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Crise do coronavírus sobre o setor aéreo é séria, dizem empresas

Ministério estuda reduzir tributo sobre querosene, mas há resistência na equipe econômica

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Brasília

A entidade que representa as empresas aéreas brasileiras afirma que os impactos do coronavírus sobre o setor de aviação representam uma crise séria, que exige ações do governo para amenizar os efeitos sobre as companhias.

O presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), Eduardo Sanovicz, diz que qualquer estimativa de prejuízo seria prematura, mas aponta que as companhias já adotaram medidas de redução de custos e rotas.

"A crise é grave principalmente porque entra em aspectos econômicos sem precedentes. Está reunindo o coronavírus com o embate entre os produtores de petróleo", afirma Sanovicz, em referência à derrubada do preço dos barris no mercado internacional.

A associação, que congrega as grandes companhias nacionais, apresentou ao governo um pacote de propostas para atenuar a queda na demanda provocada pela propagação do vírus.

Entre os pedidos estão a redução de tributos sobre o querosene de aviação, sobre o leasing de aeronaves, sobre a folha de pagamento de funcionários e sobre as tarifas de aeronavegação e pouso.

A Abear também solicitou a elaboração de medidas de estímulo ao turismo, como a redução da tarifa de embarque internacional.

Segundo a associação, as empresas aéreas pagam R$ 42,5 bilhões por ano em tributos federais, estaduais e municipais. Sanovicz argumenta que a preservação do setor atenderia a um mercado com impacto de R$ 131 bilhões sobre a economia nacional.

O governo discute medidas para amenizar os efeitos dessa crise. Após reunião na quarta-feira (11), o ministro Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) afirmou que está buscando soluções para o setor.

Uma das primeiras propostas era reduzir a cobrança de tributos sobre o querosene de aviação. Inicialmente, o ministro Paulo Guedes (Economia) apresentou resistências a esse plano.

Tanto as empresas quanto analistas do setor afirmam que, além da restrição imposta por diversos países a viagens internacionais, a crise do coronavírus pode se expandir e afetar também rotas domésticas no Brasil.

"Ninguém tem dúvidas de que o número de reservas está diminuindo. As empresas estão cancelando reuniões, e isso afeta diretamente o mercado de transporte aéreo", afirma o advogado Ricardo Fenelon, ex-diretor da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).​

Além do cancelamento de viagens internacionais, ele diz que a suspensão de eventos corporativos e a consequente redução da demanda por viagens de negócios dentro do país tende a afetar de maneira "bastante séria" as companhias brasileiras de aviação.

O presidente da Abear afirma que as empresas estão acompanhando o cenário relacionado a essas rotas para tomar atitudes precisas no futuro.

"É lícito supor que vai chegar o momento em que teremos algum impacto na malha doméstica. Ele será diferente para cada empresa, porque as malhas de cada uma são diferentes", diz Sanovicz.

As empresas trabalham para amenizar entre os passageiros o temor de contaminação dentro dos voos. A Abear afirma que os sistemas de ar dos aviões reduz o risco de transmissão do vírus.

"Voar é superseguro. Os aviões limpam 99,7% do ar que circula. As equipes estão capacitadas para atender a todos", declara o presidente da entidade.

Analistas que acompanham o setor apontam que o medo de voar é um fator determinante na redução de demanda sobre o setor aéreo. O ex-diretor da Anac diz que este é um elemento comum entre a crise do coronavírus e o 11 de Setembro.

"Naquela época, houve um medo generalizado das pessoas de voar. As empresas demoraram anos para se recuperar", afirma Ricardo Fenelon.

No período seguinte aos atentados de 2001, companhias de todo o mundo perderam mais de US$ 35 bilhões devido à queda no fluxo de passageiros, segundo estimativas do setor.

Fenelon diz que é cedo para estimar a dimensão do impacto da crise, mas reforça que o setor é um dos primeiros afetados pelo esfriamento da atividade econômica.

Avião próximo ao Aeroporto Santos Dummont, no Rio de Janeiro - Vanderlei Almeida/AFP Photo

"A aviação é sempre muito impactada pelo cenário macro. Quando há uma redução do ritmo dos negócios, há um resultado direto no setor", diz.

Nesta quinta (12), a LATAM anunciou uma redução de quase 30% de seus voos internacionais devido à baixa demanda por bilhetes, além das restrições impostas por alguns governos.​

O ex-diretor da Anac avalia que esses efeitos serão sentidos na aviação doméstica. Ao avaliar o mercado brasileiro, ele cita estimativas negativas feitas pelo CEO da companhia americana Southwest Airlines, cuja operação se concentra em voos dentro dos EUA e em um número limitado de destinos internacionais.

"A Southwest é uma empresa doméstica e de curto alcance, que seria um caso mais parecido com empresas brasileiras como a Gol", explica. A empresa americana viu uma queda brusca de reservas nas últimas semanas.

Antes que o coronavírus fosse classificado como uma pandemia, a Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo) já havia divulgado um cálculo de perdas de até US$ 113 bilhões (R$ 550 bilhões) para o setor em todo o mundo.

No Brasil, as ações das companhias aéreas negociadas na B3 tiveram desvalorização acentuada. Nesta quinta, os papéis da Azul caíram quase 30%, acumulando perdas de mais de 60% no ano. A Gol caiu mais de 25% no pregão, marcando uma perda de quase 70% em 2020.

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