Dólar interrompe 5 meses de alta e fecha julho com queda de 3,5%, a R$ 3,755

Alívio na guerra comercial e notícias no cenário eleitoral brasileiro puxaram a queda

Anaïs Fernandes
São Paulo

O dólar fechou julho com a primeira queda mensal ante o real desde janeiro, conforme a guerra comercial entre Estados Unidos e seus parceiros deu algum alívio aos mercados e investidores se animaram com notícias no cenário político brasileiro.

Após subir 4,07% em junho, o dólar comercial iniciou o mês cotado a R$ 3,912, mas encerrou a R$ 3,755, numa queda de cerca de 3,5%. Em janeiro, havia recuado 4,04%. No ano, porém, a moeda ainda acumula alta de 15%.

Com ambiente de menor aversão a risco, o Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa, avançou 8,9% em julho, a 79.220,43 pontos, mas não conseguiu fechar no patamar de 80 mil, que era uma meta desejada pelos investidores.

Para Fernanda Consorte, estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, julho foi um mês atípico para o contexto nacional e externo.

"Combinou o centrão apoiando o candidato do PSDB [Geraldo Alckmin] à Presidência, figura tida pelo mercado como mais reformista, com uma resposta dos países de forma global ao protecionismo dos Estados Unidos, após anúncio de mais taxas a importações. Isso também ajuda para um movimento de desvalorização do dólar", explica.

Ela relembra que no mês, por exemplo, foi firmado um pacto de livre-comércio entre União Europeia e Japão, e o próprio presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reuniu-se com representante da UE e anunciou um acordo para iniciar negociações rumo a um ambiente comercial com "zero tarifa".

Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo, destaca também que indicadores econômicos deram sinais de que os efeitos da paralisação de caminhoneiros de maio, e que impactou índices também em junho, foram pontuais.

"O IPCA-15 deste mês [indicador que serve como uma prévia da inflação oficial do país] desacelerou para 0,64%, e o IPCA fechado de julho deve vir abaixo de 0,3%. Os indicadores do IBGE como produção industrial e varejo também devem mostrar recuperação", afirma.

Consorte alerta, porém, que dias de volatilidade virão pela frente. "Teremos uma combinação de cenário internacional mais cauteloso e, a partir da segunda quinzena de agosto, a campanha eleitoral começa de fato, e é natural em períodos de eleições com grau de incerteza elevado uma valorização do câmbio", diz.

Termina no próximo domingo (5) o prazo para as convenções partidárias que definirão os candidatos para a corrida presidencial e seus respectivos vices. Dia 15 de agosto é a data limite para o registro das candidaturas, com a campanha começando oficialmente no dia 16 e o horário eleitoral gratuito na TV e no rádio, no dia 31.

"Para os investidores, o mais importante é a diversificação. A pessoa que tinha ações no portfólio sentiu volatilidade nos últimos dois meses, mas neste viu valorização. Isso não significa que agora ela deva colocar tudo em ações", diz Vinícius Maeda, diretor de relações com investidores da Magnetis.

DIA

Nesta terça, o dólar subiu 0,67%, acompanhando movimento global de valorização da divisa —avançou sobre 24 das 31 principais moedas do mundo— e também em dia de formação da Ptax, uma taxa calculada pelo Banco Central e que serve de referência para diversos contratos. No dia de seu fechamento, investidores forçam as negociações para impor a taxa que lhe é mais interessante.

O mercado aguarda ainda com cautela a definição de taxas de juros nos Estados Unidos e no Brasil, que acontecem nesta quarta-feira (1º).

A expectativa é que o Federal Reserve (banco central dos EUA) mantenha a taxa americana na banda entre 1,75% e 2%. Mas investidores estão mais de olho no comunicado emitido após a reunião, em busca de pistas sobre futuros aumentos —o mercado espera por mais dois, em setembro e dezembro.

Taxas de juros elevadas na maior economia do mundo atraem para os EUA um fluxo de capital alocado em outras praças, como no Brasil.

Também nesta quarta, o Copom (Comitê de Política Monetária) anuncia sua decisão para a Selic (taxa básica de juros do Brasil). A expectativa é que ela seja mantida em 6,5%.

Internamente, pesquisa de intenção de votos divulgada pelo instituto Paraná Pesquisas e que mostrava o candidato à presidência Ciro Gomes (PDT) à frente do pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, contribuía para ampliar um pouco a alta do dólar ante o real nesta sessão. O tucano é visto pelo mercado como um político mais comprometido com ajustes fiscais.

Com Reuters

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