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Entenda o sistema de cotas que faz sua estreia no Oscar de 2024 e mira a diversidade

Após críticas pela falta de indicações para não brancos e mulheres, Academia adotou regras para os novos tempos

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Jeremy W. Peters Brooks Barnes
The New York Times

O acerto de contas nacional em relação à justiça racial após o assassinato de George Floyd estimulou muitas das instituições mais distintas dos Estados Unidos a agir, mas poucas foram além da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que entrega o Oscar.

Estátua do Oscar durante os preparativos para a cerimônia de 2024 - Sarah Meyssonnier/Reuters

Após anos de críticas por ignorar diretoras mulheres e atores não brancos, a Academia anunciou uma enxurrada de mudanças orientadas para a diversidade. Uma medida de destaque que envolve o troféu mais cobiçado do cinema americano foi a decisão de que, para se qualificar para o Oscar de melhor filme, os indicados devem cumprir um novo conjunto de regras de diversidade e inclusão.

Essa nova regra, válida pela primeira vez na cerimônia que acontece neste domingo (10), porém, é complicada e abrangente.

Uma lista de regras abrange quase todos os aspectos do processo de produção cinematográfica. A diversidade na contratação de atores, diretores, maquiadores, publicitários, estagiários, entre outros, é levada em consideração. Assim como a trama do filme.

Para se qualificar, os filmes devem mostrar que atendem a duas das quatro principais regras de representatividade: na tela (com atores ou na trama), na liderança fora da tela (por meio dos trabalhadores que ficam nos bastidores), em programas de treinamento e no marketing.

Os líderes da Academia brilham como letreiros de teatro ao falar sobre as normas, chamando-as de um sucesso e apontando para uma pesquisa de 2023 com membros na qual 85% dos entrevistados disseram ser "importante" para a organização ser líder em representatividade, inclusão e equidade.

Mas críticos na indústria cinematográfica as descreveram como equivalentes a enfeites de Natal, frágeis e chamativos, fazendo mais para dourar a imagem de Hollywood do que para ajudar as pessoas que a indústria cinematográfica tem ignorado há muito tempo.

Executivos de algumas das principais empresas cinematográficas, falando sob condição de anonimato, disseram que as exigências de diversidade mudaram pouco no fazer cinematográfico, em grande parte porque os padrões são facilmente atendidos.

O diretor Spike Lee, cujos filmes frequentemente exploram a saga tortuosa do país com o racismo, disse que, embora ache que o "coração da Academia está no lugar certo", os padrões contêm "muitas brechas". Lee, que se recusou a comentar mais, também disse que nada mudará a menos que os "gatekeepers", os chefões, dos estúdios venham de origens mais diversas.

No lado mais conservador de Hollywood, ou o que pode parecer conservador em um grupo tão profundamente democrata, o ator Richard Dreyfuss, que frequentemente alfineta seus colegas mais liberais, chamou as regras de "sem pensamento", "paternalistas" e um impedimento à liberdade artística. "Elas me fazem vomitar", ele esbravejou.

Mas de várias formas, a diversidade melhorou, e o Oscar deste ano se parece muito mais com os Estados Unidos de 2024.

Sete dos 20 indicados em atuação são de grupos historicamente sub-representados. Lily Gladstone é a primeira indígena americana indicada em melhor atriz por seu papel em "Assassinos da Lua das Flores". Colman Domingo foi indicado a melhor ator por seu papel como o ativista dos direitos civis Bayard Rustin.

E a categoria principal inclui filmes com elencos diversos, como "Barbie" e "Ficção Americana", e histórias como "Vidas Passadas", sobre um reencontro entre uma mulher de origem coreano e seu amigo de infância.

Há "Oppenheimer", que recebeu 13 indicações e é amplamente visto por especialistas em premiações como o favorito ao Oscar principal. O filme tem temas profundos e críticas eufóricas, exatamente o tipo de trabalho que a Academia costuma prestigiar. Mas por causa de seu contexto histórico, o elenco é quase todo branco.

O filme biográfico, dirigido por Christopher Nolan, se passa em grande parte durante a Segunda Guerra Mundial, quando o exército e a maioria da sociedade americana ainda estavam segregados. Sua trama, sobre o programa para desenvolver a bomba atômica, é centrada em homens poderosos e privilegiados que trabalham nas instituições acadêmicas mais elitistas do país.

Ainda assim, "Oppenheimer" atendeu facilmente aos requisitos de diversidade para melhor filme.

Ele cumpriu um padrão para contratação fora das telas porque quase uma dúzia de mulheres ocupava cargos de liderança na equipe, incluindo os cargos de figurinista, diretor de arte, montador e cabeleireiro-chefe. Pelo menos um cargo de liderança foi ocupado por alguém de um grupo racial ou étnico sub-representado, a chefe de maquiagem, Luisa Abel, que é hispânica.

Mesmo sem essas decisões de contratação, "Oppenheimer" teria se qualificado. Isso porque seu estúdio, a Universal, criou programas internos, treinamento na carreira e desenvolvimento de público que ajudam a cumprir as regras para quase todos os filmes que produz.

Desde 2021, a Universal opera um extenso programa de treinamento de equipe para indivíduos sub-representados. A maioria dos filmes do estúdio participa, e "Oppenheimer" não foi exceção.

A Universal, mais do que alguns outros estúdios, também tem uma equipe de marketing e distribuição diversificada, incluindo Dwight Cane, presidente de marketing, que é negro. Todos os seus colegas em outros grandes estúdios são brancos.

"Os padrões não são difíceis de cumprir; serei a primeira pessoa a dizer isso", disse Jeanell English, que trabalhou na Academia em seus esforços de impacto e inclusão. "Mas o que eles estão fazendo é iniciar conversas críticas nesta comunidade sobre representação." Se fossem muito rígidos, acrescentou English, "você teria perdido muito apoio e timing".

A Academia tem sido criticada há anos, especialmente após o movimento Oscars So White, em 2015 e 2016, quando os votantes indicaram apenas atores brancos.

Houve melhorias depois que a Academia convidou um grande número de novos membros, mas alguns críticos afirmam que a mudança não ocorreu rápido o suficiente.

Um novo estudo sobre gênero, raça e etnia de diretores pela Iniciativa de Inclusão Annenberg da Universidade do Sul da Califórnia rejeitou promessas de diversificação como "atos performáticos da indústria do entretenimento, e não passos reais em direção à mudança".

E alguns se preocupam que as regras possam limitar a visão artística, e não querem que a Academia interfira nas decisões criativas.

"Sim, de fato, deve haver diversificação", disse F. Murray Abraham, vencedor do Oscar de melhor ator. "Mas espero que nossa busca por ela se expanda em vez de inibir nossos instintos criativos."

Meredith Shea, responsável pela área de adesão, impacto e indústria da Academia, disse que os padrões de inclusão sempre foram destinados a ser mais um estímulo, menos um édito.

"O objetivo não é excluir", disse Shea. "Não é dizer às pessoas que histórias contar, como contá-las, quem contratar ou como escalar. Queremos apenas que todos tenham a visão mais ampla possível ao longo do processo de produção cinematográfica. Pelo menos estamos discutindo como trazer pessoas que foram historicamente excluídas para a indústria."

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