Demarcação de terra indígena em Roraima não tem relação com alta do arroz

Vídeo engana ao ligar os dois assuntos; dólar e pandemia estão entre os fatores que explicam atual preço do alimento

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São Paulo

É enganoso o conteúdo do vídeo que relaciona a alta no preço do arroz ocorrida neste ano com a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.

A terra foi identificada pela Funai (Fundação Nacional do Índio) em 1993, demarcada ainda no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e homologada em 2005 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Corroborada por decisões do STF (Supremo Tribunal Federal), a demarcação promoveu a expulsão dos arrozeiros da região e a queda da produção do grão em Roraima, como alegam as imagens. O vídeo verificado pelo Comprova, no entanto, não leva em conta que o arroz produzido em Roraima representou apenas 0,79% da safra brasileira, na média dos últimos 20 anos –ou seja, desde antes da homologação; e desconsidera que agricultores têm preferido investir na soja, devido à maior rentabilidade.

A própria Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) destacou que a alta acumulada de 19,25% no preço do arroz desde o início do ano é resultado de seis fatores, entre eles a alta do dólar, a maior exportação e a pandemia.

Prateleiras de supermercado no setor de arroz
Setor de arroz em supermercado; valorização do dólar foi um dos fatores que levou à alta do produto - Elaine Granconato

Diretor de assuntos internacionais da Abiarroz (Associação Brasileira da Indústria do Arroz), Mário Eduardo Figueira Pegorer esclareceu que a produção de Roraima já foi mais expressiva, mas que “ela não tem nada a ver com a alta do preço do arroz neste ano”. “Se tem um culpado, é o novo coronavírus”, diz.

Alta do arroz

De acordo com as informações mais recentes do IBGE, divulgadas no dia 9 de setembro e referentes ao mês e agosto, o preço médio do arroz subiu 19,25% desde o início deste ano. Entre os fatores que motivaram a alta, estão:

  • Valorização do dólar frente ao real, que encareceu insumos agrícolas, deixou o arroz brasileiro mais barato para o mercado internacional e tornou mais vantajosa a exportação do grão;
  • Período de entressafra do arroz, que acontece no segundo semestre de cada ano;
  • Aumento da demanda por causa da pandemia do novo coronavírus.

Além desses três motivos, a Conab também citou:

  • Patamares elevados do preço internacional antes da crise da Covid-19;
  • Menor disponibilidade de importação de arroz dos parceiros do Mercosul;
  • Redução da área de arroz no Brasil nas últimas duas safras, como consequência do resultado das baixas rentabilidades identificadas nos últimos anos.

Mário Eduardo Figueira Pegorer, na Abiarroz, explicou a dinâmica do mercado. “Em termos de preço internacional, o arroz não teve uma variação muito grande. Porém, a tendência é o preço do arroz no Brasil ir para a cotação média internacional. Como houve uma desvalorização muito forte do real bem no início da nossa safra, houve essa alta expressiva aqui”, esclareceu.

Verificação

Na terceira fase, o Comprova verifica postagens suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais e que tenham ligação com políticas públicas do governo federal ou com a pandemia da Covid-19. É o caso do vídeo verificado aqui.

As disputas por terras indígenas têm aparecido com frequência em postagens nas redes sociais que questionam ou criticam o direito das comunidades indígenas de permanecerem nas próprias terras –que, neste caso, faz parte da Amazônia Legal, que tem sofrido com diversas queimadas e informações falsas sobre a respectiva preservação.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo que usa dados imprecisos e induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou que confunde, com ou sem a intenção de causar dano.

A investigação desse conteúdo foi feita por A Gazeta e Correio e publicada na quarta-feira (30) pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 28 veículos na checagem de conteúdos sobre coronavírus e políticas públicas. Foi verificada por Folha, UOL, O Povo, Jornal do Commercio, BandNews, GZH, Poder360, Estadão e NSC.

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