Segredo para sobreviver a Cannes é dormir bem e usar belas roupas, diz Spike Lee

Convidados do festival francês contam como encaram a maratona de filmes

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Kyle Buchanan
Cannes (França) | The New York Times

Com duas semanas de duração, o Festival de Cannes pode ser muito sacrificado. Há tantos filmes a assistir e tantos eventos glamorosos aos quais comparecer que é fácil se esgotar –ou pior, cair no sono durante a exibição de um futuro ganhador da Palma de Ouro.

Os frequentadores mais responsáveis de Cannes assistem a um ou dois filmes por dia e depois se retiram para seus quartos de hotel, mas não sou uma dessas pessoas. Sei que as coisas mais loucas frequentemente acontecem depois da meia-noite, por aqui, como aquela ocasião, anos atrás, em que vi Channing Tatum e Jane Campion gastando o piso de dança à beira-mar, ao som de Lykke Li. Quem iria querer dormir cedo e perder isso?

Na noite de domingo em Cannes, enquanto minha energia oscilava, me ocorreu que enfim tínhamos chegado à metade do festival. Seis dias completos, mais seis por vir. No jantar da Kering Women in Motion, naquela noite, perguntei ao presidente do júri do festival, Spike Lee, como é que ele estava mantendo a energia.

“Eu sabia antes de chegar que teria de assistir a 24 filmes, e por isso durmo cedo e compareço para fazer o meu trabalho”, disse Lee. “Como é que se pode assistir a 24 filmes e sair circulando pela noite?”

Respondi que muita gente por aqui estava a ponto de tentar essa insensata façanha, o que incluía o jornalista com quem ele estava conversando. “Tudo bem, mas você não é o presidente do júri”, disse Lee. “Como minha mãe diria, é hora de pôr esse traseiro negro e magrela na cama”.

Leitor, eu não estava pronto para seguir esse exemplo. Conversei com alguns dos colegas de Lee no júri, Mélanie Laurent e Tahar Rahim, sobre como eles estavam mantendo o ânimo em meio às festividades. “Amigos”, disse a atriz e cineasta francesa Laurent. Muitos de seus amigos estavam assistindo aos filmes, também, e ofereciam a ela opiniões diferentes das do júri. “Estamos todos juntos na mesma grande jornada.”

O conselho inicial de Lee foi ratificado por Rahim, astro do recente drama “The Mauritanian”.

Conversamos enquanto ele assistia à final da Eurocopa 2020 de futebol em seu iPhone. “Dormir bem ajuda”, me disse Rahim, voltando os olhos para o telefone no momento em que a Itália passava à frente. “E às vezes um pouquinho de futebol.”

É claro que todo mundo diz que dorme bastante. Mas quantos dos espectadores do festival seguem de verdade o conselho que dão?

“Ninguém”, disse Eva Husson, diretora de “Mothering Sunday”. “O normal é dormir quatro horas por noite em média, e aí tomar Red Bull ou café às seis ou sete da noite porque você precisa sobreviver ao evento das 21h.”

Husson, que concorreu no festival pela última vez com “Filhas do Sol”, três anos atrás, também acautelou que, depois de um par de dias de festa o tempo todo, pode surgir um momento de depressão. “Normalmente lá pelo quarto dia”, ela disse, sabiamente. O que pode ser feito quanto a isso?

“Você precisa saber que vai passar, que tudo vai ficar bem”, disse Husson. “Você se recompõe, usa a energia dos espectadores e aproveita ao máximo.” Ela inclinou a cabeça. “Ou tenha uma amiga que vive por perto e vá à praia com ela, que é o que eu estou fazendo.”

Esse conselho me pareceu mais útil. Em lugar de gastar toda a energia batalhando para entrar na próxima première ou festa, por que não intercalar outras atividades divertidas? Para Lee, se vestir bem é uma das saídas.

O presidente do júri já atraiu muita atenção, com modelos como um terno rosa brilhante e um terno com estampa geométrica “houndstooth”, selecionados por Virgil Abloh, diretor artístico de moda masculina da Louis Vuitton, e parte da diversão do festival é descobrir o que Lee vestirá a seguir.

“Estou me divertindo muito nessa colaboração com Virgil”, disse Lee. “Com sorte poderemos voltar a colaborar. Não quero que pare nisso.”

Lee tem modelos ainda mais ousados à espera para a metade final do festival, como forma de ajudar a manter sua energia alta? “Não posso contar, porque teria de matar você”, ele disse, rindo. “E aí A. O. Scott nunca mais faria uma boa crítica sobre um filme meu!”

Tradução de Paulo Migliacci

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