Descrição de chapéu Lojas Americanas

Americanas fecha Submarino e Shoptime, líderes do comércio eletrônico dos anos 2000

Varejista enfrenta crise depois que veio à tona escândalo contábil de R$ 25,3 bilhões

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São Paulo

A varejista Americanas, em recuperação judicial, anunciou nesta terça-feira (2) o fim dos sites Submarino e Shoptime, que faziam parte do grupo. Segundo a empresa, serão incorporados à Americanas.com a base de clientes e o estoque desses sites, que já chegaram a ser os mais importantes do país nos primórdios do comércio eletrônico brasileiro, no início dos anos 2000.

"Americanas informa que a integração dos sites e apps do Shoptime e do Submarino tem como objetivo fortalecer o digital da companhia a partir da marca Americanas. A decisão contemplou o alinhamento com a nova estratégia de negócios, que foca em uma operação mais ágil, rentável e eficiente para oferecer uma experiência de compra ainda mais completa", informou a empresa, em comunicado.

Desde que vieram à tona as fraudes contábeis de R$ 25,3 bilhões nos balanços da companhia, a empresa entrou em recuperação judicial com dívidas de mais de R$ 42 bilhões. Os balanços da varejista foram fraudadados até o terceiro trimestre de 2022, para inflar os resultados, uma prática adotada pela antiga diretoria, então capitaneada pelo CEO Miguel Gutierrez.

print de tela em que se lê Submarino R$ 10 off
Página principal do Submarino avisa consumidores que site passará a ser Americanas - Reprodução

"É com a animação lá em cima que, após anos de sucesso no Brasil, o Submarino anuncia que somará suas forças com a Americanas para tornar a sua jornada de compra em livros, games, tecnologia e mais categorias hardcore ainda mais incrível!", diz mensagem no site.

"Submarino e Shoptime foram marcas muito importantes na história do comércio eletrônico no Brasil e, no caso do Shoptime, também na história da venda direta", diz o consultor Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail. "O Submarino foi, por sinal, o grande rival da Americanas na primeira metade dos anos 2000. Começou com livros, teve uma trajetória parecida com a da Amazon."

O Submarino surgiu em 1999, a partir da associação entre os empresários Antônio Bonchristiano, Marcelo Ballona e Flávio Jansen, que compraram uma das primeiras e maiores livrarias virtuais da época, a Booknet, que já tinha 50 mil clientes cadastrados.

O fundo GP Investimentos apoiou a criação da empresa, que também lançou operações na Argentina, México e Espanha. No início, eram livros, CDs e brinquedos.

Em dezembro de 2006, o Submarino anunciou a fusão com a Americanas.com, criando a líder no segmento de vendas on-line no mercado brasileiro. As empresas estavam sob a gestão da B2W, companhia que concentrou os ativos digitais do grupo Americanas e foi comandada por Anna Christina Saicali, executiva envolvida na fraude contábil.

Já o Shoptime nasceu em 1995, inspirado no canal americano Home Shopping Network, com a proposta de unir venda de produtos e entretenimento. A dona era a antiga operadora Globosat, que pertenceu à Globo. No começo, vendia seus produtos só pela televisão, por meio de um catálogo.

Em 1997, ingressou no comércio eletrônico, com a oferta de produtos de cuidados pessoais, utilidades domésticas, cama, mesa e banho, informática, lazer, jogos e eletrônicos. Foi comprado pela Americanas em agosto de 2005 e, assim como o Submarino, passou a integrar a B2W.

"Hoje, o popular live commerce, a venda ao vivo pelas redes sociais, é uma junção do que se fazia no Shoptime, com a operação dos marketplaces", afirma Serrentino.

Ao longo do tempo, Submarino e Shoptime foram sendo "desidratados" dentro da Americanas, que fez da Americanas.com a marca mais forte, diz o especialista. "A B2W até manteve investimentos de marketing em Submarino e Shoptime durante algum tempo, brigando pelo consumidor com a Americanas.com. Mas logo o grupo escolheu qual seria a sua marca mais forte", afirma.

Na opinião do publicitário Alexandre Peralta, as duas marcas desempenharam papéis cruciais na construção da história da internet no Brasil. "Submarino foi uma das pioneiras a estimular o hábito de compras online entre os brasileiros, em uma época em que essa prática ainda era vista com desconfiança", diz ele. "Por sua vez, o Shoptime conseguiu migrar com sucesso seu público da televisão para o ambiente digital, contribuindo de maneira significativa para a massificação do e-commerce."

Ambas também impulsionaram o aumento do tráfego de dados, elevando tanto a capacidade da internet quanto das operadoras para suportar essa demanda crescente, diz o dono da agência Peralta Creatives. "Submarino e Shoptime tiveram ainda um impacto no desenvolvimento da indústria do marketing digital, diante da necessidade de chamar a atenção das pessoas para os sites. Tiveram uma influência marcante no modelo de campanhas e até de negócios, uma vez que aceleraram o processo de digitalização das agências de propaganda."

No começo de 2022, os marketplaces Americanas.com, Submarino e Shoptime foram alvo de um ataque hacker, que gerou prejuízos da ordem de R$ 100 milhões ao dia à empresa.

A Americanas segue em crise. Na reapresentação do balanço de 2022, em novembro do ano passado, já sob a nova administração, a empresa apresentou prejuízo de R$ 12,9 bilhões, uma alta de 108% em relação às perdas de R$ 6,2 bilhões registradas em 2021. O último balanço divulgado da companhia, referente aos nove primeiros meses de 2023, apontam prejuízo de R$ 4,6 bilhões no período.

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