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Startup fatura criando grupos pagos no WhatsApp

ChatPay desenvolveu modelo para ajudar produtores de conteúdo a lucrarem usando o aplicativo durante a pandemia

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São Paulo

Terreno para polêmica entre familiares e plataforma para disparo em massa de informações falsas, o WhatsApp é também usado para gerar renda. Pequenos negócios, trabalhadores autônomos, coaches e influenciadores lançam mão do aplicativo para se aproximar de clientes e vender produtos.

De olho nesse potencial, a startup ChatPay elaborou um modelo de negócios que consiste basicamente em criar grupos pagos por meio de assinaturas e facilitar a gestão deles. A empresa automatiza processos de inclusão e exclusão de membros, por exemplo, além de cobrança e pagamento.

A receita vem de uma taxa de 11% para cada assinatura feita pelo cliente final, não havendo assim qualquer gasto para profissionais que acionam o serviço —em sua maioria, até agora, influenciadores fitness e mentores de investimento e marketing. Mas há também entre os gestores professores de música, gastronomia, entre outros.

Arthur Alvarenga, cofundador da CharPay, startup que está faturando com um modelo de negócios baseado em criar grupos de Whatsapp - Adriano Vizoni/Folhapress

O modelo tem dado certo em tempos em que profissionais precisam se reinventar e buscar formas virtuais de monetizar seus serviços. A ChatPay nasceu no começo da pandemia e, desde então, atraiu 200 gestores e cerca de 20 mil assinantes. Recentemente, recebeu um aporte de US$ 2,1 milhões da Kaszek Ventures e passou pelo programa de aceleração da Y Combinator, do Vale do Silício.

Segundo Arthur Alvarenga, sócio-fundador da startup, a ideia surgiu após uma tentativa falha de trazer para o Brasil uma versão do aplicativo norte-americano NextDoor, que conecta vizinhos. A empreitada acabou não dando certo pelo fato de a vizinhança brasileira já ter a sua própria maneira de se conectar.

"Percebemos que a NetDoor já existia no Brasil e era o grupo de WhatsApp. As pessoas não queriam sair de lá", diz. "E aí nos demos conta de que quando existe um gestor nesses grupos, ele é capaz de agregar muito valor."

A adaptação para uso profissional veio quando os sócios da empreitada conheceram a influenciadora Alessandra Marquiori, que reunia suas seguidoras do Instagram no aplicativo de mensagens instantâneas para cumprirem desafios de boa forma, cobrando um valor simbólico.

Até então, ela acrescentava manualmente cada participante do desafio, cobrava a assinatura de uma por uma e gerenciava os diversos grupos se dividindo entre nove celulares.

Marquiori serviu como a "paciente zero" para que os empreendedores validassem o produto. Com a automação dos processos, a influenciadora soma hoje 3 mil assinantes e apenas um aparelho telefônico. Parte do dinheiro foi investido para montar uma equipe com personal trainer, nutricionista, enfermeira materno-infantil e psicóloga que ajuda a preparar o material para os desafios e responder a perguntas nos grupos.

O conteúdo dos treinos e dietas fica disponibilizado em uma plataforma interna criada pela ChatPay, para assinantes não se perderem na típica dinâmica caótica de mensagens.

"O grupo funciona mais como uma rede de apoio para motivação das mulheres", explica Marquiori. "Trocamos figurinhas, receitas saudáveis, as meninas tiram dúvidas."

A plataforma interna foi uma das soluções desenvolvidas para atender a uma limitação do aplicativo enquanto ferramenta de trabalho.

"Percebemos que o WhatsApp é um ótimo lugar para motivação, mentoria, para engajar as pessoas, mas péssimo para passar informações detalhadas que exigem tempo e esforço", diz Alvarenga.

Outra adversidade da ferramenta que encurta o espaço entre as pessoas está o de, ao fazer isso, também apagar limites entre vida pessoal e profissional e exigir, por vezes, atenção 24 horas.

Marquiori diz que chega a acessar os grupos dez vezes ao dia, entre ministrar aulas na Unipac (Centro Universitário Presidente Antônio Carlos) de Belo Horizonte, advogar e cuidar de seus filhos de 1 e 3 anos. As demais profissionais de sua equipe estabelecem horários para estarem disponíveis. "Às 22h eu fecho o aplicativo, desligo tudo, e volto na manhã seguinte", diz ela.

Mais polêmicas no uso do aplicativo envolvem a proteção a dados pessoais e a distribuição de conteúdo impróprio.


A ChatPay não se compromete pelo que é compartilhado nos grupos que cria, mas Alvarenga explica que hoje a empresa consegue manter um controle de qualidade de forma personalizada, já que a startup ainda possui poucos clientes. Há um veto no geral para produtos de teor pornográfico, e para além disso a startup faz um filtro dos gestores que buscam seus serviços, fornece consultoria e mantém contato com os assinantes finais pela página de atendimento ao cliente.

Entre as orientações que a empresa passa aos produtores está o estabelecimento de regras claras para os participantes dos grupos, como não enviar mensagens que fujam do escopo do espaço, uma praxe para quem administra redes sociais.

Marquiori, por exemplo, pede para que os participantes de seus desafios não anunciem produtos, nem façam comentários políticos ou religiosos. A influenciadora diz ter tido, até hoje, apenas um problema: um homem que compartilhou uma piada pornográfica em um grupo para casais. "Ele mesmo se deu conta do erro e saiu."

"Como intermediária, a empresa precisa decidir se quer exercer algum tipo de controle ou só ser essa ponte", ressalta Ester Borges, pesquisadora do InternetLab. "É muito diferente o grau que cada companhia assume e é realmente uma opção: a Uber decide a responsabilidade que tem pelo motorista, o Airbnb pelo hóspede etc. Mas uma vez que você se propõe a intermediar dois pontos, você tem algum grau de comprometimento nessa ligação. Se a ChatPay seguir os exemplos dessas grandes corporações, provavelmente vai ter que assumir uma certa responsabilidade pelo conteúdo desses grupos também."

Outro ponto importante destacado por Borges é a garantia da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), em vigor desde setembro e que tem por objetivo proteger informações pessoais de cidadãos.

"Essa é uma questão que precisa ser olhada com preocupação. A empresa reúne um banco de dados valioso para a publicidade e que pode se tornar público. É preciso assegurar em contrato tanto com os produtores quanto com os assinantes finais como esses dados serão usados. O produtor precisa garantir que não vai pegar essas informações para fazer qualquer outra coisa que não aquilo que foi consentido."

A especialista recomenda, justamente, trazer os produtores para perto da empresa e promover materiais educacionais para que dados não sejam utilizados de forma inadequada.

Para além da consultoria que já presta hoje, a ChatPay diz estar trabalhando em uma vertical de educação para orientar melhor seus gestores, tanto em termos jurídicos como sobre como produzir conteúdo de qualidade e gerar tráfego para suas redes.

"Até hoje não tivemos nenhum problema com nenhum grupo e precisamos barrar poucos de serem criados. Mas vamos ter que adaptar nossos filtros conforme ganharmos escala. Não temos uma responsabilidade legal de monitorar esse conteúdo, mas uma responsabilidade estratégica. Prezamos por ajudar nossos clientes e estamos menos preocupados com o volume do que com a qualidade", conclui Alvarenga.

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