SP-Arte faz a sua segunda feira virtual, com galerias de peso de volta depois de briga

Maiores casas do país fazem as pazes com o evento depois de desentendimento sobre valores no ano passado

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Porto Alegre

É com uma dose de ânimo e um pouco de resignação que as galerias participam, a partir desta quarta-feira, da segunda edição virtual da feira SP-Arte.

Ânimo porque os galeristas encaram a edição virtual do evento paulistano como uma prévia para sua versão presencial, marcada para agosto, e porque, depois de terem participado de um punhado de feiras digitais durante a pandemia, eles garantem que o formato não compete com a versão física e ainda traz novos clientes, mais jovens e de fora de São Paulo.

“A própria SP-Arte está apostando que o online é uma plataforma também de divulgação da feira física”, afirma Alex Gabriel, sócio da Fortes D’Aloia & Gabriel, galeria que mostra no digital uma seleção rotativa de trabalhos de seus artistas, entre os quais inéditos de Leda Catunda, escalada para a próxima Bienal de São Paulo, e Iran do Espírito Santo. O digital é um canal que se desenvolveu durante a pandemia e não há porquê ser fechado com a volta dos eventos presenciais, ele acrescenta.

Mas há também certa resignação por causa da ausência de feiras presenciais durante a pandemia e de uma adaptação forçada do setor ao mundo virtual. Com exceção da ArtRio, no Brasil, da Frieze, em Nova York, e de algumas poucas feiras no exterior que começaram a ser retomadas neste ano, os “viewing rooms” digitais são a alternativa possível, e o meio está aprendendo a exibir e vender obras atrativas aos cliques.

Esta edição online da SP-Arte terá 95 galerias de arte —dez a menos do que ano passado— e 20 de design. Estão ausentes, por exemplo, nomes fortes estrangeiros, como a americana David Zwirner, a britânica Lisson e a alemã Neugerriemschneider, mas há o retorno de casas importantes brasileiras.

Mas não é um evento só digital, diz Fernanda Feitosa, a diretora da feira. O formato virtual acontece simultaneamente à Gallery Week, que reúne cerca de 50 programas presenciais em galerias, como encontros com curadores e artistas e “visitas” de galerias de fora, a exemplo de um galpão na Vila Madalena reunindo obras da paulistana Sé, da brasiliense Karla Osorio e da carioca Portas Vilaseca.

A Gallery Week foi fruto de uma consulta feita aos galeristas, conta Feitosa, “para que as pessoas vão aos poucos se acostumando a frequentar as galerias” com a reabertura durante a pandemia, e porque havia a ideia de tentar um formato híbrido.

Segundo Feitosa, o “viewing room” não deve tirar público da versão presencial da feira, marcada para daqui a dois meses, na Arca, um galpão na Vila Leopoldina, em São Paulo, e que pode ser adiada ainda para este ano caso a pandemia se agrave.

Estreiam agora na SP-Arte online nomes poderosos do circuito, como as casas Bergamin & Gomide, Luisa Strina e Paulo Kuczynski Escritório de Arte. No ano passado, essas galerias se ausentaram após um desentendimento entre a organização do evento e dezenas de expositores, causado pelo cancelamento em cima da hora da edição presencial da feira devido à pandemia.

Depois de anunciar a suspensão da feira no pavilhão da Bienal de São Paulo, a SP-Arte disse que só devolveria aos marchands um terço do valor que haviam investido, mas em seguida recuou e anunciou que ressarciria os valores na íntegra, em resposta à pressão de 80 expositores.

A locação de um estande na Bienal, onde a feira tradicionalmente ocorre, começa em R$ 20 mil e ultrapassa os R$ 100 mil. Já a edição virtual cobra valores uniformes —R$ 6.000 para as galerias e R$ 3.000 para jovens designers.

Mas qualquer mal estar com a SP-Arte ficou no passado, é “coisa esquecida”, diz Luisa Strina.

Sua galeria põe à venda na feira virtual um neon do chileno Alfredo Jaar que faz alusão à Semana de Arte Moderna de 1922 por R$ 100 mil, por exemplo, e a Bergamin & Gomide traz uma tela em têmpera de Mira Schendel por US$ 110 mil, ou mais de meio milhão de reais.

Obra de Felippe Moraes, na estação da Luz, em São Paulo; o artista é representado pela galeria Verve
Neon de Felippe Moraes, na estação da Luz, em São Paulo; o artista é representado pela galeria Verve - Felippe Moraes / galeria Verve

Ainda nas obras de valores mais altos, uma escultura do paraibano José Rufino sai por R$ 220 mil na Kogan Amaro. Ou seja, aos poucos está sendo quebrado o “conceito de que a Internet só serve para obras baratas”, diz Feitosa. “A questão do preço mais alto é uma barreira que algumas galerias vão superando pela própria experiência que tiveram na SP-Arte ou em algum outro ‘viewing room’ de que tenham participado."

Segundo Strina, não necessariamente os clientes gastam menos numa feira digital. “Feira é uma questão de sorte. Tem feira que você vende muito mal e tem feira que você vende superbem.” Ela acrescenta que é mais difícil vender pinturas pela internet, pela questão da textura, enquanto objetos e esculturas são mais fáceis de serem visualizados na tela.

De acordo com agentes de galerias menores, o que está em jogo é a visibilidade que a plataforma da SP-Arte traz. Na edição virtual do ano passado foram 100 mil visitantes, 40% de fora de São Paulo e 15% do exterior, segundo Feitosa.

“A feira online possibilita um alcance maior —não digo comercialmente, digo de divulgação. Me possibilitou alcançar colecionadores que não necessariamente numa feira presencial eu iria alcançar”, afirma Camila Tomé, sócia da galeria C, do Rio de Janeiro.

Sua galeria aproveita o mês da visibilidade LGBTQIA+ e apresenta obras de três jovens artistas desta comunidade —Élle de Bernardini, Rafael Bqueer e Uýra Sodoma, paraense escalado para a próxima Bienal de São Paulo com fotografias que registram performances em florestas ameaçadas. Os valores vão de R$ 6.000 a R$ 36 mil.

O evento também não deve ficar alheio aos NFTs, o furacão que varreu o mundo das artes neste ano. A galeria HOA fez uma parceria com a plataforma Hic et Nunc, de Brasília, e vai vender em tezos, uma criptomoeda, uma seleção de trabalhos de seus artistas queer, indígenas, pretos e asiáticos, e a Casanova vende um GIF de Alice Quaresma, artista brasileira radicada em Nova York.

SP-Arte Viewing Room e Gallery Week

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