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Mostra de Tiradentes celebra cinema mineiro e reflete sobre o tempo

Evento que começa nesta sexta-feira homenageia a atriz Bárbara Colen e o diretor André Novais Oliveira

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São Paulo

Em "Idade Madura", do livro "A Rosa do Povo", Carlos Drummond de Andrade escreveu: "Dentro de mim, bem no fundo/ há reservas colossais de tempo/ futuro, pós-futuro, pretérito/ há domingos, regatas, procissões".

As camadas do tempo e a arte cultivada no seu estado natal, Minas Gerais, aparecem constantemente na poesia de Drummond. E esses são justamente os motes da 27ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, que começa nesta sexta (19) e vai até 27 de janeiro.

Tiradentes tem se consolidado como vitrine relevante do cinema contemporâneo brasileiro e está hoje entre os três ou quatro principais festivais do país. Neste ano, serão exibidos 145 filmes de 20 estados, boa parte deles inéditos.

O diretor André Novais Oliveira (de camiseta azul) durante as filmagens de "Quando Aqui" em Contagem (MG); esse seu filme mais recente vai abrir a Mostra de Tiradentes nesta sexta (19) - Divulgação

Um dos homenageados é André Novais Oliveira, diretor de Contagem, que assina alguns dos mais premiados filmes brasileiros recentes, como "Temporada" (2018) e "O Dia que te Conheci" (2023). Ele integra a Filmes de Plástico, produtora mineira fundada em 2009 e responsável por lançamentos como "Marte Um", de Gabriel Martins, antigo parceiro de Oliveira.

"Pensamos em abordar as formas do tempo em vários sentidos: na vida social, na política, na estética. E todos os filmes do André trazem esse tema. A duração dos filmes dele é sempre modulada de forma singular", diz Francis Vogner dos Reis, coordenador curatorial da mostra. "Além disso, ele é um cineasta raro, um dos grandes surgidos em Minas Gerais nas últimas décadas."

Como se recorda Raquel Hallak, diretora da Universo Produções, que organiza o festival mineiro, os hoje diretores da Filmes de Plástico participavam das oficinas do evento quando eram meninos. Ela se lembra ainda que Oliveira lançou em Tiradentes seu "Fantasmas" (2010), curta que posteriormente conquistou mais de dez prêmios no Brasil e no exterior.

Na abertura do evento nesta sexta, às 20h, Oliveira mostra em primeira mão seus dois filmes mais recentes, os média-metragens "Quando Aqui" e "Roubar um Plano", este último feito em parceria com Lincoln Péricles, o LKT, morador do Capão Redondo, zona sul de São Paulo. Assim como Oliveira, LKT tem chamado a atenção com criações voltadas para a realidade e a imaginação da periferia das grandes cidades brasileiras.

Nos dias seguintes, Tiradentes exibe quase toda a filmografia de Oliveira, incluindo longas e curtas. São produções como "Ela Volta na Quinta" (2014), em que, sob uma camada de situações triviais, há uma outra, mais sedimentada —o afeto contido, o humor despretensioso, a descrença no poder público.

O festival também celebra Bárbara Colen, atriz da mesma geração de Oliveira (ambos nasceram em meados dos anos 1980) e de origem mineira (ela nasceu em Belo Horizonte). Outro ponto que os aproxima: Colen é presença constante em Tiradentes. Dirigido por Gabriel e Maurílio Martins, e com a participação da atriz, o curta "Contagem" (2010) foi lançado no festival, onde volta agora a ser exibido.

A atriz mineira Bárbara Colen, homenageada na 27ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes - Leo Lara/Universo Produção

"Embora faça TV e teatro, Bárbara é uma atriz efetivamente de cinema, identificada com duas cinematografias contemporâneas fortes: a pernambucana, por meio dos filmes do Kleber Mendonça Filho ["Aquarius", "Bacurau"], e mineira, com vários diretores", comenta Vogner dos Reis.

A porção pernambucana não está em Tiradentes, mas a mineira sim, com filmes como "No Coração do Mundo" (2019), de Gabriel Martins e Maurílio Martins, e "Dia de Reis" (2018), de Marcos Pimentel. No festival, há ainda produções com Bárbara no elenco realizadas em outras regiões do país, como "Fogaréu" (2022), da goiana Flávia Neves.

A seção Aurora, a mais disputada de Tiradentes, é o espaço para "novas formas de imaginação", no dizer de Raquel Hallak. Participam sete filmes inéditos, como "Not Dead", dirigido pelo baiano Isaac Donato, que venceu essa mesma mostra em 2021, com "Açucena"; "Eu Também Não Gozei", da potiguar radicada em São Paulo Ana Carolina Marinho, roteirista de "A Mãe" (2022) ao lado de Cristiano Burlan; e a produção pernambucana "Eros", de Rachel Daisy Ellis.

Bia Lessa leva a Tiradentes "O Diabo na Rua no Meio do Redemoinho", sua adaptação de "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa, que integra a mostra Autores, assim como "Estranho Caminho", de Guto Parente, um dos diretores de "Estrada para Ythaca", que saiu consagrado da edição de 2010.

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