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BS2 lança conta online em moeda estrangeira com cartão de débito

Banco digital conhecido por patrocinar o Flamengo oferece alternativa para uso de dinheiro em viagens no exterior

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São Paulo

À espera de regras mais simples do Banco Central para operações de câmbio, fintechs (empresas que usam tecnologia para oferecer serviços financeiros) e bancos digitais já oferecem contas em moeda estrangeira e facilitam a vida de quem precisa usar dinheiro no exterior. 

O mais novo serviço é uma conta com mais de uma moeda (real e dólar, por exemplo) com um cartão de débito, operação que pode tornar mais barato levar dinheiro para as férias no exterior.

O banco digital BS2, antiga financeira Bonsucesso, oferece o serviço em fase de testes a parte de seus correntistas. O cliente com conta no banco faz uma operação de câmbio dentro do aplicativo e passa a ter saldo em dólar para pagar com um cartão de débito ou sacar dinheiro no exterior (a US$ 5 por operação) — o banco estuda também a conta em outras moedas, como euro e libra.

“Ao abrir sua conta no Brasil, o cliente já consegue abrir a conta internacional, que já está em dólar e disponibiliza a transferência 24 horas por dia”, diz o executivo de banco digital do BS2, Robson Dantas.

A instituição cobra de 2% a 4% sobre o valor do dólar comercial para fazer o câmbio. O percentual é mais baixo que a média de 5% aplicada pelos grandes bancos no cartão de crédito e em outras operações do tipo —é essa taxa cobrada sobre o câmbio comercial que forma o que as pessoas conhecem como câmbio turismo.

O IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) também é mais barato no câmbio via aplicativo do que nos cartões de crédito e pré-pagos brasileiros usados exterior: 1,1% ante os 6,38%.

Duas mãos de madeira, como manequins, seguram dinheiro: uma segura uma nota de dólar e outra segura uma nota de dois reais.
Novas iniciativas trazem vantagens para quem viaja para o exterior - Gabriel Cabral/Folhapress

Como comparação: uma pessoa que gastasse US$ 1.000 na nova modalidade teria despesa em real de R$ 4.416 (considerado dólar comercial de R$ 4,20 da semana passada). No cartão de crédito, sairia por R$ 4.691, uma diferença de R$ 275.

O modelo de negócio do BS2 é parecido com o da Transferwise, que tem contas multimoeda e um cartão de débito em outros países —o serviço completo ainda não chegou ao Brasil. 

Por aqui, a fintech oferece remessa de recursos ao exterior e permite que o cliente receba dinheiro de outras contas em moeda estrangeira. 

O dólar usado na operação é a cotação que o cliente vê ao fazer uma busca no Google. Sobre esse valor, a companhia cobra uma taxa de 1,5% e o IOF de 1,1%.

A demora na oferta do cartão de débito da Transferwise por aqui, segundo a gerente geral da empresa no Brasil, Heloisa Sirota, é regulatória.

“No exterior, nós já oferecemos a conta internacional e o cartão de débito vinculado, mas no Brasil nós ainda estamos limitados do ponto de vista regulatório. O pedido [ao BC] já foi encaminhado há quase dois anos, mas é um processo muito moroso e difícil. A expectativa é de conseguir a autorização nos próximos meses”, afirma.

O BC enviou no começo de outubro um PL (Projeto de Lei) ao Congresso para mudar as regras do mercado de câmbio no país. A principal novidade para pessoa física é a previsão legal de que brasileiros possam ter contas em dólar no Brasil.

O Congresso aprovou, no fim do mês passado, a criação de uma comissão especial para que o tema seja discutido, mas ela ainda não foi constituída.

De acordo com o BC, os gastos de brasileiros no exterior totalizaram US$ 1,3 bilhão em setembro, uma alta de 11,9% ante igual período de 2018 e o maior valor para o mês desde 2017.

Tanto o BS2 quanto a Transferwise encontram espaço entre consumidores que viajam frequentemente e esbarram em custos altos do cartão de crédito e pré-pagos ou na insegurança de carregar dinheiro em espécie. 

Essas fintechs atraem também quem precisa enviar dinheiro a familiares no exterior, caso de quem tem filho estudando fora, por exemplo.

A reação dos grandes bancos, por enquanto, se limita a isentar tarifas de mais de R$ 100 para envio de remessas ao exterior, caso do Bradesco e do Santander. A taxa para converter reais em dólares, porém, continua mais cara que a cobrada por novas instituições financeiras, acima de 5,5% sobre o dólar comercial, conforme pesquisa feita nos aplicativos.

Os grandes bancos atribuem às regras ultrapassadas o alto custo cobrado de clientes para operação de câmbio.

“A legislação cambial é muito antiga, o que faz com que a atividade tenha um arcabouço complexo e barreiras de atuação. Isso encarece o [custo] operacional. Os bancos têm tentado compensar com [a receita vinda de] compra e venda de moedas, em vez de cobrar uma tarifa fixa”, diz Roberto Medeiros, diretor da área de câmbio do Bradesco.

“Por regulação, somos obrigados a dizer o custo total para o cliente. Nós já não cobramos mais a tarifa e a taxa de câmbio é a mesma do mercado. Mas obviamente que nela há um preço embutido que remunera o banco pela operação”, acrescenta Alessandro Chagas Farias, superintendente do Santander.

Já o superintendente do Itaú Unibanco, Ricardo Santos, afirma que as operações de câmbio oferecidas pelas fintechs são limitadas e é por isso que elas conseguem ser mais competitivas que os bancos e cobrar menos.

“As fintechs fazem parecer que é um mundo lindo e fácil, mas elas não operam com todas as naturezas existentes em operações cambiais, além de terem uma limitação de valor. O processo de transferir recursos para o exterior é complexo e precisa de segurança jurídica”, afirma Santos.

De fato, algumas fintechs, por enquanto, oferecem apenas operações de câmbio para pessoa física e o destino dos recursos no exterior também é limitado: via de regra, conta de mesma titularidade e envio de recursos para quem estuda fora.

Atendem, porém, o público com menor poder de barganha junto aos bancos, porque compram dinheiro em pouca quantidade.

Segundo o cofundador da Remessa Online, Alexandre Liuzzi, apesar de a demanda dos brasileiros para transferência de recursos ao exterior ainda ser baixa, a expectativa de recuperação econômica no país abre espaço para que mais brasileiros viagem e procurem alternativas.

“O crescimento da renda per capita aumenta a internacionalização dos consumidores, que buscam estudar, trabalhar e investir no exterior. Esse segmento deve se desenvolver nos próximos anos”, afirma.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado em versão anterior desta reportagem, algumas fintechs também oferecem a opção de remessas internacionais para pessoas jurídicas. O texto foi alterado.

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