Descrição de chapéu Livros

Sucessora da Cosac Naify, Ubu faz cinco anos com uma série de debates e sorteios

Dedicada à não ficção e a edições especiais de clássicos, editora dobrou o quadro de funcionários na pandemia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Mais do que o fim da Cosac Naify, dezembro de 2015 marcou uma espécie de esquartejamento. A editora que por lépidos 20 anos impactou o mercado de livros no Brasil pela elegância e pelo risco estético se deparou com os limites do mecenato, e coube a outras casas, grandes e pequenas, abocanharem o que podiam do banquete.

Foi o caso da Ubu, que surgiu no ano seguinte. A editora herdou o braço de não ficção, com livros que não podem faltar a universitários de diversas áreas, o que dá sustentabilidade ao catálogo, ao mesmo tempo que arrisca no cuidado visual e no luxo, com edições limitadas e artesanais de clássicos. Daí que, prestes a completar cinco anos no mercado, a casa se tornou uma das várias independentes que mantêm viva a cara da Cosac.

Florência Ferrari, diretora geral da Ubu - Gabriel Cabral/Folhapress

As caras, no caso. Florência Ferrari, atual diretora-geral da Ubu, e Elaine Ramos, diretora de arte, são ambas sócias-fundadoras que tiveram mais de dez anos de experiência na editora encabeçada por Charles Cosac.

Não surpreendem, portanto, versões exclusivas assinadas por artistas. É o caso da "Odisseia" e da "Ilíada", de Homero, com capas de tecido cortadas manualmente por Odires Mlászho, vendidas por R$ 800, que atendem a um nicho de colecionadores e ajudam a bancar as versões "comuns".

Durante a maior parte da sua trajetória, a Ubu foi uma casa tocada por poucas pessoas, na faixa de sete ou oito, todas mulheres. Só a partir do aumento da venda de livros observado durante a pandemia que, a partir do final do ano passado, a equipe quase dobrou.

Hoje, 14 pessoas compõem o time que cuida das etapas editoriais e do Circuito Ubu, clube de assinaturas criado no ano retrasado, que demanda atenção especial. São, afinal, cerca de 2.000 assinantes que recebem todo mês —ou a cada dois meses, a depender do plano— um ou dois livros do catálogo, voltados a debates contemporâneos como feminismo, racismo e arte.

Para a diretora-geral da Ubu, essa faceta mais quente da editora responde a uma demanda da sociedade. "O papel da editora é fazer uma mediação entre esse conhecimento que está sendo produzido nas universidades, se preocupando em ter uma linguagem acessível, sem jargões, e fazer com que essas ideias circulem e afetem a discussão de públicos que não estão nesse ambiente", diz.

O psiquiatra e escritor Frantz Fanon
O psiquiatra e escritor Frantz Fanon - Divulgação

Essa preocupação se reflete tanto ao trazer escritores atuais inéditos no Brasil —o bielorrusso Evgeny Morozov, o italiano Franco "Bifo" Berardi e a francesa Françoise Vergès—, como ao recuperar pensadores fundamentais como Frantz Fanon, que trouxe mais de 600 assinantes ao Circuito Ubu com o lançamento de "Pele Negra, Máscaras Brancas" em novembro do ano passado.

"O livro continua sendo uma das experiências transformadoras de como uma pessoa se pensa no mundo, constituindo uma consciência crítica a partir da leitura", diz Ferrari. "E o Circuito foi uma catalisação de um movimento que fomos observando, de pessoas que sempre adquiriam os livros na pré-venda e se dedicavam a discutir".

Com o clube de assinaturas atual, os livros enviados já se pagam no primeiro mês, ao mesmo tempo que se criou um grupo de leitores ávidos e receptivos a leituras fora de seus nichos e zonas de conforto, a partir de obras de autoridades no assunto, que as encorajem a permanecer nesses debates.

Agora, no "Ubu das 5 às 7", evento de aniversário da editora, esses assuntos chegarão ao público em debates com nomes internacionais. Com apoio da Folha, de 27 de setembro a 1º de outubro, haverá mesas sobre direitos indígenas, feminismo, política, arte e outros temas, sempre das 17h às 19h, no canal do YouTube da editora.

Entre os destaques, a mesa de abertura vai tratar os direitos indígenas, atacados com frequência, com a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, autora de "Cultura com Aspas". Já a cientista política Françoise Vergès conversará com Djamila Ribeiro, colunista deste jornal, sobre feminismos decoloniais, enquanto o psicanalista Christian Dunker e o professor Deivison Faustino, da Universidade de São Paulo, conversam sobre a obra de Fanon, psicanálise e racismo.

Em paralelo, a editora terá mesas dedicadas em livrarias parceiras pelo Brasil, que vão oferecer descontos e benefícios. É possível se inscrever no site do evento para acompanhar a programação, receber um ebook gratuito com textos complementares, e concorrer a livros. Entre eles, uma edição de colecionador da peça "Ubu Rei" —que batiza a editora—, escrita por Alfred Jarry em 1896, e que teve seu romance "Supermacho" entre os primeiros lançamentos do catálogo.

Colagem de Odires Mlászho em edição da 'Odisseia' da Cosac Naify - Divulgação

A nova edição terá tradução de Bárbara Duvivier e Gregorio Duvivier, também colunista deste jornal. A história é protagonizada por um político grotesco e mantém sua atualidade em comparação com líderes como Jair Bolsonaro e Donald Trump. Mas Ferrari conta que a edição vai se ater à inventividade do original, sem lançar mão de referências específicas, para não datar a obra e sua riqueza interpretativa.

Ubu das 5 às 7

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.