Como Letrux, queridinha de Marina Lima, encarna o reino animal em novo álbum

'Letrux como Mulher Girafa' é reação ao isolamento da artista no mato durante a pandemia e resposta ao governo Bolsonaro

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Pérola Mathias
São Paulo

O novo disco de Letrux apresenta uma cosmovisão acerca do reino animal. Em "Letrux como Mulher Girafa", ao pensar sobre os bichos e através deles, a artista constrói novas formas de percepção do mundo.

"Eu sempre tive essa curiosidade com o reino animal, desde a época de colégio, e com documentários sobre a vida animal. Nunca achei que isso fosse menor do que um filme do Godard —isso é arte ou isso não é arte? Um documentário sobre insetos, para mim, era tão interessante quanto um filme do Truffaut."

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A cantora Letrux, que lança o disco 'Letrux como Mulher Girafa' - Divulgação

Desde a época em que tocava na banda Letuce, seu projeto com o músico Lucas Vasconcellos, até seu primeiro disco solo como Letrux, as letras de Letícia Novais –nome por trás da alcunha artística– se remetem ao tema: "Ballet da Centopeia", "Medo de Baleia", "Darwin’s Fairy Tale" e "Além de Cavalos". Ela se justifica: "os animais sempre estiveram presentes nas minhas composições, agora foi só a hora de organizar essa bicharada toda".

Letrux atribui a inspiração de dedicar um álbum inteiro aos bichos à sua saída do Rio de Janeiro durante a pandemia. "Eu fui morar numa casa no mato. E foi a primeira vez que eu tive um animal doméstico, um gato. Entrava gambá na casa. Eu ia nadar na lagoa e passava um peixe gigante do meu lado."

A casa a que se refere, situada na região dos Lagos, é mostrada de forma íntima no mais recente filme do diretor Marcio Debellian, "Letrux – Viver é um Frenesi", de 2023, que retrata a artista em seu período de isolamento.

Além da tensão com a pandemia, "Letrux como Mulher Girafa" traz ainda os reflexos das incertezas incutidas ao meio artístico pela última gestão do governo federal. Uma das faixas que Letrux considera representativa desse período é "Formiga".

"A pandemia ainda estava no auge. Foi aos poucos, com a recuperação da fé, da esperança, do Ministério da Saúde, que as composições foram ganhando alguma vibração mais solar. A gente estava vacinada, a gente voltou a fazer show, a gente voltou a exercer nosso ofício."

A atmosfera sonora do álbum aponta para uma direção pop e cintilante. Traços que são ressaltados pela identidade dos beats do produtor João Brasil.

Desde "Letrux em Noite de Climão" a artista deixa evidente sua conexão com o pop brasileiro, especialmente por ter chamado Marina Lima para participar do disco. Agora, seu convidado de luxo é Lulu Santos. Ao falar sobre a parceria, ela declara sua admiração pelo hitmaker. "O Lulu é, para mim, do panteão, um dos gênios da música pop brasileira. Ele, mesmo sendo muito popular, consegue manter uma sofisticação. O que é uma coisa muito difícil de fazer, porque quando você se propõe a fazer uma música pop, às vezes é tão popular que é um oba-oba. Mas a música do Lulu não."

Além de "Formiga" e "Zebra", Letrux canta também "Louva Deusa", "Leões", "Hiena", "Abelha" e "Aranha". Esta última foi composta inspirada na obra da parisiense Louise Bourgeois e tem um vocal mais falado do que cantado. Ao comentar sobre a maneira que explora a voz na canção, Letrux relembra outra artista fundamental que a influenciou no processo, Laurie Anderson.

O humor, ainda que irônico, é outra particularidade das músicas e da performance de Letrux: "gosto desse equilíbrio muito suave que tem no tragicômico. Vou falar verdades profundas, mas por que não dar uma gargalhada enquanto se fala uma verdade profunda? Vou fazer uma música boba, mas, por que não, do nada, ter uma frase que corta o coração? Acho que sempre vou querer buscar isso nas minhas composições".

Não à toa, o disco pode ser ouvido como se estivéssemos lendo uma fábula, recheada por alegorias e brincadeiras com ditos populares, o que a própria artista confirma. "Minha cabeça funciona mais como escritora do que como cantora. Eu me utilizo da música junto com outros artifícios e acho que o maior que eu tenho é saber escrever. Quando eu faço um disco, eu procuro esse entendimento quase de um livro."

"Letrux como Mulher Girafa" estreia nos palcos dias 7 e 8 de julho, no Rio de Janeiro, e dias 13, 14 e 15, em São Paulo. Ela diz que pretende cantar todas as faixas do disco e que preparou algumas surpresas para o público. "Estamos pensando em pegar algumas músicas da MPB que falem sobre bicho, que dialoguem com o disco e fazer gracinhas."

Letrux como Mulher Girafa

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