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Luiz Antonio Simas encanta Feira do Livro com exaltação da cultura das ruas

Autor diz a plateia lotada que só a comunidade consegue rearticular os laços rompidos na diáspora

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São Paulo

"A rua, a feira, a festa é o lugar do inesperado, do espanto", diz Luiz Antonio Simas. "A rua coloca você diante do desconforto, do inusitado, do surpreendente, o princípio dinâmico do movimento."

E às vezes, coloca você diante de uma palestra pulsante de vida como a que o historiador carioca fez na tarde desta quinta na Feira do Livro, na praça Charles Miller em São Paulo.

Mesa "A Alma Encantada das Ruas", na Feira do Livro, com Luiz Antonio Simas com curadoria e mediação de Bianca Tavolari - Gabriel Cabral/Folhapress

Mais de cem pessoas se apinhavam em pé em torno da plateia abarrotada da mesa em que Simas foi mediado pela professora Bianca Tavolari, colunista da Quatro Cinco Um. Também sob um sol forte, outras dezenas viram o professor sentadas no gramado e no asfalto através do telão instalado fora da tenda.

A palestra versou sobre o Rio de Janeiro, onde o escritor diz ter nascido para sua "celebração e absoluta desgraça". Mas se falou do Rio como um símbolo da ocupação da vida pública por todo o Brasil, como uma "cidade diaspórica".

"Não falo só da diáspora africana, mas da judaica, da cigana. A praça Tiradentes se chamava campo dos ciganos. Havia marcha de Carnaval em iídiche."

Se a diáspora, quando acontece, desarticula a identidade e o laço de proteção social, diz o professor, a cultura comunitária que surge dela é o que tem força para a rearticular.

O exemplo mais claro que Simas ofereceu foi o de um viaduto construído em Madureira. O objetivo, claro, era facilitar a passagem de carros, mas logo os moradores locais passaram a usar a sombra embaixo da ponte para organizar rodas de capoeira e jongo. Aquilo é a epítome do "encantamento das ruas" que o autor define em seus livros.

"Você não define que vai se encantar, mas isso acontece em cada instante da prática do comum. Um lugar de jongo feito embaixo do viaduto de Madureira é naturalmente terreirizado."

A cultura das ruas, diz o escritor, é acostumada a operar no vazio, nas frestas, ou como disse numa metáfora feliz, "como o samba que se dança entre o tempo e o contratempo das batidas do surdo".

Simas aponta inclusive que o lugar do escritor é fora das livrarias —ao menos, é assim que se sente. "A gente sacraliza demais o livro e o autor. É mais fácil você me encontrar no botequim. Sempre me ensinaram que a vida é mais importante que o livro."

Foi mesmo uma mesa que parecia conversa de botequim, mas diante de um público vidrado, misturada ao som de risadas, cachorros latindo e crianças brincando.

Por falar nos pequenos, no início do dia, o Espaço Folhinha já estava cheio: a Trupe Pé de Histórias animou a garotada com cantorias como "Sitio do Seu Lobato" e "História de uma Gata", cantadas em coro por pais e crianças.

Em seguida, Marcelo Duarte foi bombardeado de perguntas pelos pequenos sobre "Guia dos Curiosos: Fora de Série", seu último livro da série que responde curiosidades de diversos tipos.

"Quando eu me formei em jornalismo, descobri que não existia pergunta boba", disse ele às crianças. Elas entenderam o recado, e Dora logo perguntou o que levou Duarte a escrever o Guia dos Curiosos.

O autor respondeu que, quando era pequeno e ainda não se usava a internet, ele tinha muitas perguntas que os adultos não sabiam responder na hora. "Certa vez, jantando com minha família, nos esquecemos o nome do Dengoso dos sete anões. Esse tipo de informação não tinha na enciclopédia, então era difícil de achar", disse ele.

Por isso, surgiu a ideia de reunir curiosidades em um almanaque, tais como qual a diferença entre o jabuti e a tartaruga? Quanto pesa uma mosca?

Por fim, Duarte destacou a importância de espaços para a literatura juvenil, dedicados a formação de futuros leitores — especialmente em tempos de fake news.

"É importante destacar a importância de um espaço dedicado a autores que falam com jovens e crianças, porque é nessa idade que se formam os leitores", diz ele. "Como autor, editor e pai, digo que é muito importante um espaço como esse, porque crianças podem pegar alguma história, ver que família está aqui para falar de livros junto com eles. Isso é importante para formar leitores diante das fake news."

O autor Ilan Brenman em conversa com Marcella Franco, editora do caderno Folhinha e Folhateen, na Feira do Livro, em São Paulo

Para fechar o dia no Espaço Folhinha, Ilan Brenman, autor de mais de 80 livros infantojuvenis, conversou com os pequenos sobre seu livro "Até as princesas soltam Pum", que completa 15 anos.

Quando perguntou a plateia quem solta pum, a criançada prontamente levantou as mãos. Ele contou que a ideia do tema para o livro —um tanto inesperado— surgiu quando sua filha, com 2 anos de idade e vestida de Branca de Neve, soltou um pum. A menina ficou com vergonha e, para consola-la, a mãe disse que "até as princesas soltam pum".

O livro conta com uma reinterpretação da Cinderela. Nervosa para o baile, a princesa comeu muito chocolate e acabou soltando um pum quando o relógio marcou meia-noite, bem enquanto dançava com o príncipe —reviravolta que deixou os pequenos ouvintes boquiabertos.

"Ler uma história é um ato de amor", disse Ilan que, assim como Duarte, refirmou a necessidade da literatura infantil de qualidade para a formação de adultos leitores.

Sua ultima publicação, "Desligue e Abra", incentiva os pequenos a desligarem os celulares e abrirem o livro —que contem uma série de brincadeiras a serem feitas com o próprio objeto. Noa, na plateia, levantou a mão e afirmou: "quando minha mãe conta uma história, eu gosto de desenhar!"

Para Ilan, a função dos livros também pode ser entreter e divertir, mesmo em tempos de tablets e TikTok.

A Feira do Livro

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