Descrição de chapéu Financial Times Ásia

Biden proíbe investimento americano em 59 companhias chinesas

Washington tenta impedir Pequim de usar capital dos EUA nas áreas de segurança e tecnologia; Huawei está na lista

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Demetri Sevastopulo
Washington | Financial Times

O governo de Joe Biden decidiu intervir nos investimentos americanos em dezenas de empresas de defesa e tecnologia de vigilância na China, em um esforço para impedir que capital americano seja usado pela China para solapar a segurança nacional dos Estados Unidos.

O presidente Joe Biden assinou nesta quinta-feira (3) uma ordem executiva que proíbe o investimento em 59 companhias, entre as quais grupos chineses importantes como a fabricante de equipamento de telecomunicações Huawei e a Semiconductor Manufacturing International Corporation, maior fabricante chinesa de chips, que os serviços de inteligência americanos dizem ser essenciais para as forças armadas chinesas.

Funcionários importantes do governo americano disseram que a proibição entraria em vigor em 2 de agosto. Mas os investidores estarão autorizados a realizar transações nos próximos 12 meses a fim de liquidar suas posições. Embora os americanos não tenham recebido ordens de vender as ações que detêm nessas companhias, eles não poderão fazê-lo depois que o prazo de um ano expirar.

Biden após comentar sobre a administração do governo durante a pandemia - Carlos Barria/Reuters/File Photo

A ordem executiva proíbe investimento direto em títulos de dívida e ações, e também proíbe americanos de investir em fundos que detenham papéis chineses em seus portfólios.

Um importante funcionário do governo americano diz que a nova ordem executiva sinaliza a intenção do governo de manter e expandir as proibições referentes a companhias do setor de defesa chinês. As proibições, segundo ele, foram direcionadas propositadamente, e seriam um esforço para minimizar os danos para os mercados mundiais.

A proibição representa o mais recente esforço do governo Biden para adotar uma postura cada vez mais dura com a China em todos campos, da repressão chinesa aos uigures às atividades militares agressivas do país no Mar do Sul da China e no Mar do Leste da China. A medida surge antes que Biden embarque para a Europa para participar de uma reunião do GG7 na qual a China será assunto.

O ex-presidente Donald Trump no final do ano passado promulgou uma ordem proibindo investimento em companhias que o Pentágono incluiu em uma lista de grupos suspeitos de conexão com as forças armadas chinesas. Mas a medida causou confusão nos mercados financeiros porque veio acompanhada de pouca orientação sobre como deveria ser implementada. Tribunais americanos decidiram, posteriormente, que o governo não havia oferecido provas suficientes para a inclusão de uma companhia na lista, em determinados casos.

Os funcionários do governo Biden disseram que a ordem executiva do presidente garantiria que a proibição ao investimento tivesse base legal mais firme. Acrescentaram que ela expandiria a ordem de Trump a fim de incluir empresas que desenvolvem tecnologia de vigilância, como a Hikvision, acusada de ajudar a perseguição de Pequim a mais de um milhão de uigures muçulmanos aprisionados em campos de detenção na região de Xinjiang, no noroeste do país.

Entre as companhias afetadas estão também a Aviation Industry Corporation of China, China National Offshore Oil Corporation, China Railway Construction Corporation e China National Nuclear Corporation. A lista também inclui três grandes companhias chinesas de telecomunicações: China Mobile, China Telecom e China Unicom.

“À primeira vista, é uma lista bastante extraordinária de empresas chinesas. O impulso criado pelas sanções do governo anterior nos mercados de capital foi mantido e expandido”, disse Roger Robinson, antigo presidente da comissão de revisão econômica e de segurança EUA-China no Congresso americano, e agora presidente da consultoria RWR Advisory Group.

Ainda na quinta-feira, o Departamento de Defesa americano deve divulgar uma lista atualizada de companhias chinesas conectadas às forças armadas do país, depois que o Congresso solicitou que o departamento preparasse uma lista atualizada a cada ano. Mas o funcionário sênior disse que a lista do Pentágono não influenciaria restrições de investimento delineadas na nova ordem executiva.

O funcionário disse que a lista do Pentágono ofereceria “flexibilidade para comunicar publicamente a uma ampla gama de informações sobre companhias que têm grande variedade de vínculos com partes diferentes do governo chinês”.

A diretiva mais recente oferecerá esclarecimentos aos investidores, bolsas e provedores de índices que se viram apanhados no fogo cruzado entre a linha dura quanto à China no governo Trump e a liderança do Departamento do Tesouro, no ano passado.

Em dezembro e janeiro, provedores de índices excluíram ações de empresas chinesas vinculadas às forças armadas de seus índices. Nos primeiros dias de 2021, a Bolsa de Valores de Nova York anunciou que removeria de seu pregão as ações da China Mobile, China Telecom e China Unicom. Depois, recuou e manteve.

Por fim, teve de remover as três companhias depois de ser pressionada pelo governo Trump, o que incluiu intervenção do então secretário do Tesouro Steven Mnuchin. Plataformas financeiras como a da Bloomberg agora fazem alertas explícitos a investidores americanos quando eles buscam operar com títulos sujeitos a sanções.

Tradução de Paulo Migliacci

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