Festival de Veneza compensa tapete vermelho vazio pela greve com grandes diretores

Filmes de Sofia Coppola e Michael Mann encabeçam evento, que deve gerar polêmica com novos de Woody Allen e Polanski

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A atriz italiana Cristina Capotondi no tapete vermelho de 'O Preço da Fama', no Festival de Veneza de 2014; edição deste ano do evento deve contar com número reduzido de artistas nas premieres Tony Gentile/REUTERS

São Paulo

O Festival de Veneza é o mais antigo do mundo, e por isso mesmo é um dos que mais transbordam história. O evento é marcado pelo glamour, construído em cima de cenas clássicas como a da atriz Brigitte Bardot, na edição de 1958, cercada pelos paparazzi e encolhida em um gramado.

Essa reputação se mantém até os dias de hoje, a exemplo da chegada de Lady Gaga à cidade em 2018, sentada na beirada de um dos famosos táxis aquáticos dos canais, com as pernas quase tocando as águas.

Adam Driver em Ferrari
Adam Driver em cena de 'Ferrari', de Michael Mann, que integra a seleção oficial do Festival de Veneza - Divulgação

Este ano, porém, a expectativa é de calmaria nas gôndolas. O festival, que começa nesta quarta (30), acontece em meio à greve dos atores em Hollywood, que se juntaram aos roteiristas em julho para protestar por melhores condições de trabalho na indústria. Em meio à paralisação, membros dos respectivos sindicatos estão proibidos de promover seus trabalhos, o que inclui aparições em mostras como a da cidade italiana.

Com isso, Veneza é o primeiro grande evento da temporada de fim de ano a sofrer baixas no tapete vermelho ocasionadas pela paralisação —uma situação inédita para a ilha de Lido, em tempos de globalização. O festival perdeu até mesmo o filme de abertura. "Rivais", com Zendaya, foi removido da programação depois que a MGM, dona da distribuição, adiou o lançamento para 2024. Em seu lugar, entrou o italiano "Comandante", de Edoardo De Angelis, incluído na seleção oficial.

Na prática, ninguém sabe quem pode aparecer na cidade para promover os filmes em exibição, por conta da preocupação com a causa dos artistas. Bradley Cooper, por exemplo, já confirmou que não estará no festival para promover "Maestro", filme que dirige e protagoniza.

Mas há grandes nomes confirmados, incluindo os elencos dos americanos "Ferrari", de Michael Mann, e "Priscilla", de Sofia Coppola. Ambos foram liberados pelos sindicatos depois que os distribuidores envolvidos —a Neon e a A24, respectivamente— aceitaram os termos pedidos.

Assim, as duas cinebiografias lideram o contingente pequeno de astros que passam pela Lido este ano, entre eles Adam Driver, que vive o criador da marca de carros italiana no filme de Mann, e Priscilla Presley, que não é atriz, mas é a biografada no longa de Coppola —que ainda tem Jacob Elordi como Elvis Presley.

A notícia é boa também para os brasileiros, que podem torcer pela aparição de Gabriel Leone no evento para promover "Ferrari". Um alívio, se considerar a ausência inevitável de Sophie Charlotte, parte do elenco de "The Killer". O filme dirigido por David Fincher é da Netflix, um dos estúdios que ainda não chegaram a um acordo com o sindicato.

Nesse vai e vem, Veneza deve concentrar as atenções nos diretores, a única categoria de destaque que está mais ou menos livre das tensões em Hollywood. Para o júri deste ano, liderado pelo cineasta Damien Chazelle, de "La La Land: Cantando Estações", é uma ótima oportunidade de se concentrar nos filmes.

Mas o evento alimenta as próprias polêmicas, como a inclusão dos novos trabalhos de Woody Allen, Roman Polanski e Luc Besson na programação. O trio de diretores continua no ostracismo da indústria pelas denúncias —e condenações, no caso de Polanski— por estupro.

Na Lido, Allen e Polanski estão nas exibições especiais com "Coup de Chance" e "The Palace", e Besson compete pelo Leão de Ouro com "DogMan". A produção em si é inofensiva, pelo menos, acompanhando um jovem que encontra no cuidado dos cachorros um alento à vida dura.

Além do francês, a seleção de nomes que brigam pelo prêmio é chamativa. Ao lado de "Ferrari" e "Priscilla", o festival destaca novos trabalhos de Yorgos Lanthimos, que traz em "Pobres Criaturas" uma releitura de "Frankenstein" com Emma Stone; Ava DuVernay, de volta ao cinema depois de cinco anos com a cinebiografia "Origin"; e Ryusuke Hamaguchi, que com "Evil Does Not Exist" busca repetir o sucesso de "Drive My Car".

A Netflix é outra que vem forte para a Lido, com cinco longas programados. Só na briga pelo Leão, o serviço aposta em "Maestro", cinebiografia de Leonard Bernstein, "The Killer", suspense com Michael Fassbender, e "O Conde", sátira de Pablo Larraín que faz do ditador chileno Augusto Pinochet um vampiro.

Fora da competição, a plataforma apresenta o média "A Maravilhosa História de Henry Sugar", de Wes Anderson, e "A Sociedade da Neve", suspense histórico do espanhol J.A. Bayona que encerra o festival em 9 de setembro.

A competitiva também garantiu bom espaço aos italianos, que ocupam um quarto do programa. A atenção recai sobre os veteranos Matteo Garrone e Stefano Sollima, que estreiam na corrida pelo Leão com "Io Capitano" e "Adagio". Há também "Finalmente L’Alba", de Saverio Costanzo, e "Lubo", de Giorgio Diritti, que carregam elenco internacional —o primeiro com Willem Dafoe, o segundo em Franz Rogowski.

Veneza completa a seleção oficial com os franceses "La Bête", de Bertrand Bonello, e "Hors-Saison", de Stéphane Brizé; os poloneses "Green Border", de Agnieszka Holland, e "Woman of", da dupla Malgorzata Szumowska e Michal Englert; o belga "Holly", de Fien Troch; o alemão "The Theory of Everything", de Timm Kröger; o dinamarquês "The Promised Land", de Nikolaj Arcel; e "Memory", do mexicano Michel Franco.

O grupo é forte e mais pop que os últimos dois anos do evento, o que deve suprir o vazio de artistas na cidade. Isso fora a programação paralela, com eventos como a estreia de "Hit Man", de Richard Linklater, e "The Caine Mutiny Court-Martial", último filme dirigido por William Friedkin antes de sua morte no começo do mês.

Para os brasileiros, os olhares recaem sobre a mostra Horizonte, que apresenta o nacional "Sem Coração". O filme, produção do Alagoas dirigida por Nara Normande e Tião, briga por prêmios no programa mais experimental e o segundo mais concorrido do festival.

A concorrência que o diga. "Sem Coração" será apresentado junto de nomes conhecidos do circuito, como o israelense Guy Nattiv, vencedor do Oscar pelo curta "Skin" e diretor de "Golda", que apresenta no evento o longa "Tatami".

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