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'Saltburn' analisa a sedução pelas elites em um filme de altíssima voltagem sexual

Longa da diretora de 'Bela Vingança' tem jovem que mergulha de cabeça em família aristocrata e lambe sêmen da banheira

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Saltburn

Cena do filme 'Saltburn', de Emerald Fennell Divulgação

São Paulo

Emerald Fennell é a diretora que mais divide as redes sociais hoje. Ela explodiu a internet em 2021 com "Bela Vingança", sobre uma mulher que buscava justiça pelo estupro e a morte da irmã com as próprias mãos. O longa, o primeiro da carreira, rendeu à cineasta um Oscar de roteiro e às plataformas uma discussão infinita —com amantes e detratores intensos.

Seu próximo trabalho, "Saltburn", promete despertar a mesma fera. O filme estreia nesta sexta no Prime Video, mas sua passagem pelos cinemas lá fora já causou frisson. No TikTok e no X, o antigo Twitter, circulam gravações piratas que mostram alguns dos momentos mais quentes da produção, e as reações drásticas dos usuários lembram o tom das conversas de dois anos atrás.

Segundo Fennell, o calor da torcida é um ótimo sinal. "Paixão é a coisa mais interessante sobre fazer cinema. Você quer fazer filmes que se conectem com o público e, para isso acontecer, o público precisa sofrer", diz a diretora, em uma chamada de vídeo. "Há cenas em ‘Saltburn’ que fazem uma parte da plateia gritar, enquanto outras pessoas ficam furiosas, algumas excitadas e uma porção indiferente."

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Barry Keoghan e Jacob Elordi em cena do filme 'Saltburn', de Emerald Fennell - Chiabella James/Prime Video

"Todo mundo reage de forma visceral à resposta do outro. Isso é importante. É importante a gente reconhecer o quão diferente nós somos. Sentados juntos em uma sala escura, vemos que a cena mais erótica possível para uma pessoa pode ser o grande horror de outra."

As cenas polêmicas de "Saltburn" surgem na tela como pequenos momentos de clímax do que a cineasta define como uma história de amor sobre sedução. Esta atração, no caso, acontece em direção às elites mais tradicionais, aquelas acostumadas a tanto tempo com a riqueza que suas vidas pacatas se tornam um luxo por si só.

É nesse mundo que o protagonista Oliver Quick, vivido por Barry Keoghan, busca entrar. Ele começa o longa na Universidade de Oxford, onde sofre para adequar sua origem humilde com a turma de colegas endinheirados.

Mas Oliver aos poucos contorna a situação fazendo amizade com Felix Catton, papel de Jacob Elordi, um dos alunos mais populares e ricos do lugar. Ele consegue ser convidado pelo colega para passar as férias de verão na casa da família dele, após receber a notícia da morte do pai.

O lar dos Catton, a mansão Saltburn que dá título ao filme, é onde a maior parte da história se passa e onde Oliver mais deixa evidente seu desejo por Felix. Mas a sua atração ganha tons perturbadores para os outros membros da família e o próprio lugar.

Essa premissa foi a forma que Fennell encontrou para produzir um romance gótico para chamar de seu, mesmo que situado no ano de 2006. Ela diz ter se inspirado em livros como "O Morro dos Ventos Uivantes", de Emily Brontë, e "Rebecca, A Mulher Inesquecível", de Daphne Du Maurier, clássicos britânicos do gênero que lidam com a decadência da aristocracia por meio de histórias de amor complicadas.

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Cena do filme 'Saltburn', de Emerald Fennell - Chiabella James/Prime Video

"Saltburn" propõe a partir disso um elemento de voyeurismo que, nas palavras da diretora, provoca um vazio sem fim e paralisante. Alguns críticos apontam aí uma lógica semelhante à do livro "O Talentoso Ripley", de Patricia Highsmith, mas Fennell rejeita a comparação.

"Nós todos passamos por isso na pandemia de Covid-19. O que acontece quando você é forçado a observar um mundo, mas proibido de entrar nele? O que acontece quando você fica impossibilitado de tocar aquilo que quer tocar?", pergunta a diretora.

Segundo Rosamund Pike, atriz que vive a matriarca Elspeth Catton na trama, o filme deixa claro o interesse da cineasta pelo tema da obsessão. "Todos nós somos obcecados por aquilo que queremos consumir. Queremos o controle sobre essas coisas e não gostamos que essa obsessão nos possua. Em resposta, nós passamos a querer dominar tudo."

Oliver passa por todas essas questões no filme, que traduz o seu desconforto em cenas de altíssima voltagem sexual —o que ajudou a despertar o faniquito das redes. Um dos momentos mais comentados do filme —e que deve animar as conversas das festas de fim de ano— mostra o protagonista chupando o sêmen de Felix do ralo de uma banheira, logo após ele testemunhar o amigo se masturbando no lugar.

A sequência, uma de várias da história, é vista em proximidade e mostra que a relação de Oliver com a família é desigual. Enquanto ele deseja um lugar em Saltburn, os Catton veem o garoto na sua posição arrogante aristocrática, recebendo o rapaz como uma atração exótica.

Archie Madekwe, que vive o primo Farleigh na trama, percebe esse jogo como uma essência da mansão. "Há essa ideia estranha e egoísta de ajuda e que envolve eles darem assistência aos mais pobres até se cansarem deles", diz o ator.

"Me lembra muito os elogios de Regina George em ‘Meninas Malvadas’. Os comentários são feitos para o elogiador e o elogiado se sentirem bem, mas depois serve para quem elogia se sentir autorizado a criticar o outro pelas costas. Aqui acontece muito desta duplicidade esquisita."

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Cena do filme 'Saltburn', de Emerald Fennell - Divulgação

A grande reviravolta de "Saltburn", nesse sentido, é que o filme entende essa dinâmica como uma via de mão dupla não só do protagonista, mas também do público. Fennell afirma que evitou tratar os Catton só como pessoas horríveis para permitir que o espectador passasse pelas mesmas sensações de Oliver. Apesar das provocações, ela diz fazer um cinema de empatia.

"Eu estou interessada em sedução, e este filme trata tanto de como seduzimos os outros quanto sobre como elas nos seduzem", ela explica. "A família na casa tem que seduzir o público da mesma forma que ela seduz o Oliver. Desestabiliza muito mais se ver submetido a pessoas que você sabe que vão descartar você tão rápido elas acolhem."

Na visão de Rosamund Pike, essa proposta explica a animosidade das redes sociais com "Saltburn". "Elas ficam fascinadas com o comportamento dessas pessoas, da mesma forma que é fascinante observar o comportamento de gorilas no zoológico", diz a atriz.

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Barry Keoghan em cena do filme 'Saltburn', de Emerald Fennell - Divulgação

"É divertido ver esses animais catando pulgas porque há uma espécie de imagem espelhada da gente que ao mesmo tempo é uma visão distanciada. A sensação é de ver uma realidade diferente."

Reações exageradas à parte, "Saltburn" já virou uma experiência empírica para a sua diretora. "Ninguém consegue concordar sobre o que sentiu vendo o filme", diz Fennell.

"Como autora, é interessante mostrar ao público algumas situações e ver como ele responde a isso, porque no fundo amo todos esses personagens e não há ninguém ali com quem eu não me relacione de alguma forma."

Saltburn

  • Quando Disponível no Prime Video
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Barry Keoghan, Jacob Elordi e Rosamund Pike
  • Produção Estados Unidos, Reino Unido, 2023
  • Direção Emerald Fennell
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