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Recessão pode ter agravado quadro anterior de atraso industrial

Sem a indústria, dificilmente o emprego com carteira assinada sairá do quadro de crise

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São Paulo

Já soa como notícia velha dizer que a economia brasileira vai mal, que a recuperação após uma das mais severas recessões da história não engatou etc. Diversos indicadores divulgados nos últimos meses indicavam que 2018 havia sido decepcionante. Os dados mais detalhados do PIB (Produto Interno Bruto) conhecidos nesta quinta-feira (28) apenas corroboraram isso.

O problema maior está no que os números nos dizem sobre o futuro. Nenhum dos recortes das contas nacionais —seja pelo lado da demanda, que inclui consumo, investimentos e exportações, seja pelo lado dos setores da economia—  teve desempenho excepcional no último trimestre. Pelo contrário. A economia terminou o ano mais fraca do que havia começado.

Entre os componentes do PIB, talvez um que mereça especial preocupação, pensando nos próximos anos, é a indústria. Após quatro anos consecutivos de queda, o setor teve expansão pífia de 0,6% em 2018, além de ter recuado 0,3% no último trimestre do ano em relação ao período imediatamente anterior.

O patamar de produção do segmento ainda se encontra 12% abaixo do registrado antes do início da recessão no primeiro trimestre de 2014. Nessa mesma base de comparação, a atividade na agropecuária – apesar da estagnação registrada em 2018 – subiu 11,1%.

Como os anos anteriores haviam sido especialmente bons para a agricultura, talvez seja mais justo fazer essa comparação com o setor de serviços. Assim como a indústria, esse segmento também ainda não recuperou o patamar de antes da recessão. Mas, no caso dos serviços, a diferença restante é bem menor, de 2,9%.

Outra forma de enxergar a dificuldade da indústria brasileira a sustentar uma recuperação é achar na série do IBGE o momento do passado em que sua produção era equivalente ao nível atual. A resposta dos números a essa pergunta é: meados de 2009. Ou seja, nenhum progresso em quase uma década.

Imprevistos ocorridos fora da dinâmica interna da economia brasileira ajudam a explicar por que o setor – que parecia estar engatando uma primeira marcha no início de 2018 – sofreu novo golpe. Greve dos caminhoneiros e crise na Argentina seriam os culpados, sob essa ótica.

Sem dúvida esses dois choques tiveram grande impacto negativo. Mas a questão que economistas começam a se perguntar é se a recessão não teria agravado um quadro pregresso de atraso industrial de reversão, agora, ainda mais difícil.

Afinal, problemas estruturais como ambiente de negócios nocivo ao empreendedorismo, carga tributária excessiva e complicada, pouco incentivo à inovação e baixa oferta de mão de obra qualificada não brotaram do nada nos últimos anos. São velhos conhecidos nossos.

O sucesso ou fracasso do atual governo em atacá-los – além de enfrentar outros problemas como as contas insustentáveis da Previdência – dirá se ainda há chance de modernização, e crescimento industrial mais vigoroso no país nos próximos anos.

Vale acrescentar que a indústria é uma importante empregadora de mão de obra formal (o setor de serviços é o principal). Portanto, enquanto não houver uma recuperação mais robusta do setor, dificilmente, o emprego com carteira assinada sairá de seu persistente quadro de crise.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado em versão anterior deste texto, o setor com a maior fatia de mão de obra formal empregada (56% em 2017) é o de serviços e não a indústria.
  

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