João, segundo policiais e bombeiros no local.

Também fizeram sucesso atrações não musicais, como o parque de diversões no Vale do Anhangabaú, as festas e os cinemas no vão livre do Masp e na rua 15 de Novembro.

"Como não tínhamos experiência, houve uma limitação na instalação dos brinquedos, e o parque de diversões acabou sendo reduzido", disse Sturm à imprensa logo após o encerramento do evento.

O secretário prometeu aumentar o parque no ano que vem, "para que mais pessoas possam brincar".

Em termos de infraestrutura, a região não teve registros de derrapadas como as de 2017, quando foram muitos os pontos sem equipamentos de som adequados, ou mesmo sem equipamento algum.

Não se repetiram críticas de artistas e público a vazamentos de som de um show em outro --a proximidade entre os palcos foi revista, assim como a altura das tablados.

Houve apresentações que, muito procuradas, registraram tumultos, caso do show de D2 e do cortejo de Caetano.

Por outro lado, outros ficaram esvaziados. Um dos estandartes do soul brasileiro, Tony Tornado cantou para menos de cem pessoas na alameda Barão de Limeira.

São episódios que sugerem que, embora a escalação tenha melhorado, a distribuição de nomes, horários e locais pode ser mais bem pensada e divulgada.

Programação e divulgação também foram fatores relevantes para o irregular desempenho dos cinco polos regionais, marcas registradas da Virada Cultural sob Sturm.

Os shows de samba no estacionamento da Arena Corinthians, em Itaquera, tiveram público decepcionante.

"Infelizmente não deu certo o palco no Itaquerão", afirmou Sturm, dizendo não saber a razão da baixa procura, apesar da "programação excelente e do metrô na porta".

"Foi nossa maior frustração. Centros culturais fizeram mais público do que o palco oficial da zona leste. Pedimos até para os artistas que fizessem relatórios sobre seus shows, se quisessem, e vamos avaliar o que fazer."

Chácara do Jockey, Parque da Juventude e praça do Campo Limpo tiveram públicos entre regular e bom, talvez por serem locais com relação aos quais a população já desenvolveu conexão e familiaridade.

No primeiro, Karol Conka e The Slackers fizeram espetáculos memoráveis, e as festas de eletrônica funcionaram bem. Na zona norte, Veja Luz e Black Alien e a cantora Liniker fizeram shows militantes e elogiados, como também o foram os de Emicida e Diogo Nogueira no Campo Limpo.

As Casas de Cultura levaram a Virada a regiões mais distantes do centro. Neste ano, participaram as instalações no Butantã, Ipiranga, Itaim Paulista, Brasilândia, Tremembé e Itaquera. A programação contemplou música, circo, teatro, literatura e dança.

"O secretário [André Sturm] quis fazer a Virada descentralizada. Isso é bom, porque incentiva as pessoas a conhecerem os aparelhos públicos de cultura", disse Diego de Souza, coordenador da casa Chico Science, no Ipiranga.

O que Diego de Souza diz corrobora os argumentos da prefeitura ao defender a pulverização do evento.

Em junho de 2017, segundo dados da secretaria de Cultura, o público aumentou 20% no Theatro Municipal, 49,7% no teatro Martins Penna, 73% no Centro Cultural Grajaú e 153% no teatro Alfredo Mesquita, na comparação com os números de maio, pré-Virada.

Elevada à condição de prioridade, a segurança foi ponto positivo no evento em 2018. Embora tenha havido casos de vandalismo --um carro policial, dois prédios da Polícia Civil e a fonte da praça Júlio de Mesquita foram pichados na madrugada de domingo--, a Polícia Militar não registrou mortes ou lesões corporais.

Foram realizados 480 atendimentos locais e 20 remoções para hospitais, a maioria de pessoas com pressão baixa.

Colaboraram Alessandra Braz, Amanda Lemos, Amanda Nogueira, Carlos Bozzo, Eduardo Moura, Fillipe Mauro, Hildeberto Jr., Leonardo Volpato, Kelly Mantovani, Mariana Vick, Martha Alves, Priscila Camazano, Victoria Azevedo e Thiago Ney.

 

VIROU

Parque de diversões
Teve boa procura de público, de adultos e de pais com crianças; atrações como chapéu mexicano e carrinhos de bate-bate tiveram filas de até uma hora e funcionaram na madrugada, sem incidentes, lembrando que o Anhangabaú foi pensado como um parque 

Sessões de cinema
Embora no vão livre do Masp o vento tenha espantado parte da audiência dos documentários exibidos, as sessões de filmes de terror na rua 15 de Novembro tiveram suas 300 cadeiras quase todas ocupadas ao longo da madrugada por um público precavido, com agasalhos e até mantinhas

Centro reforçado
Região teve nomes de mais peso e aumento de público; apesar de tumultos pontuais, não houve violência

NÃO VIROU

Centro Esportivo Tietê
Novidade deste ano, o espaço não conseguiu atrair o público potencial do gospel; fãs relataram que só souberam do show de Fernandinho, grande nome da música cristã, por postagens em redes sociais

Arena Corinthians
Estacionamento do estádio desperdiçou a audiência que poderiam ter os nomes de peso do samba que ali se apresentaram, como Leci Brandão; a estimativa da produção do evento era de que 500 pessoas houvessem passado pelo local até as 21h de sábado. 

Acessibilidade
Era considerado um ponto-chave neste ano, e intérpretes de Libras e banheiros adaptados foram previstos, bem como áreas exclusivas para portadores de deficiências nos palcos maiores. Houve, porém, algumas falhas, como dificuldade para chegar à área especial no palco principal da Chácara do Jockey, tomado por lama após a chuva do sábado, ou um banheiro no Arouche cuja porta não abria por causa de um canteiro —a localização foi corrigida no domingo.

 

Melhores shows

Nação Zumbi tocando “Afrociberdelia” no Boulevard São João

Juçara Marçal no Cabaré da praça da República

Karol Conká na Chácara do Jockey

Marcelo D2 no palco Skate, na av. São João

Elza Soares no palco Queer, na praça da República

Tarado ni Você com Caetano Veloso, cortejo na Consolação

Liniker e Os Caramellows no parque da Juventude 

Xande de Pilares e Eliana de Lima na Arena Corinthians

André Frateschi, Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá tocando “Legião Urbana 30 Anos” no Boulevard São João 

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