Congresso gastará ao menos R$ 2,4 mi para reparar obras danificadas por golpistas

Ao todo, 78 peças foram vandalizadas durante a invasão, incluindo trabalhos de Brecheret e Athos Bulcão

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São Paulo

Um mês após golpistas terem deixado um rastro de destruição no Congresso Nacional, a Câmara e o Senado trabalham para recuperar obras de arte vandalizadas durante o ataque do dia 8 de janeiro.

Ao todo, 78 obras foram danificadas, sendo 14 no Senado e 64 na Câmara dos Deputados. Segundo dados das duas casas legislativas, será necessário ao menos R$ 2,4 milhões para reparar as peças.

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Prédio do Senado foi vandalizado por golpistas durante invasão no dia 8 de janeiro - Jefferson Rudy/Agência Senado

A equipe de restauro da Câmara recuperou até o fim de janeiro 81% das obras danificadas, como a escultura "Bailarina", do artista ítalo-brasileiro Victor Brecheret. Avaliada em R$ 5 milhões, a peça de bronze foi feita nos anos 1920 e virou um dos símbolos da destruição provocada pelos invasores.

Chefe do serviço de preservação da Câmara, Gilcy Rodrigues afirma que o parafuso que fixa o pé da peça ao pedestal se soltou quando a escultura foi jogada no chão.

Para recuperar a obra, os restauradores mandaram fazer um parafuso parecido com o que se perdeu durante a invasão e o instalaram na peça. Além disso, eles a limparam e retiraram resíduos químicos que poderiam danificar sua estrutura. A escultura voltou a ser exposta dias após o ataque.

Já a obra "Muro Escultórico", do artista plástico Athos Bulcão, sofreu três perfurações, mas voltou a ser exposto no final de janeiro, no Salão Verde da Câmara.

"Boa parte desses objetos não teve danos profundos. Só precisamos higienizar e tirar estilhaços de vidro", diz Rodrigues, a chefe de restauração.

Há, porém, peças que podem levar um ano para serem restauradas em razão da gravidade dos estragos. É o caso dos presentes protocolares, ou seja, obras que foram oferecidas ao Brasil por outros países. Dos 46 presentes expostos no Salão Verde da Câmara, 12 foram danificados e três foram destruídos, segundo relatório da casa legislativa.

"Só restaram os cacos dos vasos de porcelana. Então, além de restaurar, a gente tem que fazer um trabalho de minerador e arqueólogo para catar os pedaços e juntar os cacos." Por isso, o trabalho de restauro deve levar cerca de um ano para ser concluído. "Estamos deixando para o final aquelas peças que estão mais comprometidas."

Há ainda obras que sumiram depois da invasão, como é o caso da "Pérola do Qatar", presente que o país do Oriente Médio deu ao então presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Além dela, desapareceu uma bola com o autógrafo do jogador Neymar.

Rodrigues conta que a equipe de restauração da Câmara precisou agir rápido para salvar as obras de arte. "Na Câmara, trabalhamos com metodologia de gerenciamento de crise. Já tínhamos todas as possibilidades mapeadas", diz ela, acrescentando que 11 pessoas trabalham para recuperar as obras.

"A nossa equipe atua como o Corpo de Bombeiros. Quanto mais rápido agimos, maiores são as chances de salvar um objeto."

A restauradora diz que o maior desafio que eles enfrentam é decidir se faz sentido ou não restaurar completamente uma obra. Isso porque os estragos passam a fazer parte da trajetória do objeto e da própria história do Brasil.

"Essa decisão é um grande desafio para qualquer restaurador. É algo que você só decide em equipe. É uma decisão que vai além do objeto e exige um conhecimento grande de questões históricas e culturais", diz ela.

"Estamos conversando com a academia e com profissionais da área para tomar uma decisão acertada para o restauro e sobre que técnica utilizar."

Além das obras de arte da Câmara, os golpistas danificaram 14 peças no Senado, incluindo uma tapeçaria de Burle Marx, em cima da qual vândalos urinaram. A peça vai ser restaurada em São Paulo.

Um painel de Athos Bulcão que fica no Museu do Senado também sofreu avarias e deve levar até quatro meses para ser restaurado.

Já o quadro "Ato de Assinatura do Projeto da Primeira Constituição", do pintor Gustavo Hastoy, vai precisar de guindastes para ser restaurado em razão de suas grandes dimensões.

No STF, o Supremo Tribunal Federal, a cadeira da presidente Rosa Weber, concebida pelo designer Jorge Zalszupin, foi arrancada. Além disso, um crucifixo foi danificado e a escultura "A Justiça", de Alfredo Ceschiatti, de 1961, foi pichada.

No Palácio do Planalto, a tela "Mulatas", pintada em 1962 por Di Cavalcanti, e a obra "Galhos e Sombras", de Frans Krajcberg, foram vandalizadas.

Outro item danificado foi o relógio trazido ao Brasil por dom João 6º, em 1808, que estava exposto no palácio. A obra foi desenhada por André-Charles Boulle e fabricada pelo relojoeiro francês Balthazar Martinot no fim do século 18. Em razão dos estragos, a Suíça se ofereceu para ajudar o governo Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, na restauração do relógio.

Tanto o STF quanto o Planalto não responderam quanto os reparos vão custar aos cofres públicos.

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