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Shyamalan revive auge criativo com 'Vidro'

Diretor de 'O Sexto Sentido' acerta ao fazer do fim de trilogia sobre super-heróis uma poderosa ode à fantasia

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Cena de 'Vidro', de  M. Night Shyamalan

Da esq. para dir., Elijah Price (Samuel L. Jackson), Kevin Crumb (James McAvoy) e David Dunn (Bruce Willis) em 'Vidro' Divulgação

Vidro (Glass)

  • Quando Estreia nesta quinta (17)
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Bruce Willis, Samuel L. Jackson, James McAvoy
  • Produção EUA, 2019
  • Direção M. Night Shyamalan

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"Vidro" é o desfecho de uma estranha trilogia que M. Night Shyamalan iniciou em 2000, com "Corpo Fechado", e continuou só em 2016, com "Fragmentado". Nesse meio tempo, cada novo filme do cineasta trazia um nível de qualidade tão imprevisível quanto as habituais reviravoltas de seus roteiros: impossível saber o que esperar de seu trabalho seguinte.

Desde o êxito de "O Sexto Sentido" (1999), o diretor nunca mais conheceu a unanimidade; viu o público se dividir entre idólatras e detratores.

Os fãs veneram tudo o que ele fez até "A Dama na Água", mas preferem esquecer a fase entre "Fim dos Tempos" (2008) e "Depois da Terra" (2013).

Com "Fragmentado", voltaram a se animar, e por isso "Vidro" tem gerado tanta expectativa —seria o retorno definitivo do cineasta à boa forma?

A paixão dos entusiastas não é à toa. Louvam a refinada técnica de Shyamalan e seu inabalável estatuto de autor, com seus temas e estética recorrentes. Mas têm apreço especial pelas pinceladas metafísicas (e metafóricas) de sua obra: para eles, as entrelinhas de seus filmes têm muito a dizer sobre o homem e o mundo.

Já os detratores veem algo de fraudulento em seu cinema, feito sob medida para agradar o fã-clube. Sua obra opera sempre em um nível simplificado e pueril demais de uma filosofia existencial que o diretor ambiciona, mas apenas tangencia —em geral, com dicotomias à HQ.

"Vidro" talvez decepcione os fãs que adoram buscar significados profundos e alegorias complexas na obra de Shyamalan, já que desta vez não há muita entrelinha a ser explorada. O grande prazer do filme, seu charme, está no fato de o diretor aqui assumir uma filosofia abertamente binária, no estilo das HQs mais rudimentares, e não ter vergonha disso. Aliás, está nessa atitude a própria essência do longa.

"Vidro" é uma espécie de contraponto aos anteriores da trilogia. Não teme ser tomado pelo que os outros dois pareciam constrangidos de ser —um filme de super-herói. Só que em vez do selo Marvel ou DC, traz a grife Shyamalan.

Ou seja, efeitos especiais não são o cerne, mas estão lá os temas de sempre: a fé no que parece impossível; a angústia existencial; opostos vistos como complementos. E os códigos visuais de costume —reflexões em superfícies espelhadas, takes de cabeça para baixo e personagens que encaram a câmera.

O indestrutível David (Bruce Willis) e o gênio do mal Glass (Samuel L. Jackson) se reencontram anos após "Corpo Fechado". Conhecem Kevin (James McAvoy), de "Fragmentado", e suas 24 personalidades.

Os três viram objeto de estudo de uma psiquiatra (Sarah Paulson) que não crê em superpoderes —ela acha que os feitos impressionantes do trio são um misto de acaso com delírio de grandeza.

A doutora bem que poderia estudar o próprio Shyamalan: como seus personagens, ele tem uma fé que beira o delirante —no caso, na própria habilidade de fazer filmes. E em "Vidro", essa crença se converte em heroísmo, ao fazer funcionar muito bem um material duvidoso, difuso em excesso.

E Shyamalan o faz de modo admiravelmente solto, brincalhão, sem medo do prazer descompromissado. "Vidro" é exatamente sobre não levar tudo tão a ferro e fogo.

É uma celebração das HQs no que elas têm de mais fascinante: resguardar o direito humano de fantasiar livremente e de sonhar, mesmo que os imperativos da vida prática nos digam o contrário. Se o mundo nos vê com olhos de uma doutora cética, Shyamalan defende que sejamos os heróis improváveis —não cegos à realidade, mas capazes de nos soltar dela de vez em quando.

"Tenha fé no que você tem de melhor", diz a mensagem do filme. E ela foi seguida pelo próprio diretor, que assume que sua maior virtude é fazer o público devanear, divagar.

Shyamalan compõe uma ode pessoal à fantasia. Sem se levar tão a sério como muitos de seus entusiastas.


De que filmes saíram os personagens

David Dunn (Bruce Willis)

Segurança de estádio, descobre que é indestrutível em 'Corpo Fechado' (2000) e se torna um vigilante. Em "Vidro", ele sai no encalço de Kevin Crumb, o assassino de múltiplas personalidades

Elijah Price (Samuel L. Jackson)

Ossos frágeis como vidro são o ponto fraco do personagem que dá as caras primeiro em 'Corpo Fechado' e retorna agora como um gênio do crime, disposto a manipular Dunn e Crumb

Kevin Crumb (James McAvoy)

Em 'Fragmentado' (2016), esse criminoso rapta três garotas e as enlouquece com suas mais de 20 personalidades. Em 'Vidro', ele é mantido numa instituição psiquiátrica

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