Alain Touraine disse que FHC salvaria Brasil em 1995; relembre textos na Folha

Sociólogo francês morto nesta sexta-feira criticou e defendeu Lula, discutiu pautas internacionais e apoiou o casamento gay

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São Paulo

O sociólogo francês Alain Touraine, que morreu nesta sexta-feira (9), aos 97 anos, colaborou durante anos com colunas para a Folha, em particular na segunda metade dos anos 1990 e início dos anos 2000, além de ter cedido diversas entrevistas ao jornal. Nelas, discutia os rumos do Brasil e temáticas latentes do globo.

Em 1995, em entrevista ao jornalista André Fontenelle em Paris, teceu elogios ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, seu amigo pessoal. Disse preferir ele a Lula —que perdeu para FHC na disputa presidencial três anos depois.

O sociólogo francês Alain Touraine - Patrick Billard/AFP

"É preciso combinar abertura econômica e intervenção social. Essa é a força de FHC: afora ele, não há nenhuma solução possível. Os riscos para o Brasil seriam graves, em caso de fracasso", disse. Apesar disso, via Lula com bons olhos na época.

"Eu tenho um sentimento favorável a Lula. Esse homem fez o máximo que pôde para ser responsável. Mas acho que Lula seria incapaz de controlar essa união do social com a economia. Seria levado a uma política muito social, que provocaria uma comoção."

Em 2003, quando Lula foi eleito, Touraine assumiu uma posição mais favorável ao petista. Disse que sua eleição foi um evento extremamente importante. "Há elementos de fraqueza e de força ao lado de Lula, mas os de força me parecem mais importantes", afirmou. Disse ainda acreditar que o presidente teria condições de governar o país, apesar de riscos como um populismo de extrema esquerda.

O sociólogo voltou a defender Lula em 2005, apesar das acusações de corrupção ao PT. "O primeiro gesto que todos os que se preocupam com o futuro do Brasil deveriam fazer seria apoiar Lula e pedir a Tarso Genro [na época, presidente do Partido dos Trabalhadores] que ele enfim encontre uma responsabilidade à sua altura e extermine os ramos apodrecidos do PT."

"O que é verdadeiramente necessário é instituir reformas sociais da maneira mais ativa possível, mas sempre respeitando as condições internacionais e institucionais, cujos limites são claros. Essa mudança de etapa é algo que o presidente Lula tem mais chances do que qualquer outra pessoa de conduzir com sucesso", afirmou.

"Aqueles que desejam acima de tudo salvar o Brasil de uma crise capaz de destruir o regime deveriam agora apoiar o presidente, ponto de apoio mais sólido em uma sociedade debilitada."

Em textos seus publicados na Folha, discutiu a articulação dos movimentos identitários, questões internas da França como a resistência do país na entrada na era liberal e temas políticos globais como o liberalismo econômico e formas de responder a ele.

"O reconhecimento das identidades e diferenças culturais é o único meio de evitar a ação violenta daqueles que se sentem despojados de sua identidade cultural ao ingressarem na sociedade de massas —uma sociedade que os atrai pelo consumo, mas lhes nega o trabalho imprescindível a uma verdadeira inserção comunitária", escreveu em 1995.

Em 2004, defendeu o direito ao casamento gay, bem como a possibilidade de esses casais adotarem crianças, em uma época na qual a opinião pública ainda rejeitava essas ideias. Ao longa da vida, fez críticas à direita e à esquerda —se enquadrava na segunda, apesar de sua posição ter guinado progressivamente para uma abordagem mais liberal.

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