Descrição de chapéu Televisão pantanal

Entenda por que Alcides de 'Pantanal' não será mais castrado por Tenório

Cena foi substituída na nova versão e discutirá o machismo do peão, que desenvolverá amizade com personagem gay

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São Paulo

A tão esperada sequência da novela "Pantanal" em que Alcides, vivido por Juliano Cazarré, seria capado por Tenório, interpretado por Murilo Benício, vai sugerir, na verdade, uma outra violência —o peão será estuprado pelo ex-patrão.

Após se trancar com Alcides no quarto de uma tapera para onde levou o rapaz e sua ex-mulher, Maria (Isabel Teixeira), o grileiro de terras vai abusar sexualmente do novo companheiro de Bruaca, algo que não ficará explícito aos olhos do telespectador nem aos da ex-esposa, à espera dos dois do lado de fora.

 Murilo Benício é Tenório no remake de ‘Pantanal’
Murilo Benício é Tenório no remake de 'Pantanal' - João Miguel Jr./Globo

O vilão de fato promete capar sua vítima, mas ao arrastá-la para o quarto e fechar a porta, diz que lhe fará algo "muito pior".

Enquanto Maria espera do lado de fora, são ouvidos gritos de desespero de Alcides, que antes se debate fortemente. O estupro dá mais sentido a toda a sequência a seguir, já que o ato, em si, não será mostrado. Como já foi dito, após serem libertados por Tenório, Alcides e Maria voltam imediatamente para a fazenda de José Leôncio (Marcos Palmeira), sem qualquer sinal de necessidade de serem socorridos por uma suposta mutilação, o que já descarta a consumação da castração.

Alcides trata o fato de ter sido estuprado por outro homem como algo pior do que se tivesse sido capado, assim como Tenório diz a Bruaca que ela não mais tem um homem, mas só o que restou dele.

Ao sugerir o abuso, o autor da trama, Bruno Luperi, cumpre uma previsão feita em entrevista à Folha no início da novela: "A gente pode esperar um novo tratamento para isso, até porque, na época, foi criada uma ambiguidade sobre o fato. O que é mais forte é a intenção sobre o que foi feito, e muito menos o que foi feito. É uma questão de honra de dois homens anacrônicos, um atacando o outro", disse ele sobre o episódio quando a novela estreou e os capítulos do remake já estavam escritos.

O texto do capítulo 161, ao qual a reportagem teve acesso, tem previsão de ir ao ar em 1º de outubro, já na reta final da história, e corrobora a sugestão do estupro ao informar, em rubrica, que "pior do que as marcas de tortura pelo seu corpo, são as cicatrizes psicológicas que essa noite deixará", referindo-se a Alcides.

Na sequência de 32 anos atrás, como aponta o capítulo disponível no YouTube, há sangue nas mãos de Tenório, então vivido por Antônio Petrin. Na ocasião, como a versão da castração soou chocante para muita gente, Benedito Ruy Barbosa, autor da novela original, levantou dúvidas sobre o fato antes que a trama acabasse, dando a entender que Alcides não havia sido capado de fato.

O estupro, agora, aponta para a desconstrução desses dois personagens impregnados de um machismo em queda na vida real, plano no qual se discute até o fato de tantos homens ainda preferirem a morte à prevenção via exame de próstata que tanto lhes fere a honra.

A dor e a vergonha de Alcides o impedem de atender até aos pedidos de beijo de Maria, que insiste em lhe perguntar o que aconteceu de fato naquela tapera, sem que ele tenha coragem de confessar qualquer coisa à mulher, muito menos denunciar o crime do ex-patrão. Ele alega que não é mais homem e ela fica sem compreender o que o levou a tal estado.

A condição do peão fará com que ele se aproxime mais de Zaquieu, interpretado por Silvero Pereira, que é gay e vive a lhe ensinar sobre respeito à orientação sexual. Zaquieu é o único que talvez possa lhe explicar, mesmo sem conhecimento sobre o que se passou, que o fato de Alcides ter sido abusado sexualmente por outro homem não o faz mais ou menos macho.

De sua parte, o peão não consegue admitir a ninguém o que houve e só alimenta o plano de matar seu algoz, como aconteceu no desfecho da versão original.

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