Odair José, 70, manda ver em discão de rock clássico e psicodélico

Compositor lança 'Hibernar na Casa das Moças Ouvindo Rádio', seu 37º álbum

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São Paulo

Notícia de última hora. O cantor e compositor anunciou um retiro. "O mundo aqui fora não está legal, então vou hibernar. Só que na casa das moças, numa casa de tolerância. E lá vou ficar ouvindo as notícias aí de fora."

Assim Odair José de Araújo, 70, resume o 37º disco de sua carreira. "Hibernar na Casa das Moças Ouvindo Rádio" sai nesta sexta (26) e tem lançamento no Sesc Belenzinho no fim de semana seguinte.

"Vou me internar por um tempo/ Me avisa quando a cena mudar/ O mundo está de ponta-cabeça, espera ele aprumar", anuncia Odair logo na abertura do álbum na música "Hibernar".

Odair José já foi chamado de "terror das empregadas" devido a canções no início dos anos 1970, como "Pare de Tomar a Pílula" e "Vou Tirar Você Desse Lugar". Eram músicas inspiradas na fase romântica de Roberto Carlos, mas com instrumentação menos grandiosa, logo consideradas como "bregas".

Por tudo isso, o novo disco impressiona em diversas frentes. As letras são de cunho social, o som é rock clássico e psicodélico, a capa é como se fosse um cartaz hipster e o resultado é de primeira.

"Rapaz Caipira", por exemplo, é um rock com o inconfundível toque de guitarra de Keith Richards. "É meio Stones", diz Odair. "Sem conseguir chegar neles, mas tento." Foi o terceiro single do disco, lançado na semana passada.

Outras vibram no acorde psicodélico, como "Ouvindo Rádio", com sons etéreos e cantados como se fossem por alto-falante e um que paga seu devido tributo a "Radio Ga Ga", do Queen. É, afinal, o meio de comunicação que tornou o compositor conhecido em todo o Brasil.

Ou "Chumbo Grosso", que transita entre os Kinks e os Beatles mais viajandões, com sons de circo e um andamento que faz você balançar a cabeça. Seus versos iniciais são "O assunto agora é a cultura da bala/ Na falta de argumento, a solução é uma vala".

Nessa canção, lançado como single em fevereiro, ele divide os vocais com Assucena Assucena e Raquel Virginia, do grupo As Bahias e a Cozinha Mineira. Foi o primeiro single.

No início da faixa, outra participação especial: de Luiz Thunderbird, que faz as vezes de um apresentador de rádio. Aqui ele narra uma "incrível liquidação de armas de fogo. Você pediu? Agora chupa".

 

"É um convite à desobediência, à narrativa da falsa moral, à hipocrisia estabelecida, que já vem de muito tempo", afirma o compositor.

"Na verdade, esse lançamento é um complemento ao meu trabalho de 1977, que teve oito de suas 18 músicas censuradas pela ditadura militar." O álbum era "Filho da José e Maria", disco que acabou com a carreira de Odair naquela década.

Após seis anos de sucesso ininterrupto (10 milhões de cópias vendidas, segundo ele), essa ópera-soul de 1977 seria um disco duplo, não fossem as interdições da censura. Era livremente inspirada na vida de Jesus e, talvez por isso, não foi bem recebida por seus fãs.

"Foi muito criticado, da família ao frentista. Acho que estava à frente do seu tempo. Foi colocado como o fim de um momento bem-sucedido. Mas hoje não me vejo sem ele."

Tanto é que, nos últimos tempos, Odair tem feito shows em que toca "O Filho de José e Maria" integralmente. O que ele não conseguiu fazer na ocasião, uma vez que, devido ao fracasso comercial, foi obrigado a cancelar a turnê do show em 1977.

"Hibernar na Casa das Moças Ouvindo Rádio" pode ser um complemento, mas Odair não parou nos anos 1970.

Em "Fora da Tela", por exemplo, um hard rock bastante poderoso, ele denuncia o mundo das fakes news e a dependência atual dos humanos em relação ao celular. Odair canta com voz rouca "Vem viver fora da tela/ Achar prazer à luz de vela".

E comenta: "Eu não achei que fosse estar vivo para ver essa tecnologia de hoje. Mas a humanidade está plugada demais", diz o artista.

Um outro bom rock pesado é "O Imigrante Mochileiro", que traz vocais gravíssimos de Jorge du Peixe, da Nação Zumbi. Poderia estar em qualquer disco do Creedence Clearwater Revival. Odair conta que ele é o personagem do título: "Me sinto estrangeiro onde quer que eu vá".

Esse lançamento também pode ser visto como o terceiro de uma onda de rock and roll que Odair iniciou com "Dia 16", em 2015, e "Gatos e Ratos", em 2016. "Sempre gostei de rock. Conversava muito com Raul Seixas quando a CBS me contratou, em 1969. Era Elvis, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis, Little Richard. Depois aconteceram os Beatles e todo mundo ficou contagiado por aquilo", lembra ele.

Ele cita outros artistas que o influenciaram bastante: Steely Dan, Herbie Hancock, Jimi Hendrix. "Gostava de um jazz rock progressivo. E vejo que hoje essa banda chamada Muse faz isso. Gostei muito de Lenny Kravitz e Greta van Fleet no Lollapalooza. Achei a Iza, do funk, muito boa. E a apresentação dos Tribalistas foi sensacional. Mas vi tudo pela TV."

Não que Odair não aguentasse um passeio pelo autódromo. Há 12 anos vai diariamente à academia. Largou o álcool e outras drogas e hoje só está viciado em fazer exercícios, o que pode ser conferido por seus músculos. "Como disse Noel Gallagher, trocou um vício por outro", diz.

Seja como for, quando sair de sua hibernação, Odair José já tem planos delineados para este mundo que anda de ponta-cabeça: "Detesto a mesmice. Antes de morrer, ainda vou fazer muita confusão".

Hibernar na Casa das Moças Ouvindo Rádio

  • Preço R$ 20 (CD) e nos serviços de streaming
  • Gravadora Monstro Discos
  • Artista Odair José

Faixa a faixa

'Hibernar'
Rock mais clássico, com guitarra marcando versos

'Casa das Moças'
Blues com gaita

'Ouvindo Rádio'
Rock nervoso que paga seu devido tributo a 'Radio Ga Ga', do Queen

'Rapaz Caipira'
Um rock na levada dos Rolling Stones

'Chumbo Grosso'
Transita entre Kinks e Beatles mais psicodélicos, com As Bahias e a Cozinha Mineira

'Fora da Tela'
Hard rock grave, que denuncia o mundo das fakes news e a dependência do celular 

'O Imigrante Mochileiro'
Outro rock pesado de primeira, com Jorge du Peixe, da Nação Zumbi

'Pirata Urbano'
Sons de órgão sessentista embalam a viagem ao 'mundo insano do pirata urbano'

'Fetiche'
Essa remete aos sons da Motown. 'Aqui vai ter sexo, vai ter droga', avisa

'Gang Bang'
Uma defesa ao sexo grupal com uma batida sincopada pesada, como o tema exige 

'Liberado'
Única balada do disco, é uma ode à liberdade

Show de lançamento, com participação de Bahia e as Cozinha Mineira e Luiz Thunderbird

  • Quando Sex. (3/5) e sáb. (4/5), às 21h30
  • Onde Sesc Belenzinho (r. Padre Adelino, 1.000)
  • Preço R$ 20

 

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