Startups de mulheres combatem desigualdade na África do Sul

Empresárias, principalmente as negras, enfrentam desafio de obter financiamento

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Sarah Smit
África do Sul | The Mail & Guardian

Em 2018, Tlalane Ntuli fundou a Yalu, uma seguradora de vida baseada em Joanesburgo, na África do Sul, por frustração.

Não havia espaço para fazer uma diferença no mundo corporativo, do qual ela fazia parte havia uma década trabalhando como chefe de marketing e crescimento em uma companhia seguradora sul-africana. O setor financeiro, em lenta transformação, também pedia para ser perturbado.

As fundadoras da Yalu, lançada em 2018, foram elogiadas por analistas da indústria por sacudir a jaula do setor de seguros. O seguro de vida a crédito paga pelas dívidas de um cliente se ele não conseguir saldá-la devido a diminuição de renda, deficiência ou morte.

Os fundadores da Yalu ganharam 1 milhão de rands (cerca de R$ 370 mil) em financiamento do setor privado e público, mas, quando o dinheiro acabou, o prestígio não foi suficiente para manter a empresa na luta. A companhia teve de cessar as operações.

Essa é a realidade de muitas startups, especialmente as comandadas por mulheres negras.

"Na minha experiência pessoal, muitas startups que recebem financiamento são lideradas por brancos, sejam financiadas por fundos internacionais, sejam por locais", disse Ntuli.

A empreendedora Tlalane Ntuli, da África do Sul
A empreendedora Tlalane Ntuli, da África do Sul - Paul Botes/Mail & Guardian

Em novembro de 2018, a especialista em capital de risco Lwazi Wali fundou a HerHQ, que visa ser o primeiro mercado social de capitais para empresárias africanas negras, por sua própria experiência aprendendo a formar uma empresa e conseguir o dinheiro para isso.

"Eu descobri que há três gargalos-chave que impedem as mulheres de criar empresas —acesso ao conhecimento, capital e mercados. Acho que veremos muitas mudanças quando as mulheres do continente tiverem acesso a essas coisas", disse ela.

Não faltam boas ideias lá, mas uma boa ideia precisa de dinheiro para ganhar vida. As mulheres, porém, enfrentam barreiras maiores que seus homólogos homens para ter acesso a financiamento para suas startups.

O banco de dados de investimentos Crunchbase descobriu que, embora o financiamento de risco tenha aumentado 4% em 2020, somente 2,3% desse financiamento foi para startups de mulheres, que duplicaram entre 2014 e 2019. Segundo os dados, mais de 800 startups fundadas por mulheres no mundo receberam um total de US$ 4,9 bilhões (R$ 24,7 bilhões) em financiamento de risco em 2020 —uma redução de 27% em comparação com 2019.

Porém, diz Wali, há um longo caminho à frente para a transformação do capital de risco na África do Sul. "Houve uma tração mais perceptível. Mas em termos de mudança sistêmica o capital como instituição não se destina à mulher ou ao africano médio."

Esse também parece ser o caso em outros países. Nos Estados Unidos, a porcentagem do capital de risco total que foi para empresas fundadas por pessoas negras ficou em 3% em 2020, segundo dados do Crunchbase.

Um relatório de 2020 da Extend Ventures, organização que visa democratizar o acesso ao capital de risco, descobriu que os fundadores negros receberam apenas 0,24% dos fundos no Reino Unido.

As mulheres fundadoras receberam só 11% do financiamento de risco no Reino Unido nos últimos dez anos, revelou o relatório. Dominique Collett, executiva de investimentos e diretora da incubadora de fintechs sul-africana AlphaCode, diz que é importante que mais startups fundadas por mulheres e empresários negros decolem, porque elas oferecem soluções para necessidades próprias deles.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

Esta reportagem está sendo publicada como parte do projeto "Towards Equality", uma iniciativa internacional e colaborativa que inclui 15 veículos de imprensa para apresentar os desafios e soluções para alcançar a igualdade de gênero.

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