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Atriz diz que, depois de rejeitar Marcius Melhem, perdeu espaço em 'Tá no Ar'

OUTRO LADO: Humorista afirma que acusações são falsas e que tem documentos que desmentem as denúncias feitas contra ele

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São Paulo

A atriz Georgiana Góes afirmou à Folha que sofreu represálias e perdeu espaço no programa humorístico "Tá no Ar" depois que recusou investidas sexuais de Marcius Melhem, ex-diretor do núcleo de humor da Globo, acusado por 13 mulheres de assédio sexual e moral. O ator nega as acusações.

"Isso se repetiu em vários outros casos. Era um padrão. Quem não entrava no jogo dele sofria retaliações distintas. Ele falava que ia ter que fazer demissões, e a pessoa que não entrou no jogo curiosamente foi mandada embora poucos dias depois", disse a atriz, que não quis revelar a identidade da colega de trabalho.

"Para quem estava lá dentro, ficava nítido como paulatinamente algumas atrizes iam sendo diminuídas sem uma justificava. Na prática, perdíamos espaço, seja perdendo protagonismo, seja perdendo tempo de cena, de modo que você era até criticada se pedisse mais trabalho."

Atriz Georgiana Góes em imagem de divulgação da peça 'Simples Assim'
Atriz Georgiana Góes em imagem de divulgação da peça 'Simples Assim' - Dalton Valério/Divulgação

Melhem afirmou em nota que as acusações são falsas e que tem documentos para desmentir. Ele publicou na última segunda-feira um vídeo com mais de duas horas de duração em seu canal do YouTube rebatendo as acusações.

"Sobre a vaga e incipiente acusação de 'sofrer retaliações distintas', ninguém conseguiu apontar com provas qualquer retaliação minha. Isso está mais do que esclarecido. Há gente que confunde desagradar com prejudicar", diz a nota, que pode ser lida na íntegra no final desta reportagem.

Em entrevista por videoconferência, Góes afirmou que Melhem a tentou beijar na boca e que, como ela, outras atrizes se sentiam constrangidas quando ficavam sozinhas com ele. "Teve uma vez que a gente estava no elevador, ele virou para mim e disse ‘este é o único lugar da empresa que não tem câmera’, insinuando que a gente poderia fazer o que quisesse lá dentro que ninguém ia ver."

Segundo Góes, o ator também tinha o hábito de pedir carona para voltar para casa, quando as investidas se intensificavam. "Uma das mulheres relatou que, quando passavam em frente a um motel, ele sempre pedia em tom de piada para os dois entrarem. Outra orientava a irmã a ligar para não ficar sozinha com ele."

Segundo a atriz, Melhem costumava falar que tinha uma queda por ela desde a época de "Confissões de Adolescente", série em que Góes atuou nos anos 1990. "Alguns comportamentos dele se repetiam e eram sistemáticos", disse ela. "Só depois de um tempo é que entendi que o constrangimento e a sensação de retaliação eram assédio sexual."

Goés foi uma das denunciantes que estiveram em Brasília no final de março para uma reunião com a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves. No encontro, que teve a participação de atrizes como Dani Calabresa e Renata Ricci, elas discutiram a criação de um marco normativo para combater o assédio sexual no trabalho.

"Essa situação afetou a minha autoestima e a minha criatividade. Achei que não era uma atriz tão boa assim. Fomos educadas a não dar voz ao que realmente acontece. Só que a gente está em 2023 e não podemos mais deixar isso passar. A gente só quer trabalhar em paz."

Entenda o caso

As acusações contra Marcius Melhem vieram a público no final de 2019. À época, os relatos envolviam somente assédio moral, mas depois surgiram denúncias de assédio sexual.

Em março de 2020, Melhem tirou licença da chefia dos humorísticos da Globo dizendo que precisava acompanhar o tratamento de saúde de uma de suas filhas. Após cinco meses, a emissora encerrou o contrato com o humorista, afirmando que a decisão ocorreu de comum acordo e tecendo elogios a ele.

O tom do comunicado não agradou a parte dos funcionários, que reuniu 30 assinaturas numa carta enviada à direção da emissora pedindo uma reunião e manifestando descontentamento com o encaminhamento do processo.

Em janeiro de 2021, Melhem protocolou na Justiça de São Paulo uma ação de indenização por danos morais e materiais contra Dani Calabresa, que encabeçou as denúncias.

Em paralelo, a ex-promotora Gabriela Manssur, à época na Ouvidoria das Mulheres do Conselho Nacional do Ministério Público, encaminhou ao Ministério Público do Rio de Janeiro depoimento de oito mulheres que acusavam Melhem de assédio sexual e pediu a abertura de um processo criminal.

Dois anos se passaram e a promotoria nem denunciou Melhem à Justiça nem arquivou o pedido. O MP não comenta o processo porque ele corre em sigilo.

O caso é investigado pela Deam, a Delegacia de Atendimento à Mulher do Rio de Janeiro, que teve quatro delegadas titulares desde então. Em nota, a Polícia Civil do Rio de Janeiro também não comenta o caso e afirmou que as mudanças na delegacia não têm relação nem interferem nessa investigação.



O que Melhem diz

Meu canal no YouTube (OMarciusMelhem) traz vídeos que exibem todas as provas que desmentem as falsas acusações usadas para tentar forjar um caso.

Depois de desmascarado por provas dos mais diversos tipos (áudios, prints e documentos), o grupo escalou agora Georgiana Góes para fazer acusações em off, sem nomes ou fatos concretos. Uma estratégia para tentar evitar que eu tenha como desmontar mais essas mentiras. Covardia, mas não surpresa.

No mais, nada novo. As histórias do "crush" e do "elevador" são absurdamente ridículas e distorcidas e já foram desmontadas na Justiça. Também já está claro na Justiça que, na noite em que ela diz que tentei beijá-la, eu estava com Veronica Debom. Totalmente falsa essa afirmação. Ainda mais se lembrarmos que ela tem uma narrativa de que só teria percebido que foi assediada em 2020.

Sobre a vaga e incipiente acusação de "sofrer retaliações distintas", ninguém conseguiu até hoje apontar com provas qualquer retaliação da minha parte. Isso está mais do que esclarecido. Há gente que confunde desagradar com prejudicar.

Queria também saber quem foram as outras pessoas que prejudicaram Georgiana na TV Globo desde a minha saída em 2020. Desde então, ela não fez qualquer trabalho na emissora e depois teve seu contrato encerrado. O problema está sempre no outro. É mais fácil.

Georgiana tenta reescrever nossa relação e se embaralha em contradições. Poderia falar mais sobre as contradições de Georgiana e as histórias que não fecham.

Para responder a essa Georgiana Góes, no entanto, prefiro usar justamente as palavras da outra Georgiana Góes, que em setembro de 2018, data posterior às acusações, disse que eu era uma pessoa que levava tudo com "doçura, amor e ética".

Ou que em 27 de dezembro de 2019, após as denúncias de Dani Calabresa, disse: "Escrevo pra te dar um carinho, dizer mais uma vez que te amo e que você é maior que todas essas doideiras". A Georgiana daquela época teria muita vergonha das "doideiras" que essa Georgiana tem dito e feito.

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