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Washington Olivetto

Covid Sport Club

A NBA soube se reinventar rapidamente neste 2020 sem plateias; no futebol, o grande choro foi a perda de Maradona

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Washington Olivetto

Único publicitário não anglo-saxão no Hall of Fame do One Club de Nova York e no Lifetime Achievement do Clio Awards

Este 2020 da Covid-19, além de provocar tristezas em muita gente, tirou a alegria de vários outros, porque inventou as competições esportivas sem torcida.

Na maior parte dessas competições, os favoritos venceram, mostrando que não dependiam tanto dos torcedores para conseguir bons resultados, caso da Fórmula 1, onde Lewis Hamilton se sagrou campeão pela sétima vez.

Lewis Hamilton, além de excepcional piloto, é um exemplo de comportamento. Três anos atrás, um amigo meu visitou diversas escolas em Londres para escolher uma delas para o seu filho. Visitou escolas tradicionais e escolas de vanguarda. Assistiu boas apresentações em todas.

Mas se viu surpreso quando, numa escola das mais tradicionais, o sisudo diretor fez questão de interromper sua apresentação para mostrar fotos que provavam que Lewis Hamilton havia estudado lá. A escola era a Peartree School, em Garden City, onde Hamilton foi aluno na infância.

Lewis Hamilton faz questão de visitar a Peartree School todos os anos para fazer palestras para os novos alunos sobre responsabilidade.

Pensando em Hamilton e nos grandes prêmios, dá vontade de analisar as diferenças da Fórmula 1 na Europa e no Brasil.

A Fórmula 1 no Brasil foi um fenômeno baseado no talento dos corredores brasileiros, como Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, Ayrton Senna, Rubens Barrichello e Felipe Massa. Gerou transmissões espetaculares com a competência técnica da Rede Globo, que além da exuberância visual, se utilizava da enorme capacidade do Galvão Bueno de captar o inconsciente coletivo, dizendo as coisas que a maioria dos espectadores queria ouvir.

Somada a essa narrativa emocional, acrescentavam-se os comentários técnicos, mas fáceis de entender, do Reginaldo Leme, e uma trilha sonora empolgante, como a canção que sublinhava as vitórias do Ayrton Senna.

Esse formato de transmissão, anabolizado por matérias no Jornal Nacional aos sábados e no Fantástico aos domingos, fizeram da Fórmula 1 no Brasil, durante muitos anos, um fenômeno único de audiência, idolatrado pelo grande público e desejado pelos grandes anunciantes.

Já na Europa, a Fórmula 1 sempre foi um evento sobre marcas e escuderias. Com a presença de grandes pilotos locais e internacionais, mas valorizando muito mais o todo da competição, do que as individualidades.

Nos últimos tempos, sem a presença de um grande ídolo brasileiro entre os vencedores, a Fórmula 1 no Brasil foi perdendo o interesse; os grandes anunciantes puxaram o freio de mão e a Rede Globo parece que desistiu do negócio, que agora não se sabe muito bem pra onde vai.

Já na Europa, a Fórmula 1 se manteve como sempre foi: mais uma das competições anuais de grande prestígio. Nem mais, nem menos do que isso.

Ainda falando em corridas, quem teve um resultado surpreendente este ano foi a Tour de France, vencida pela primeira vez por um ciclista esloveno, o jovem Tadej Pogačar.

A Tour de France existe desde 1903, mas ganhou força mesmo em 1958 quando a França, que tinha na sua equipe os craques Just Fontaine e Raymond Kopa, perdeu para o Brasil por 5 a 2 nas semifinais do Mundial de Futebol na Suécia.

Naquele momento, os editores do L’Équipe, o principal jornal esportivo francês, resolveram colocar o futebol em segundo plano e investir pra valer no verdadeiro esporte nacional dos franceses, que é o ciclismo.

De lá pra cá, a Tour de France se glamurizou, surgiram os grandes campeões, incluindo o maior de todos, o belga Eddy Merckx, e a competição virou uma atração mundial.

A Tour de France de 2020 não perdeu expectadores de ginásios e estádios porque esse tipo de expectador não existe. Assiste quem estiver nas ruas, quando a Tour de France estiver passando pela sua cidade.

Mas perdeu as festas de encerramento de cada etapa, que foram canceladas. Dizem que essas festas, em matéria de glamour e quantidade de champagne, colocam as festas da Fórmula 1, incluindo as de Mônaco, no chinelo. Ou para usar uma linguagem mais adequada ao ciclismo, na sapatilha.

Outro esporte que soube se reinventar rapidamente neste 2020 sem plateias foi aquele que historicamente é o mais bem-sucedido de todos: o basquete da NBA.

Dando aulas de comunicação desde a sua fundação em Nova York em 1946, e se renovando constantemente com gestos como a criação da cesta de 3 pontos, a NBA praticamente inventou empresas como a Nike, reinventou empresas como a Adidas, criou os atletas mais bem pagos do planeta e continua movimentando bilhões de dólares a cada ano.

Neste 2020, mexeu rapidamente no formato das suas transmissões, conseguindo preservar a emoção e através dos seus astros quaquilionários, mas nem um pouco alienados, e interferiu inclusive no resultado das eleições presidenciais norte-americanas. A greve dos jogadores da NBA se manifestando contra o racismo no mês de agosto foi um dos fatos mais marcantes deste 2020.

Por outro lado, no futebol, onde a maioria dos grandes astros são menos politizados, aconteceram coisas opostas. Tivemos desde campeonatos adiados, até maluquices em países como o Brasil, onde os dirigentes do Flamengo reivindicaram a volta dos jogos com torcida, no auge da pandemia, como se a população não importasse e como se o Flamengo necessitasse da presença dos seus torcedores para vencer suas partidas ou garantir sua sobrevivência.

Sob o ponto de vista do negócio, o fato mais marcante do futebol nesse 2020 foi o cancelamento da final da Champions League, que aconteceria no dia 30 de maio em Istambul, com estádio lotado e grandes festas, e acabou sendo jogada no dia 23 de agosto, em Lisboa, no Estádio da Luz, sem público algum. Nesse dia, Bayern de Munique e PSG disputaram a final, vencida pelo time alemão por 1 a 0.

Entre os momentos marcantes daquela partida, destaca-se a cena que mostra Neymar, depois do jogo, chorando solitário, sentado no banco de reservas da sua equipe.

O choro de Neymar tinha razão de ser: naquele dia ele perdeu bem mais do que uma partida de futebol para uma equipe que era considerada a favorita. Perdeu também a chance de ser eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa, sonho antigo, que foi mais uma vez adiado.

Mas o grande choro do futebol em 2020 não foi o de Neymar. Foi o de todo o planeta, triste com a perda do gênio Diego Armando Maradona.

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