Presidente da Petrobras defende manutenção de política de preços por governo Bolsonaro

Em tom de despedida, Ivan Monteiro disse que mudanças de gestão seriam mal recebidas pelo mercado

Rio de Janeiro

Em tom de despedida, o presidente da Petrobras, Ivan Monteiro, defendeu nesta terça (6) a manutenção da política de preços dos combustíveis pelo governo Jair Bolsonaro e disse que mudanças nos processos de gestão da companhia seriam "muito mal recebidas pelo mercado".

A equipe de Bolsonaro tem emitido sinais contraditórios com relação aos preços dos combustíveis. Enquanto o programa de governo falava sobre seguir as cotações internacionais, como a Petrobras faz atualmente, o presidenciável reclamou publicamente do aumento de preços em entrevistas e redes sociais.

"A gente acha que essa política é transparente, que dá previsibilidade ao mercado", disse Monteiro, em entrevista para detalhar o lucro de R$ 6,6 bilhões da companhia no terceiro trimestre de 2018.

"Evidentemente que o novo governo tem liberdade para fazer alterações mas cabe a nós esclarecer sobre a relevância dessa política", completou.

 

A fórmula atual de reajustes dos combustíveis foi iniciada em outubro de 2016, na gestão Pedro Parente, e tem como parâmetros as cotações internacionais, a taxa de câmbio e custos de importação dos produtos.

Passou a ser fortemente questionada com a escalada dos preços este ano, devido à alta do petróleo e do dólar.

Em entrevistas, o presidente eleito Jair Bolsonaro disse que os preços estão "no limite" e que tomaria medidas caso não parassem de subir. Questionado sobre as críticas nesta quinta, Monteiro defende que a política é um dos pilares que permitiu a recuperação da estatal nos últimos anos.

A estatal chegou a tentar blindar a política, incluindo no estatuto artigos que preveem indenização do governo em caso de prejuízos por decisões políticas. "Alteração disso pode ser feita? Pode. A gente só acha que haverá reação muito negativa do mercado, porque foram medidas que propiciaram a melhoria da governança da empresa", afirmou, citando mudanças nos procedimentos de aprovação de investimentos.

Além da política de preços, o novo governo deverá lidar com os processos de vendas de refinarias de dutos que foram suspensos por liminar do STF (Supremo Tribunal Federal). A companhia já não conta com a conclusão desses processos em 2018.

Foram colocadas à venda participações de 60% em duas empresas de refino, que têm cada uma duas refinarias, dutos e terminais. Além disso, a estatal estava em fase final de venda da malha de gasodutos do Nordeste, em negociação com a francesa Engie.

A equipe econômica de Bolsonaro tem falado em ampliar o processo de privatizações nos setores de petróleo e energia, embora haja resistências da ala militar. Não há indicações sobre a manutenção do plano de desinvestimentos da Petrobras, que deve chegar ao fim de 2018 com um terço da arrecadação prevista de US$ 21 bilhões (R$ 78,7 bilhões, na cotação atual).

Monteiro disse que a gestão atual contribuirá com o processo de transição para o novo governo e que ainda não houve contatos para falar sobre mudanças na direção da companhia. "Estamos aguardando qual vai ser a orientação do novo governo, não tem nenhum tipo de articulação ou interação em relação a esse assunto", afirmou.

Ele aproveitou a entrevista, porém, para fazer um balanço da gestão atual, que assumiu em 2015, ainda no governo Dilma Rousseff, com a missão imediata de calcular em balanço os prejuízos provocados pelo esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato. 

"Foi a tempestade perfeita para a companhia", disse ele, lembrando da perda da classificação de bom pagador de dívidas e dos investimentos que geraram prejuízos. "A gente tem agora companhia com toda a sua dívida reperfilada, toda a governança perfilada, com valor de mercado de R$ 385 bilhões", completou dizendo que o resultado "deixa a gente muito orgulhoso".

Ao fim da entrevista, em suas considerações finais, deixou "um abraço especial" aos jornalistas que cobrem a empresa "por todos esses anos". "Se por vezes, não consigo responder exatamente o que vocês querem, não é nada pessoal", concluiu.

Erramos: o texto foi alterado

A fórmula atual de reajustes dos combustíveis foi iniciada em outubro de 2016, e não de 2018. O texto foi corrigido.

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