Beirute pediu a volta de Ghosn uma semana antes de fuga muito planejada

Pedido reforçará indagações sobre apoio que ex-presidente da Nissan recebeu do Líbano para a saída do Japão

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Chloe Cornish Leo Lewis David Keohane
Beirute, Tóquio e Paris | Financial Times

O Líbano pressionou pelo retorno de Carlos Ghosn uma semana antes de o ex-presidente da Nissan escapar de Tóquio para Beirute com a ajuda de agentes de segurança privados, que planejaram sua fuga durante meses.

Os esforços do Líbano para garantir seu retorno ficaram mais claros quando se soube que os preparativos começaram em outubro e envolveram uma equipe de profissionais contratados, segundo pessoas informadas dos detalhes.

Ghosn saiu do aeroporto de Osaka em um jato particular, depois de fugir da vigilância 24 horas dos promotores de Tóquio e superar a apreensão de seus passaportes.

O ex-presidente da Nissan Carlos Ghosn, em foto de novembro de 2018
O ex-presidente da Nissan Carlos Ghosn, em foto de novembro de 2018 - Ludovic MARIN/AFP

Embora as autoridades libanesas tenham formulado o pedido há um ano, o renovaram durante uma visita a Beirute de Keisuke Suzuki, ministro das Relações Exteriores do Japão, em 20 de dezembro, quando a questão foi discutida no final de uma reunião com o presidente do Líbano, Michel Aoun.

O pedido foi apoiado no mais alto nível e provavelmente reforçará as indagações sobre o apoio que Ghosn recebeu do Líbano nos preparativos para sua fuga.

A escapada de Ghosn para o país natal de sua mãe significa que ele evitará ser julgado em Tóquio, onde enfrenta acusações de má conduta financeira relacionada ao seu tempo como chefe da aliança de montadoras Nissan-Renault.

O julgamento, que poderá começar só no outono, poderia se arrastar durante vários anos. Um dia depois de chegar ao Líbano, Ghosn insistiu que não estava fugindo da Justiça, mas que "escapou da injustiça e da perseguição política" no Japão.

Uma pessoa próxima à família Ghosn disse que os agentes de segurança privada contratados por Ghosn se dividiram em várias equipes, operando em diferentes países. Os preparativos foram auxiliados por japoneses que apoiam Ghosn, disseram duas pessoas familiarizadas com a situação.

A mulher de Ghosn, Carole, também libanesa, teria pressionado o governo libanês por ajuda diplomática.

O Ministério da Justiça do Líbano solicitou a volta de Ghosn --e que ele fosse julgado no Líbano-- logo após sua prisão no ano passado, de acordo com uma autoridade libanesa que acrescentou que Tóquio não respondeu na época.

Ghadi Khoury, diretor de assuntos políticos do Ministério das Relações Exteriores do Líbano, disse que o país "pediu a extradição [de Ghosn]".

Ele negou que o governo estivesse envolvido nos planos de fuga do executivo. Outra autoridade de Beirute disse que o momento do último pedido foi uma coincidência. Khoury acrescentou que Ghosn havia entrado no país com passaporte francês e carteira de identidade libanesa.

Um porta-voz de Ghosn em Paris confirmou que ele usou um passaporte francês válido para entrar no Líbano, mas não explicou como ele saiu do Japão. O Ministério das Relações Exteriores da França se recusou a comentar se Ghosn usou passaporte francês, dizendo que não conhecia as circunstâncias de sua partida.

A fuga de Ghosn causou constrangimento ao Ministério da Justiça do Japão e provavelmente renovará as críticas à decisão do Tribunal Distrital de Tóquio de conceder fiança a Ghosn, disse uma autoridade japonesa.

O executivo pagou um total de 1,5 bilhão de ienes (R$ 56 milhões) ao tribunal e se submeteu a condições como permitir que câmeras registrassem seus movimentos e os de qualquer visitante em sua casa. Ele não teve permissão para se encontrar com sua mulher. No entanto, não era obrigado a usar monitores eletrônicos.

Os promotores argumentaram contra a fiança, descrevendo Ghosn como um claro risco de fuga.

Na Nissan, montadora que ele administrou durante quase 20 anos, funcionários graduados disseram estar perplexos com o fato de Ghosn ter recebido fiança devido à sua riqueza, sua rede global de associados e propriedades e seu conhecimento sobre terminais de jatos particulares.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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