Descrição de chapéu Independência, 200

Sino da Independência soa só em datas especiais, como Corpus Christi

Peça de 1820 está na igreja São Geraldo, zona oeste da cidade de São Paulo

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São Paulo

Uma das prováveis testemunhas do 7 de setembro de 1822 permanece em atividade na cidade de São Paulo. No alto do campanário da igreja São Geraldo, na Barra Funda, o chamado Sino da Independência, com 2,5 toneladas, soa apenas em ocasiões especiais.

"Como o som dele é muito forte, nós o tocamos apenas na Páscoa, Natal, Corpus Christi e no Dia do Padroeiro, 16 de outubro, em respeito à vizinhança. Diariamente acionamos dois sinos menores", conta o padre José Augusto Schramm Brasil, há 32 anos pároco da igreja São Geraldo.

Sino de 1820, localizado no topo do campanário da Igreja São Geraldo, no largo Padre Péricles, em São Paulo - Eduardo Knapp/Folhapress

Apesar do apelido, é improvável que esse tenha sido o único sino a soar no dia da proclamação da Independência do Brasil, segundo Jorge Pimentel Cintra, professor titular no Museu Paulista, nome oficial do Museu do Ipiranga.

"Quando se diz ‘Sino da Independência’, transmite-se a ideia de que foi o primeiro e o único sino que tocou na ocasião. Não foi nem o primeiro, nem o único. Dizer que esse é ‘o’ Sino da Independência causa equívoco. Ele pode ter sido um dos sinos que tocou, pois o costume era que todos os sinos tocassem juntos", afirma Cintra.

Feito com uma mistura de bronze e ouro, o sino é também chamado de Bronze Velho. Foi forjado em 1820 —é, portanto, 38 anos mais velho que o mais famoso sino do mundo, o inglês Big Ben.

Não é possível ser categórico quanto à origem da fabricação do Sino da Independência, tombado pelo Condephat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico). No entanto, documentos que constam no processo de tombamento indicam que o instrumento com 1,75 m de altura e 1,70 m de diâmetro foi fundido na cidade de Salvador, que se distinguia na fabricação de sinos no período do Brasil Colônia.

Francisco das Chagas Sampaio é o nome do artesão que aparece gravado no sino, assim como um trecho do Salmo 150, em latim: "Laudate eum in cymbalis benesonantilu: laudate eum in cymbalis jublilationes" (de acordo com o padre Brasil, significa: "Louvai o senhor com símbolos sonoros e jubilosos"). Do lado oposto ao dessa inscrição, estão gravadas as armas do reino de Portugal.

O Sino da Independência esteve na antiga igreja da Sé até 1913, quando o templo foi demolido para a construção da versão atual. Foi levado para o mosteiro da Luz, também na região central de São Paulo, onde permaneceu enclausurado e mudo por 29 anos, sem emitir sua rotunda e potente nota ré.

O sino ganhou voz novamente após ser içado, no dia 2 de agosto de 1942, à torre da igreja São Geraldo. Havia sido doado semanas antes pelo arcebispo Dom Duarte Leopoldo e Silva para a igreja no intuito de "bimbalhar" durante a saída da solene procissão de encerramento do 4º Congresso Eucarístico Nacional, em direção ao Vale do Anhangabaú.

Em novembro de 2003, o badalo, com 60 quilos, foi roubado. Os ladrões supunham haver ouro nele.

"Quando se fez a automatização do sino, entre 1984 e 1985, recebemos a recomendação de substituir o badalo original de ferro por um de bronze porque o ferro prejudica o bronze do corpo do sino. Então, quando houve o roubo, foi levado o badalo que substituiu o original", diz o padre Brasil.

E o badalo original, guardado a sete chaves na igreja, tem pouco valor material, pois não tem ouro, como pensavam os ladrões. Os responsáveis pelo crime nunca foram identificados.

​Visitação

O Sino da Independência está aberto para visitação, mas prepare-se: são cerca de 70 degraus de ferro, bem estreitos. Como a escada tem inclinação bastante vertical, vale tomar cuidado para não bater a cabeça nos degraus do alto e não perder o equilíbrio.

"O acesso não é muito fácil porque a torre não foi preparada para receber visitantes, mas quem quiser pode vir no horário de funcionamento da igreja", diz o padre Brasil. Durante a semana, funciona das 9h às 18h.

Embora esteja, a rigor, situada no bairro da Barra Funda, a paróquia do largo Padre Péricles está associada à história do bairro de Perdizes. Há quem a chame de Igreja São Geraldo das Perdizes.

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