Como Lollapalooza enfrenta cancelamentos e a sensação de déjà-vu do público

Com Blink-182 e SZA, festival em São Paulo tem troca de comando, mas continua sofrendo com problemas antigos

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Mark Hoppus, do Blink-182, durante show no Madison Square Garden, em Nova York, em 2023

Mark Hoppus, do Blink-182, durante show no Madison Square Garden, em Nova York, em 2023 Manny Carabel/Getty Images/AFP

São Paulo

O Lollapalooza, que acontece de sexta-feira a domingo, em São Paulo, vive um novo momento. Depois de anos sob a batuta da produtora Time for Fun, o festival agora é feito pela Rock World, empresa por trás do Rock in Rio e do The Town, os seus principais concorrentes. Na prática, no entanto, pouca coisa mudou.

No mesmo Autódromo de Interlagos que ocupa há dez anos, o festival segue enfrentando uma sina de cancelamentos e tem dificuldade de recuperar sua capacidade de trazer shows inéditos ou raros.

O nome de maior destaque agora é o trio de pop punk Blink-182, que toca na sexta. Eles se apresentariam no ano passado, mas cancelaram de última hora. Há ainda SZA, estrela em ascensão do pop e R&B que sobe ao palco no domingo. Ambos fazem seus primeiros shows no Brasil.

A cantora SZA em show no Madison Square Garden, em Nova York
A cantora SZA em show no Madison Square Garden, em Nova York - Nina Westervelt/The New York Times

O sábado seria comandado pela banda de rock Paramore, mas o grupo cancelou o show e foi substituído pelo Kings of Leon. Sucesso nos anos 2000, o grupo faz um soft rock com apelo radiofônico e já tocou em vários festivais brasileiros na última década, incluindo o próprio Lollapalooza, em 2019.

O cancelamento do Paramore engrossa uma lista que ainda tem Drake e Foo Fighters, tratando só de headliners e dos últimos dois anos.

Desde 2022, em sua edição de retorno depois da pandemia, o Lollapalooza não conseguiu fazer uma edição com shows de todos os nomes que encabeçaram o seu cartaz de divulgação inicial.

Marcelo Beraldo, curador e diretor artístico do Lollapalooza, diz que o festival não sofre mais do que os concorrentes com cancelamentos. "Imprevistos acontecem, e bandas podem cancelar por diversos motivos", diz. "Assim que descobrimos, buscamos substitutos para garantir que o evento mantenha a qualidade."

Neste ano, no entanto, a falta de confiança de que o evento vai entregar os shows que prometeu pode ter se refletido na venda de ingressos.

No ano passado, os ingressos para o dia em que o Blink-182 se apresentaria esgotaram. Agora, a dois dias do show, ainda estão disponíveis. Para sábado e domingo, os ingressos diários estão no primeiro lote.

Segundo Leca Guimarães, diretora internacional do festival, isso se deve a uma busca por pacotes de entradas para dois ou três dias. "Os ingressos que permitem curtir o festival por mais de um dia registraram grande procura", diz ela. "Tanto o Lolla Double quanto o Lolla Pass —esgotado— apresentaram excelentes resultados. O público busca viver a experiência completa."

A produção estima que receberá cerca de 240 mil pessoas em três dias. Se a expectativa se concretizar, este número vai representar uma queda de 21,33% em relação à última edição —no ano passado, quase 305 mil pessoas passaram pelo Autódromo de Interlagos nos mesmos três dias de festival, segundo a produtora Time for Fun, a T4F, responsável pelo evento à época.

A queda de interesse pelo Lollapalooza também se traduz nas buscas que o festival recebeu no Google Trends. Nos 30 dias anteriores à semana do evento, esta edição foi a que teve menos procura em relação às quatro anteriores —a procura já estava em queda, com um aumento em 2022, edição que marcou o retorno do festival no pós-pandemia. Das últimas cinco edições, a de 2018 foi a mais buscada.

O Limp Bizkit, símbolo da faceta mais comercial do nu metal dos anos 2000, surge com destaque, assim como o punk do Offspring, sucesso na década de 1990, o indie de Arcade Fire e do Phoenix, além do pop de Thirty Seconds to Mars e Sam Smith, que despontaram mais recentemente. Em comum, há o fato de que nenhum desses artistas escalados é estreante no Brasil, e metade deles já se apresentaram no próprio Lollapalooza.

Se nos últimos anos o público assistiu a shows de novas caras —entre elas Billie Eilish, Rosalía e Lil Nas X—, agora as novidades são exceções. A americana SZA, alinhada à produção atual, é uma delas. Greta Van Fleet despontou nos últimos anos com uma estética vintage ligada a clássicos do rock, mas já tocou no Lollapalooza há cinco anos.

Parece pouco para um evento que já serviu de vitrine para nomes em ascensão do cenário mundial e reuniu clássicos alternativos e menos óbvios em edições passadas. Ainda assim, afirma o curador Marcelo Beraldo, o objetivo do Lollapalooza é atrair o fã de música, em detrimento do ouvinte casual, mais interessado nas atrações paralelas.

Beraldo afirma que o Lollapalooza trabalha para apresentar "tendências musicais globais" a um público, segundo ele, de "pessoas apaixonadas por música, cultura e tendências". "No Lollapalooza, a música está no centro da experiência. O protagonismo está no encontro entre os artistas e o público", diz. "O que nos permite ter sucesso em um cenário tão competitivo é a nossa curadoria, o nosso line-up."

Neste ano, o festival tem 46 atrações brasileiras, um recorde. Os Titãs são quem têm o maior destaque, seguidos por Gilberto Gil, BaianaSystem, Marcelo D2, BK e Luisa Sonza. O funkeiro Kevin O Chris ganha espaço de destaque depois de causar alvoroço quando subiu ao palco convidado pelo americano Post Malone em 2019.

Em termos de estrutura, o Lollapalooza aposta na expertise em ocupar o autódromo —vantagem contra concorrentes que usam o mesmo espaço. O que há de novo são melhorias feitas para o The Town, que aconteceu em setembro, com banheiros melhores e áreas planificadas e com grama sintética.

"Nossos morrinhos continuam lá", diz Leca Guimarães, sobre o relevo que cria no palco Samsung Galaxy, o segundo maior do evento, uma espécie de anfiteatro natural que permite ampla visibilidade do palco. É algo que os festivais concorrentes não utilizaram.

No passado, o Lollapalooza teve tempestades que cancelaram shows e danificaram estruturas, além de calor intenso. As consequências do clima severo são uma preocupação.

A diretora diz que as estruturas "são projetadas para serem resistentes a ventos fortes e chuvas intensas". Ela ainda promete que "serão disponibilizadas oito estações de água potável gratuita" e duas estações com distribuição de recipientes de água. "Em caso de temperaturas extremas, será realizada a nebulização de água através de mangueiras, para trazer as temperaturas a níveis mais amenos."

Em relação ao futuro do Lollapalooza, agora sob nova direção, Guimarães diz que a Rock World "se dedicará a expandir sua grandiosidade e aprimorar suas entregas". Sobre o The Town, concorrente da mesma empresa, ela afirma que "são festivais com conceitos bem diferentes".

São Paulo, afirma a diretora, comporta os dois eventos. "É possível experimentar formas de entretenimento ao vivo, com os maiores nomes da música através das melhores experiências."

Colaborou Vitoria Pereira

Lollapalooza 2024

Como assistir aos shows do Lollapalooza de casa

As principais apresentações também poderão ser vistas de casa pelo público. O canal Multishow vai transmitir os shows dos palcos Budweiser e Samsung Galaxy, a partir das 14h30. O canal Bis, por sua vez, vai exibir as apresentações que estão programadas para os palcos Perry’s by Johnnie Walker e Alternativo. Quem não tiver acesso a uma televisão poderá assistir às transmissões via Globoplay.

Veja o mapa do Lollapalooza e faça seu guia para shows e atrações

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